> >
Confundido com sequestrador, pai denuncia racismo em supermercado na Serra

Confundido com sequestrador, pai denuncia racismo em supermercado na Serra

Encarregado de montagem de 51 anos estava com o filho de um ano, no último sábado (30), quando passou mal e parou carro no estacionamento de um supermercado; funcionária chamou a polícia

Publicado em 3 de outubro de 2023 às 12:23

Ícone - Tempo de Leitura 3min de leitura

Um encarregado de montagem de 51 anos afirma ter sido vítima de racismo em um supermercado no bairro Civit II, na Serra, no último sábado (30). Losival Torquato de Oliveira disse que saiu com o filho de um ano, que é branco, e seguia de carro para o bairro Jardim Limoeiro, quando, ao passar em frente ao estabelecimento, que fica na BR 101, começou a passar mal por ser diabético. O homem afirma que parou o veículo no estacionamento do local até se recuperar.

Aspas de citação

Quando estacionei o carro, comecei a passar ainda mais mal. Meu menino estava com uma chupeta, que acabou caindo dentro do carro e ele começou a chorar muito. O segurança chegou e perguntou o que estava acontecendo e, quando saí com a criança no colo, uma funcionária pegou meu menino e entrou no supermercado

Losival Torquato de Oliveira
Encarregado de montagem de 51 anos
Aspas de citação

Losival contou que foi à lanchonete do estabelecimento, onde pediu um salgado e refrigerante para aumentar a glicose. Enquanto tudo isso acontecia, a funcionária ligou para a Polícia Militar, afirmando que o homem estava sequestrando a criança. Policiais estiveram no local e, ao abordarem o homem, disseram que a funcionária contou que achava que o encarregado de montagem teria consumido drogas e bebida alcoólica.

“Solicitaram a presença da viatura com suspeita de sequestro, que eu estaria drogado e embriagado. Consegui falar com a minha esposa, que foi ao local com minha filha. A funcionária se justificou dizendo que a prioridade era a criança”, detalhou Losival.

Aspas de citação

Falei que queria registrar um boletim de ocorrência de racismo e um dos policiais militares disse que não era racismo. Aí juntaram o policial, o segurança e o dono da lanchonete dizendo que não era caso de racismo

Losival Torquato de Oliveira
Encarregado de montagem
Aspas de citação

O encarregado de montagem disse que solicitou ao supermercado os nomes da funcionária e do segurança, mas o estabelecimento se recusou passar. Losival contou ainda que pediu para conversar com o gerente, e esperou por 40 minutos, mas ninguém apareceu. Ele foi, então, até a Delegacia Regional da Serra, onde registrou um boletim de ocorrência denunciando crime de racismo. 

Em conversa com a reportagem de A Gazeta, Losival relatou que já passou por situações como essa em outros estabelecimentos. Em uma das ocasiões, a funcionária de um supermercado perguntou se ele era familiar do filho e só se afastou dele quando a mãe da criança, que é branca, se aproximou. Agora, o encarregado de montagem disse que quer que a justiça seja feita.

Aspas de citação

Não quero dinheiro, não. Quero que a justiça seja feita. Dinheiro não resolve. Que as pessoas sejam punidas e que nossa corporação policial saiba abordar melhor. Se houve acusação de embriaguez, por que não fizeram o teste?

Losival Torquato de Oliveira
Encarregado de montagem
Aspas de citação

O que diz a Polícia Militar

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar informou que foi acionada para ir até um supermercado, onde segundo informações do solicitante, um homem entrou no estabelecimento, com uma criança no colo, aparentando estar bêbado e um pouco alterado. Conforme as informações do acionamento, uma mulher se mostrou preocupada e ajudou o indivíduo segurando a criança.

"Com a chegada da PM, os militares foram informados do ocorrido e tentaram contato com o indivíduo, que se recusava a se identificar, demonstrando nervosismo. Os militares tentaram conversar com o homem, porém ele se recusava a explicar qualquer coisa que era questionado e proferia palavrões a todos que ali estavam", afirmou a PM.

Posteriormente, mais calmo, o homem se identificou e explicou que tem problemas de glicose e estava se sentindo meio tonto, por isso resolveu parar no supermercado para se alimentar para se recuperar, não havendo nada irregular, apenas um mal-entendido. Após esclarecida a situação, a ocorrência foi encerrada no local.

O que diz a Polícia Civil

A Polícia Civil informou que o caso será investigado e que não há detalhes que possam ser divulgados por enquanto. 

O que diz o supermercado

A Gazeta procurou a assessoria de imprensa do supermercado BH para um posicionamento sobre o caso. Em nota, o estabelecimento disse que não houve qualquer manifestação de racismo por parte dos funcionários ou da empresa e disse que "toda a situação foi conduzida pela equipe em concordância com os protocolos de segurança da empresa, zelando pelo bem-estar dos clientes, expressando preocupação com a segurança de uma criança".

"Diante dessa preocupação genuína, a Polícia Militar foi acionada para conduzir a situação. Lamentamos qualquer mal-entendido e agradecemos à comunidade pela confiança em nosso compromisso com a igualdade. O Supermercados BH reafirma o respeito por todas as pessoas, independentemente de raça, gênero, religião ou origem étnica", concluiu. 

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais