Nos últimos meses, muito tem se falado sobre a Favelinha do Ibes, em Vila Velha, devido a sequentes e frequentes episódios de violência, com ataques a tiros, mortos e feridos, promovidos pela disputa do tráfico de drogas. Em uma das investidas de criminosos foram registrados mais de 40 tiros. De setembro até agora, pelo menos oito ataques ocorreram na área: cinco pessoas morreram e cinco ficaram feridas. Mas, afinal, o que está motivando os conflitos na região?
Segundo as investigações da Polícia Civil e do setor de inteligência da Polícia Militar, traficantes de grupos rivais ao da Favelinha do Ibes podem ter "crescido os olhos" na região após a fuga e e posterior prisão de Luan Resende Buarque, o Luanzinho, que comandava a venda de drogas nos bairros Ibes, em em partes de Itapuã e Boa Vista.
Ele foi capturado em uma operação no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, em uma grande operação policial que terminou com mais de 20 suspeitos presos, cinco pessoas mortas e fuzis, pistola, granada e mais de meia tonelada de maconha apreendidos.
Em entrevista à reportagem, o delegado Tarik Souki explicou que, ao se esconder no Rio de Janeiro, o comando de Luan nos bairros de Vila Velha estremeceu. Afinal, de longe, a comunicação fica mais difícil: foi aí que os primeiros ataques começaram. Tudo piorou com a prisão dele, momento em que os rivais viram uma chance de tomar o território na Favelinha do Ibes.
"Luan é investigado pela nossa delegacia por vários homicídios, inclusive foi preso por um no final de 2021, mas foi colocado em liberdade no início de 2022. Continuamos trabalhando e conseguimos outro mandado de prisão dele com relação ao narcotráfico exercido na Favelinha do Ibes. Foram expedidos mandados contra ele e mais oito pessoas do grupo dele. Sabendo disso, ele voltou a se esconder no Rio de Janeiro e foi preso no Complexo da Maré nessa operação", explicou o delegado, que é titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha.
Apenas três dias após a prisão de Luan, em 29 de setembro, dois jovens de 18 e 23 anos morreram e uma mulher de 26 anos ficou ferida após um ataque a tiros na Favelinha. As três vítimas eram amigas e estavam conversando na rua quando foram baleadas. Segundo testemunhas, dois bandidos chegaram atirando, assustando a todos. Jordan Machado Louzada, de 23 anos, morreu na hora com 19 perfurações pelo corpo. Guilherme de Souza Soares, de 18 anos, morreu no hospital. Ele teve 14 perfurações. A mulher de 26 anos foi atingida nas pernas.
Para o Comandante da Companhia de Força Tática do 4º Batalhão da Polícia Militar, capitão Couto, ainda não está claro quais são os grupos que querem tomar o poder, se facções de Santa Mônica ou Boa Vista, embora haja uma certeza: toda a tensão que envolve ataques na região busca a hegemonia do tráfico na Favelinha do Ibes.
No dia 18 de outubro, um homem de 20 anos foi executado a tiros pela manhã no meio da rua na Favelinha do Ibes. Dois dias depois, mais uma morte foi registrada na localidade.
Em 26 de outubro, mais um caso que aterrorizou os moradores: bandidos chegaram de carro e atiraram mais de 40 vezes na direção de uma mulher. Ela foi atingida por três disparos. Pelo menos quatro criminosos participaram do ataque. De acordo com a polícia, a mulher baleada era o alvo dos suspeitos. A corporação disse que ela fazia uso de entorpecentes quando foi atingida.
Após os tiros, os bandidos abandonaram o carro usado no ataque no bairro Boa Vista II. Em seguida, ainda roubaram o veículo de um mecânico que estava no local. "Eles chegaram em um Renault Clio, pararam do outro lado da rua, um deles saiu e veio apontando a arma para mim. A mão e a arma tremendo, ele estava nervoso com o olho arregalado", disse a vítima à época.
Outro episódio que chamou a atenção na região aconteceu em 11 de novembro, quando um homem de 23 anos foi baleado e protagonizou uma situação no mínimo surpreendente: ele foi dado como morto pela equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu/ 192) mas, após a chegada da perícia da Polícia Civil, foi descoberto que ele ainda estava vivo.
Em 12 de novembro ocorreu um dos casos que mais teve repercussão na Favelinha do Ibes: criminosos armados gravaram um vídeo disparando contra casas. Na gravação, é possível ver pelo menos quatro suspeitos (confira abaixo).
Na madrugada desta terça-feira (29), criminosos invadiram uma casa e mataram uma mulher a tiros na Favelinha do Ibes. Durante o ataque, dois homens também foram baleados. Segundo a Polícia Militar, testemunhas contaram que três suspeitos chegaram armados e realizaram vários disparos. Um dos feridos, que levou um tiro de raspão na cabeça, fugiu do local. O outro homem e a mulher foram socorridos pelo Samu, mas ela não resistiu aos ferimentos de bala e acabou morrendo. O nome da vítima assassinada não foi divulgado.
Tem um motivo para a Favelinha do Ibes ser tão visada pelas organizações criminosas: a região é altamente lucrativa para o tráfico de drogas. "Eles traficam na Favelinha e, por incrível que pareça, na pracinha do Ibes. Lugar com quadra, relativamente bem iluminado, e são ousados a ponto de traficarem ali. A praça é muito movimentada, e a Favelinha também", pontuou o delegado Tarik.
Os conflitos envolvendo a guerra do tráfico não acontecem apenas dentro da Favelinha do Ibes. No início do mês, por exemplo, os rivais da Favelinha e de Boa Vista foram trocar tiros em Cocal, também Vila Velha, e terminaram no bairro Residencial Coqueiral.
Os suspeitos estavam em dois carros quando trocaram tiros. Nos veículos, posteriormente abandonados, havia marcas de mais de 30 disparos de arma de fogo.
Na verdade, a região conhecida como Favelinha do Ibes fica no limite entre os bairros Ibes e Jardim Guadalajara. "Quando você pega a rua para entrar na Favelinha do Ibes, é de fato o bairro Ibes. Mas em alguns pontos, se você jogar na geolocalização, também sinaliza como bairro Jardim Guadalajara", detalhou o capitão Couto, comandante da Companhia de Força Tática do 4º Batalhão da PM.
Para tentar frear esses conflitos, a PM atua com as equipes fazendo ronda no local e também com a Força Tática. Em 30 dias (meados de outubro a novembro), sete armas foram apreendidas e cinco suspeitos foram presos na Favelinha do Ibes. "A gente não para de fazer saturação e abordagem, juntamente com a questão da inteligência", afirmou o capitão Couto.
Um dos seguranças do tráfico da região foi preso no dia 13 de novembro, portando arma e munição. De acordo com a polícia, o suspeito de 35 anos tem passagens por tráfico, porte de armas e também responde por homicídio.
"Estamos trabalhando para identificar esses narcotraficantes que estão efetuando os ataques, identificar quem são as lideranças locais que estão à frente agora, substituindo o Luan e também os rivais, além de apurar os homicídios e tentativas que têm ocorrido. Nosso foco é esse", finalizou o delegado Tarik.
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