> >
Como a polícia do ES mudou rol de novas drogas proibidas no Brasil

Como a polícia do ES mudou rol de novas drogas proibidas no Brasil

Após identificação de bromazolam no organismo de um homem encontrado morto em um motel na Serra, polícia acionou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

Publicado em 20 de abril de 2023 às 19:45

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Bromazolam: como a polícia do ES mudou rol de novas drogas proibidas no Brasil
Peritos, médica e delegado explicaram a importância da identificação da substância. (Divulgação | Polícia Civil)
Júlia Afonso
Repórter / [email protected]

A descoberta de bromazolam no organismo de um DJ encontrado morto na Serra fez com que, desde dezembro, a substância entrasse para a lista de proibidas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na prática, isso significa que, agora, quem for flagrado com a droga no Brasil pode ir preso por tráfico. 

A substância não é comercializada em nenhum local do mundo, mas os criminosos conseguem obter por meio de laboratórios clandestinos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Center for Forensic Science Research & Education (CFSRE) emitiu um alerta, em junho do ano passado, direcionado para a saúde pública, laboratórios e médicos, relatando que no ano de 2022 casos envolvendo a substância aumentaram de forma expressiva: de 2019 a junho de 2022, 236 óbitos com o envolvimento do bromazolam foram registrados no país.

Como tudo começou

O homem de 37 anos que morreu em um motel na Serra não tinha sinais de violência no corpo, e, no local do óbito, havia indícios do uso de substâncias ilícitas. A partir disso, levantou-se a hipótese de uma intoxicação. O corpo foi encaminhado ao Departamento Médico Legal (DML), onde a médica legista Ana Paula Knak fez a necropsia do cadáver, coletando sangue, urina e conteúdo estomacal para enviar ao laboratório.

"Identificamos a substância na amostra que foi encaminhada pela medicina legal, e para nós, foi uma novidade, porque era uma substância que até então nunca tínhamos identificado no laboratório de toxicologia", pontuou a perita Daniela de Paula, chefe do Departamento de Laboratórios Forenses.

Como não havia relatos dessa substância por aqui, os peritos do Espírito Santo começaram a pedir ajuda das polícias de outros Estados, tanto Civil quanto Federal, mas ninguém tinha apreendido algo do tipo.

A partir daí, eles buscaram parcerias de universidades para confirmar o que era a substância encontrada. "Para que a gente pudesse definir este caso, foi importante a participação do professor José Luiz da Costa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pois lá ele tinha o padrão dessa substância, importante para que a gente possa fazer a comparação. Utilizando isso, foi possível concluir e definir quanto tinha no organismo daquele indivíduo", detalhou Daniela.

Após a descoberta

No organismo do homem morto, conforme os exames, havia álcool, sertralina, viagra, cocaína e bromazolam. Sabendo disso, a perícia concluiu que a substância estava relacionada e contribuiu para esse óbito, se tornando o primeiro caso registrado aqui no Brasil.

Aspas de citação

O que a gente sabe é que não é uma substância de uso terapêutico para tratar doença nem nada do tipo. Não é comercializada no mundo. E geralmente ela não é encontrada nas vítimas de forma isolada, com o uso sozinho, e também foi o caso dessa vítima da Serra: não tinha só isso na corrente sanguínea dele, então não dá para afirmar que foi somente o bromazolan que causou esse óbito, mas ele contribuiu

Ana Paula Knak
Médica legista
Aspas de citação

Rol das substâncias proibidas

Com a descoberta da morte e outras apreensões que aconteceram logo em seguida, a perícia do Espírito Santo comunicou o perigo para a Anvisa, responsável por realizar a listagem das substâncias proibidas e que têm um controle especial no nosso país.

O comunicado foi feito em novembro, e, em dezembro, o bromazolam entrou para a lista, segundo a perita Daniela. "Até aquele momento (antes de estar na lista), o bromazolam, se fosse pego com um traficante, não seria considerado tráfico. Acho que foi essa a contribuição que o Espírito Santo deu, porque permite que, agora, as apreensões já sejam caracterizadas como tráfico de drogas", afirmou.

Detalhes das outras apreensões

Dois dias depois da morte do homem no motel, 3.596 selos contendo um pó foram encontrados com um suspeito em Guarapari. Ele estava com outras drogas, por isso acabou preso. Os selos foram encaminhados para a perícia no dia 20 de julho e aí, juntamente com pesquisadores da Unicamp e da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), descobriram que se tratava do bromazolam.

Bromazolam: ES registra primeira morte pela nova droga no Brasil
Droga é comercializada em um selo, e usuários colocam embaixo da língua para consumir. (Divulgação | Polícia Civil)

E não parou por aí: em outubro teve mais apreensão, mas de pouca quantidade, na Praia da Costa, em Vila Velha. Em fevereiro deste ano, outra pequena quantidade foi achada com um suspeito em Guarapari.

Como a droga é usada

O perito Victor da Rocha Fonseca, do Laboratório de Química Forense, explicou como as pessoas vêm usando a nova droga aqui no Brasil. Ele comentou que, no exterior, as pessoas comercializam no formato de pó ou comprimido. Nas amostras encontradas no Espírito Santo, elas vieram de forma diferente, em selos.

"São selos em papel. Desses selos, são extraídos pequenos selos e a pessoa faz a ingestão sublingual. Eles colocam esse papel em contato com a mucosa, embaixo da língua, vai ter a absorção da substância que vai ser direcionada à corrente sanguínea", relatou o perito.

Quais os efeitos?

Segundo os especialistas, o bromazolam é da mesma classe de medicamentos como Rivotril e Clonazepam, depressores do sistema nervoso central. Os efeitos são de sedação, sonolência, diminuição visual e relaxamento muscular. Mas também pode levar à parada cardiorrespiratória.

Como é uma substância nova, os perigos são grandes, já que não se sabe exatamente como ela se comporta e nem quais quantidades são as mais prejudiciais.

O que diz a Anvisa | Nota na íntegra

"Não existe medicamentos registrado no Brasil com a substância Bromazolam. Isso significa que o produto não está autorizado para uso no país.

O Bromazolam é uma substância de controle especial. A substância foi incluída na lista de B1 (Lista de Substâncias Psicotrópicas) em 1/12/2022. As substâncias controladas pela Portaria SVS/MS 344/1998 também se enquadram no conceito de drogas, estabelecido pela Lei nº 11.343/2006.

O processo de atualização da lista de substâncias controladas é um processo contínuo da Anvisa, que tem a responsabilidade de atualizar as listas de produtos sujeito à controle especial e regulamentar a cadeia legal de medicamentos. 

O combate a produtos clandestinos ou drogas ilícitas cabe aos órgãos policiais."

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais