As investigações das mortes dos irmãos Kauã Salles Butkovsky, de 6 anos, e Joaquim Salles Alves, de 3 anos, foram concluídas em apenas 32 dias. Em um trabalho conjunto entre Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e a Polícia Técnico-Científica, cinco perícias foram realizadas e ajudaram a montar o quebra-cabeça do crime.
Através dos exames, os peritos encontraram sangue na casa onde aconteceu o incêndio, além de um combustível que acelerou as chamas. Superintendente de Polícia Técnico-Científica (SPTC), o perito oficial criminal Renato Koscky Júnior conta como são realizadas essas perícias e fala da importância de usar a tecnologia para solucionar crimes.
Como é feita a perícia com o luminol, que encontra vestígios de sangue?
Na verdade, agora usamos outro produto, chamado blue star. É um reagente químico que reage com o ferro na hemoglobina do sangue. O perito mistura esse reagente, borrifa em superfícies no local do crime, e o produto age na hemoglobina com luminescência em um ambiente escuro. Apos isso, o ambiente é fotografado. Para essa análise no local, é preciso que o perito tenha experiência, pois assim consegue interpretar respingo, borrão e jorrada de sangue.
Analisando a possível presença de sangue, o material é coletado, trazido ao laboratório para comprovar se é mesmo sangue humano, e após comprovado esse material é levado ao laboratório de DNA para ser comparado com a genética da vítima ou do autor do crime. É um reagente bastante interessante em crimes onde há violência.
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Para fazer perícias como essas, é preciso ter bons equipamentos?
Quanto mais aparato tiver no laboratório, mais conseguimos trabalhar para a solução do crime. Para isso, são necessários diversos equipamentos de ponta. E, a todo momento, temos de adquirir novos equipamentos para resultados de ponta.
Com eles, conseguimos identificar materiais sugestivos coletados em locais de crimes (que são os materiais biológicos, como sangue, saliva e sêmen, além de equipamentos como celular, computador para os quais usamos extratores de dados).
No caso de uma cena de crime onde houve um incêndio, ainda é possível encontrar vestígios de sangue?
Em um local de incêndio, ainda podemos coletar e encontrar vestígios de sangue, sim. Nós também procuramos coletar material de combustão, algum acelerador, para descobrir a causa do incêndio (se foi acidental ou provocado). Para isso, é preciso observar o possível local do incêndio.
A perícia ajuda a interpretar a cena do crime. É preciso ter experiência para borrifar o reagente nos locais mais propícios, por exemplo.
No caso de aceleradores e produtos químicos, nosso trabalho é coletar objetos e também as substâncias com algodão e swab (um tipo de cotonete estéril para coletar amostras), para levar ao laboratório e analisar. Assim, identificamos se foram usados produtos como gasolina, querosene, álcool e outros. Coletamos os materiais para tentar identificar a presença de acelerador combustível.
Nos corpos das vítimas também são feitas várias análises para chegar ao autor do caso e para fazer a identificação da vítima.
Além das tecnologias, o que mais é preciso para fazer uma boa perícia?
A expertise do perito é que vai identificar, no local do crime, que tipo de material ele vai coletar, que tipo de análise ele vai fazer para encontrar os materiais necessários para entender a dinâmica do crime. O conjunto da perícia é que vai trazer os resultados.
Então as perícias ajudam a nortear as investigações?
Tudo isso vai nortear a autoridade policial para uma conclusão dos trabalhos investigatórios. A perícia está presente nas duas fases da investigação: na percepção e na processual. Vamos embasar não só o delegado, como também o juiz em sua sentença. O ideal é a gente conseguir dizer como ocorreu o fato, traçar a dinâmica e até identificar o autor do crime. O trabalho de investigação é casado com a perícia.
Como é solicitado o trabalho da perícia?
Ao tomar conhecimento de um crime ou um acidente, a autoridade policial solicita a equipe de perícia, que vai até o local, faz os exames e os levantamentos, e traz os vestígios coletados para os laboratórios, que fazem os respectivos exames e vão embasar o trabalho do perito no local. Todo esse trabalho é entregue posteriormente à autoridade policial
A Polícia Técnico-Científica é composta pelos departamentos de investigação, criminalista, médico legal e forense. No caso Kauã e Joaquim, atuaram mais de 15 peritos, por exemplo.
À medida que coletamos os materiais na cena do crime ou do acidente, vamos trabalhando com um perito especializado, que pode ser um químico, físico, engenheiro, entre outros. Cada vez mais os casos requerem equipes mais especializadas
E essa tecnologia, a compra desses equipamentos, de softwares, mostram que a perícia é uma atividade cara, porque precisa trabalhar com tecnologia de ponta.
> KAUÃ E JOAQUIM | 1 ano depois: A cobertura completa
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