Ele garante que é um funcionário importante da Vigilância Sanitária e que a ligação é para evitar problemas relacionados a uma grande fiscalização - em troca de uma alta quantia em dinheiro, é claro. Mas, tome cuidado: esse é mais um golpe que tem acontecido aqui no Espírito Santo.
Duas das tentativas aconteceram nessa quinta-feira (8), com academias localizadas em Jardim da Penha e Jardim Camburi, em Vitória. A conversa entre o criminoso e uma advogada do segundo estabelecimento foi gravada. Para passar maior credibilidade, ele envolveu até o Conselho Regional de Educação Física (Cref).
"Esse setor (de fiscalização) está sob minha coordenação e ninguém vai entrar na academia sem a minha ordem. É uma operação do Estado do Espírito Santo, eu sei o que vai acontecer. A melhor forma é evitar o confronto, mas os colegas pedem uma colaboração de R$ 600 uma vez por ano", explica o golpista.
Ele ainda afirma que, assim que a transferência fosse feita, mandaria dois certificados de inspeção por meio de um carro com dois fiscais. "Eles são da minha total confiança. Estarão de colete e a caminhonete é da Vigilância Sanitária. Essas duas documentações são a garantia que estivemos aí e fiscalizamos."
Dessa forma, o estabelecimento ficaria livre de fiscalizações até outubro de 2021. "A gente vai passar direto. Durante um ano você trabalha à vontade e ninguém incomoda", garante. No final da conversa, o criminoso envia todos os dados bancários por meio de um aplicativo de mensagens.
Gerente da Vigilância Sanitária de Vitória, Flávia Riegert esclareceu que todos os pagamentos realizados junto ao órgão são feitos eletronicamente, pelo sistema da prefeitura. Ainda assim, só nesta semana, a pasta recebeu cerca de 15 registros de pessoas que foram alvo dessa tentativa de golpe.
"Estávamos recebendo ligações de pessoas perguntando se aqui trabalhava alguém com tal nome e nunca era um funcionário nosso. Quando uma empresa nos relatou o fato, começamos a ficar atentos e passamos a perguntar. Dessa forma, juntei informações e registrei na polícia ontem (8)", disse.
Segundo Flávia, o criminoso muda pouco o discurso para as vítimas. "Ora ele se apresenta como chefe da vigilância do Estado, ora do município. Os valores pedidos variam de R$ 600 a R$ 1.500. Ele fala que vai ter uma megaoperação e que pode tirar os estabelecimentos da lista. É tudo nessa linha", revelou.
No início da conversa, o criminoso alega que acontecerá uma megaoperação no Espírito Santo, em que 14 estabelecimentos serão fiscalizados. De acordo com todos os órgãos mencionados por ele - e que participariam dessa ação - essa grande fiscalização nunca aconteceu.
A vigilância sanitária disse que só faz fiscalizações de rotina. O Conselho Regional de Educação Física (Cref) garantiu que "as operações são divulgadas sempre no site oficial" e que "não houve ação presencial recentemente no Espírito Santo". A Delegacia do Consumidor também negou a operação.
Antes de informar os dados bancários para a transferência dos valores, o criminoso - que, no caso relatado acima, se apresentou como Plínio Ferreira - avisa que o dinheiro deverá ser transferido ou depositado em nome de Rafael Fernandes, que seria um "assessor" dele. A Gazeta ligou para o telefone utilizado pelo criminoso, mas a ligação caiu direto na caixa postal.
Apesar de afirmar que está no funcionalismo público há 28 anos, o nome dele não aparece no Portal de Transparência do Governo do Espírito Santo e nem da Prefeitura de Vitória. Ambos os portais permitem à população verificar dados sobre a administração pública, incluindo servidores.
Já a foto utilizada pelo criminoso no perfil do WhatsApp se assemelha com fotografias de um advogado que atua na cidade de Cassilândia, em Mato Grosso do Sul (MS), mas que tem nome diferente do usado pelo golpista - Plínio Ferreira. Além da busca reversa no Google Imagens, é possível compará-la com uma do cadastro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A reportagem acionou o advogado para saber se ele tem conhecimento dos fatos e se ele também é vítima do golpista, mas ele não atendeu as ligações e nem respondeu às mensagens.
Quem também sofrer a tentativa do golpe deve lembrar que a Vigilância Sanitária de Vitória não pede pagamentos através de contas pessoais. O mesmo acontece em âmbito estadual. Assim como o departamento de fiscalização do Cref não faz nenhum tipo de contato ou cobrança por telefone.
Acionada por A Gazeta, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) esclareceu também que não faz parte dos procedimentos informar por telefone sobre a realização de fiscalização e que, de forma alguma, há qualquer tipo de cobrança no ato da ação - e que repudia tal prática.
"Se houver alguma cobrança, o ato tem que ser denunciado imediatamente para que as autoridades competentes investiguem. Os autos de infração emitidos pelos fiscais durante as ações seguem um trâmite estabelecido por Lei, que permite ao autuado o direito a defesa", explicou, por meio de nota.
Ainda assim, se ficar em dúvida, a vítima pode acionar o Conselho Regional de Educação Física (Cref) da Primeira Região pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone da sede: (27) 3227-1622. A vigilância municipal fica disponível no (27) 3223-4077 e no [email protected].
A Polícia Civil confirmou que foram registrados, pelo menos, dois boletins sobre o golpe, entre essa quinta-feira (8) e sexta-feira (9). Porém, explicou que outras informações não podem ser passadas porque a apuração ainda está na fase inicial e podem, ainda, prejudicar o andamento da investigação.
As pessoas que tiverem qualquer informação relacionada ao golpe devem contribuir registrando o que sabem nos canais do Disque-Denúncia (181). No site oficial, é possível anexar imagens e vídeos de ações criminosas. O anonimato é garantido e todas as informações fornecidas são investigadas.
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