Um coletor de lixo acusa agentes penitenciários da Penitenciária Semiaberta de Cariacica de abuso de autoridade e agressão física. O caso aconteceu no dia 8 de outubro. O profissional da limpeza chegou a ser algemado e levado para a delegacia.
Segundo o coletor, de 25 anos, ele e mais outros dois profissionais de limpeza estavam recolhendo o lixo dentro da penitenciária e cantavam enquanto cumpriam a função. Os agentes pediram aos profissionais que parassem de cantar, o que foi atendido pelos coletores, de acordo com o jovem. Colegas de trabalho do coletor gravaram um vídeo em que o coletor aparece algemado. Veja abaixo:
Mesmo após os coletores atenderem ao pedido e ficarem em silêncio, o coletor de 25 anos relata que os agentes agiram com truculência e mandaram os trabalhadores entregarem os documentos, chegando a mostrar a arma. O coletor, então, questionou a postura dos agentes. "Perguntei porque eles estavam tratando a gente daquele jeito já que somos trabalhadores. Estávamos cantando como sempre cantamos enquanto trabalhamos, mas assim que eles pediram, paramos. Parecia que a gente era presidiário", lembra o coletor, que pediu para não ser identificado.
O jovem acredita que, por questionar a forma como os agentes atuaram, ele foi o único dos coletores que foi detido. Ele, porém, nega que tenha desacatado os inspetores. "Não xinguei e nem neguei a cumprir a ordem de parar de cantar. Não houve desacato, apenas disse que não somos bandidos para sermos tratados daquele jeito".
Segundo o coletor, um dos agentes aplicou o golpe conhecido como gravata nele e jogou os braços do profissional de limpeza para trás para algemá-lo.
"Ele me botou no camburão da viatura da Sejus e me levou algemado. Fui chorando porque nunca passei por isso. Talvez pelo fato de eu ter tatuagem ele pode ter me olhado com preconceito. Disse que eu era um merda, um bosta. Fiquei muito mal", desabafou o coletor.
O jovem, que mora em Cariacica, foi levado para a Delegacia Regional de Cariacica e disse que foi colocado na cela do local, por mais de duas horas, com criminosos. "O delegado nem me ouviu direito e já mandou me colocar nessa cela", reclamou.
Após a chegada do representante da empresa de coleta de lixo, o profissional de limpeza foi liberado da delegacia. O jovem fez um exame de corpo de delito no Departamento Médico Legal, em Vitória, que indicou que o coletor apresentava "escoriações lineares com cerca de 3 cm em região cervical esquerda e com cerca de 1 cm em punho esquerdo". O exame ainda apontou que houve "ofensa à integridade corporal ou à saúde" do coletor por "ação contundente".
Abalado, o coletor acionou o sindicato que representa os trabalhadores em limpeza do Espírito Santo, o Sindilimpe-ES. O sindicato, afirmou, em nota, que repudia veementemente as agressões sofridas pelo trabalhador, durante o exercício das suas funções, e que adotará todas as providências legais contra os suspeitos e o Estado.
Sobre o caso, a Polícia Civil diz que o delegado entendeu que não existiam elementos suficientes para lavrar uma prisão em flagrante contra o coletor, por isso, liberou o jovem. O procedimento foi encaminhado para o 15º Distrito de Polícia de Cariacica, que vai investigar os fatos.
"Em relação ao atendimento, a Polícia Civil informa ainda, que qualquer cidadão que se sinta prejudicado com atendimento realizado pela polícia, pode se encaminhar à Corregedoria e formalizar a denúncia, para que o caso seja analisado", justificou a Polícia.
Já a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), responsável pelo sistema prisional capixaba, diz que o coletor não acatou o pedido para que se fizesse silêncio no presídio. De acordo com a pasta, inspetores da Penitenciária Semiaberta de Cariacica advertiram a equipe que realizava a coleta de lixo dentro da unidade prisional sobre o barulho causado no local, o que não é permitido por se tratar de uma unidade de custódia. O pedido, segundo a secretaria, não foi acatado por parte de um deles que teria também desacatado inspetores penitenciários. A corregedoria da Sejus afirma que vai acompanhar o caso.
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