Foi preso na noite de sábado (19) o último condenado pelo assassinato de uma família, em Guarapari, durante uma partida de RPG — jogo em que participantes interpretam personagens — em 2005. Mayderson Vargas Mendes estava foragido desde 2013 e foi detido durante uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no Rio de Janeiro. Ele e Ronald Ribeiro Rodrigues foram condenados pelo crime a 65 anos de prisão, em regime fechado.
Os dois jovens, que na época do assassinato tinham 21 e 22 anos, foram condenados por triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe, que seria um jogo de RPG, e impossibilidade de defesa das vítimas, que foram amordaçadas, amarradas e dopadas antes de serem mortas com um tiro na cabeça. Foram ainda condenados por furto, por terem levado objetos da casa das vítimas
Ronald deixou o Tribunal do Júri, realizado em Guarapari, em 27 de junho de 2019, preso e algemado. Mayderson não compareceu ao julgamento e estava foragido. Os dois chegaram a ser presos após o crime, mas foram soltos três anos depois.
O caso teve grande repercussão na imprensa na época. O motivo teria sido um jogo de RPG (Role-Playing-Game), em que o filho morto também estava participando.
Mayderson foi preso pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Rio de Janeiro, às 19h40 de sábado (19), na BR 101, no Km 27, em Campos dos Goytacazes.
Segundo informações da PRF, os policiais estavam na região e desconfiaram das atitudes dos ocupantes de um Toyota Corolla. Durante a abordagem e checagem dos passageiros, os policiais observaram que um dos ocupantes tinha contra ele um mandado de prisão em aberto.
Ao consultarem a Polícia Civil do Espírito Santo, identificaram que o registro de ocorrência era relativo ao crime de uma família em Guarapari. Mayderson foi então conduzido para a Delegacia de Campos, onde permanecerá detido até que haja uma determinação da Justiça capixaba para que ele possa ser transferido para um presídio capixaba.
Pai, mãe e filho foram mortos no dia 26 de abril de 2005, na Praia do Morro, em Guarapari. As vítimas eram o aposentado Douglas Augusto Guedes, de 52 anos, a esposa dele, Heloísa Helena Guedes, de 42 anos, e o filho do casal, Thiago Andrade Guedes, de 22 anos.
Thiago era amigo dos acusados e também participava da partida, segundo o Ministério Público do Espírito Santo (MPES). Por volta das 20h30, Mayderson e Ronald estavam na casa da família e, depois de amarrarem as mãos das vítimas e obrigá-las a tomar uma dose forte de um psicotrópico, os mataram com tiros no ouvido.
Os gamers utilizaram um revólver marca Taurus calibre 32, comprado dois meses antes, para matar a família. Na sequência, segundo o MPES, furtaram diversos objetos da casa, entre eles, um DVD, material escolar, roupas e calçados de Thiago e de seu pai, dois relógios, uma pulseira, um computador, telefones celulares, cartões de banco e outros pertences das vítimas. Após o crime, os denunciados teriam, ainda, efetuados vários saques na conta de uma das vítimas.
De acordo com o inquérito policial que instruiu a denúncia do MPES, os denunciados foram à casa das vítimas com a finalidade de continuar um jogo de RPG que haviam iniciado uma semana antes.
Mayderson teria chegado primeiro, sendo recebido pelo pai de Thiago, que autorizou a sua entrada, como de costume, já que ele era amigo de seu filho único há três anos e estaria acostumado até mesmo a dormir na casa. Ele se dirigiu ao quarto do rapaz, que não teria demorado a chegar.
Em seguida, teria chegado o segundo denunciado, Ronald, que estaria indo à casa pela primeira vez. Também segundo o inquérito, eles não teriam jogado nenhuma partida específica de RPG, mas inventado eles mesmos o roteiro, no qual Thiago e sua família deveriam morrer, e a prova de que isso é verdade é que os acusados foram para a casa da família já portando um revólver.
Depois de iniciado o jogo, ainda de acordo com o inquérito, a dupla teria concretizado o plano que havia sido tramado antes. Primeiro tomando de Thiago o cartão de crédito e a senha.
Em seguida, o réu Mayderson teria se dirigido ao caixa eletrônico e efetuado um saque no valor de R$ 1 mil da conta do rapaz, passando, em seguida, em uma farmácia para comprar o psicotrópico. E, após isso, retornado à casa das vítimas.
Utilizando o revólver que portavam, os réus teriam rendido os pais de Thiago, que estavam na sala, vendo televisão, amarrado suas mãos e os obrigado a ingerir os comprimidos de psicotrópico com água.
Em seguida, teriam passado fita adesiva na boca das vítimas para que não gritassem e nem vomitassem o remédio que engoliram. O filho do casal teve também suas mãos amarradas para trás e foi, igualmente, obrigado a ingerir os comprimidos com água, sendo levado para seu quarto, onde deitou em sua cama.
Em depoimento à polícia, Mayderson e Ronald contaram que começaram a jogar RPG por volta das 20h40, do dia 26 de abril de 2005, na casa de Thiago, juntamente com a vítima. Segundo eles, a história foi criada pelos próprios componentes, em que Ronald vivia o personagem de um mago e também narrava o jogo, Mayderson seria um advogado demoníaco e Thiago seria Flávio, um policial. O jogo durou cerca de cinco horas, quando a vítima acabou perdendo e, como penalidade, deveria morrer dormindo, com a família.
Por volta da 1h30, os três foram até o quarto do casal, onde a corretora de imóveis Heloísa Helena Andrade Guedes, 42, dormia e amarram os braços dela com fita adesiva. Depois a obrigaram a tomar um sonífero. Eles seguiram até a cozinha, onde o aposentado Douglas Augusto Guedes, 52, estava e exigiram que ele tomasse o sonífero e deitasse no chão do quarto de Thiago.
O pai foi o primeiro a morrer, com um tiro na cabeça. Depois foi a vez de Heloísa, da mesma forma. Thiago, sabendo que também ia morrer, sentou na própria cama, deixou que os companheiros o amarrassem e também tomou o sonífero. A polícia disse que, antes de matar Thiago, Mayderson teria ido até um caixa, em um shopping da Praia do Morro, com a senha da conta de Thiago e teria sacado R$ 1 mil.
Quando Mayderson retornou para o local do crime, Thiago já havia dormido e foi atingido por dois tiros também na cabeça. Após as mortes, o jogo continuou, e eles fizeram várias apostas com o dinheiro sacado e com outros objetos da casa. De acordo com um investigador, quando Mayderson e Ronald se encontraram na delegacia, teriam dito um para o outro que o jogo continuava. Eles disseram que estavam vivendo uma fantasia e achavam que os membros da família não morreriam de verdade.
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