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Chacina na Ilha: réus são ouvidos e devem ir a júri popular ainda em 2022

Chacina na Ilha: réus são ouvidos e devem ir a júri popular ainda em 2022

Os quatro apontados como responsáveis pelo crime prestaram depoimento em juízo. Foram acusados pela execução de quatro jovens, outros dois ficaram feridos. As vítimas foram confundidas com rivais de um grupo criminoso de Cariacica

Publicado em 5 de maio de 2022 às 18:28

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Quatro homens foram assassinados na Ilha do Américo, em Santo Antônio
Chacina na Ilha: resgate dos corpos feito pelos bombeiros. (Fernando Madeira)

Os quatro acusados pelo crime que ficou conhecido como Chacina na Ilha foram ouvidos pela Justiça estadual na última quarta-feira (04). A expectativa agora é de que o julgamento seja realizado ainda este ano. O crime aconteceu em 28 de setembro de 2020. Quatro jovens foram mortos e outros dois ficaram feridos.

Das seis pessoas inicialmente apontadas como as responsáveis pelos assassinatos e tentativas de homicídio, quatro foram denunciadas pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES). São eles:

  • Felipe Domingos Lopes, vulgo “Cara de Boi” ou “Boizão”, de 22 anos, apontado como o responsável pela ordem do crime, além de ser o primeiro a atirar contra as vítimas. Foi preso em 26 de outubro.
  • Victor Bertholini Fernandes, de 19 anos. Ele foi apontado nas investigações da polícia como sendo um dos executores do crime. Foi preso em  28 de janeiro deste ano.
  • Werick Santana dos Santos da Silva, vulgo Mamão, de 18 anos, foi o responsável por pilotar o barco, além de ser um dos executores, segundo a polícia. Foi preso no dia 3 de outubro.
  • Adriano Emanoel de Oliveira Tavares, vulgo “Balinha” ou “Da bala”, de 22 anos. Apontado como coautor do crime. Foi preso no dia 2 de outubro.

Dos quatro, Victor Bertholini Fernandes, 20 anos, era o único que ainda estava foragido. Ele foi preso no dia 29 de janeiro deste ano, no bairro Porto de Santana, em Cariacica, por policiais militares que faziam um patrulhamento. Eles contaram ainda com a participação nos atos criminosos de um menor.

Victor Bertholini Fernandes, Felipe Domingos Lopes, Adriano Emanoel de Oliveira Tavares  e Werick Santana dos Santos da Silva - acusados pelo crime
Victor Bertholini Fernandes, Felipe Domingos Lopes, Adriano Emanoel de Oliveira Tavares e Werick Santana dos Santos da Silva . (PCES)

Na audiência em que os quatro acusados foram ouvidos em juízo, Victor negou a participação no crime. Adriano e Felipe decidiram permanecer em silêncio, mas no processo há depoimentos deles prestados à polícia onde confessaram o crime. Já Werick optou por confessar a sua participação, sem citar o nome dos demais envolvidos.

No dia também foi ouvido o depoimento da delegada Larissa Lacerda. “Foi um depoimento muito bom, que imputou a autoria do crime a todos eles. A nossa expectativa é de que o julgamento seja realizado ainda este ano”, informou o promotor Rodrigo Monteiro.

Em decisão, a juíza da Primeira Vara Criminal, Lívia Lage, deu prazo de cinco dias para a apresentação dos argumentos finais e na sequência dará a sua sentença.

Vitor da Silva Alves 19 anos (de boné), Wesley Rodrigues de Souza, de 29 anos (roupa laranja); Yuri Carlos Souza Silva, 23 anos (roupa vermelho) e Pablo Ricardo Lima, 21 anos
Mortos: Vitor da Silva Alves 19 anos (de boné), Wesley Rodrigues de Souza, de 29 anos (roupa laranja); Yuri Carlos Souza Silva, 23 anos (roupa vermelha) e Pablo Ricardo Lima, 21 anos. (Reprodução/Facebook)

O DIA DO CRIME

O crime aconteceu em 28 de setembro de 2020, na Região de Santo Antônio, Vitória, na Ilha Doutor Américo de Oliveira. Quatro jovens foram mortos e outros dois ficaram feridos, mas conseguiram fugir. Foram assassinados os amigos:

  • Wesley Rodrigues de Souza, 29 anos
  • Yuri Carlos de Souza, 23 anos
  • Victor da Silva Alves, 19 anos
  • Pablo Ricardo Lima, 21 anos

As vítimas aproveitavam o dia de praia na Ilha Doutor Américo Oliveira, localizada na Baia de Vitória, próximo ao bairro Santo Antônio. Na outra margem, fica o bairro Porto de Santana, já em Cariacica. O local é um ponto usado por moradores das duas localidades para diversão e passatempo.

O grupo foi surpreendido por cinco homens, incluindo o menor, que fizeram uma emboscada contra os jovens. Uma sexta pessoa, que passou a informação, não retornou ao local. Na ilha, foram mortos os amigos Wesley, Yuri , 23 anos e Victor, 19 anos. Pablo, 21 anos, chegou a ser socorrido, mas morreu no Pronto Atendimento de São Pedro. Outros dois jovens, mesmo feridos, conseguiram escapar após os tiros e fuga dos assassinos.

JOVENS CONFUNDIDOS COMO MEMBROS DE FACÇÃO CRIMINOSA

As mortes foram consequência das constantes disputas do tráfico de drogas. Os jovens foram confundidos com integrantes da facção Primeiro Comando de Vitória (PCV), com sede no Bairro da Penha, na Capital. O grupo criminoso conta com ramificações em outros bairros e cidades do Espírito Santo. As vítimas foram assassinadas pelos rivais do PCV, que atuavam no Morro do Quiabo, em Cariacica, facção conhecida como Associação Família Capixaba (AFC).

As investigações da Polícia Civil apontaram que o crime foi cometido de forma cruel, com as vítimas subjugadas por mais de meia hora, sob a mira de armas de fogo, com ameaças de morte. Os jovens foram interrogados, filmados, e fotografados. Seus celulares foram roubados e vasculhados, antes de eles serem alvejados. O crime foi divulgado pelas redes sociais:

Segundo a denúncia do MPES,  Adriano chegou a ligar para um dos contatos da agenda telefônica do celular da vítima Pablo, e em tal ligação, perguntou  a quem atendeu se as vítimas “fechavam” com o “Trem Bala”. Recebeu  um não como resposta,  que as vítimas eram trabalhadoras e não faziam parte da tal facção.

"No entanto, a despeito de tal informação, os denunciados Felipe, Victor e Werick, e o menor, efetuaram os disparos de arma de fogo em desfavor das vítimas, tendo permanecido na contenção o denunciado Adriano, que também estava armado", relata o texto da denúncia.

O MPES apontou ainda na denúncia que "o delito foi cometido por meio cruel, na medida em que a vítimas permaneceram subjugadas pelos seus algozes por mais de 30 (trinta) minutos, sofrendo, a todo tempo, ameaças e pressão psicológica, impingindo-se àquelas demasiado e desnecessário sofrimento".

Sobre o  modo de execução, é informado ainda que ele dificultou a defesa das vítimas,  que foram surpreendidas pelos executores, que já sabiam a sua localização exata, tendo sido executadas quando já estavam subjugadas.

A DEFESA DOS ACUSADOS

Os advogados de defesa dos quatro acusados pelo crime, citados nesta matéria, não foram localizados, nem mesmo a do suspeito que ainda está foragido.

Perícia da Polícia Civil volta à Ilha do Américo(Fernando Madeira)
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