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Delegado explica por que PM foi liberado logo após matar vizinho

Delegado explica por que PM foi liberado logo após matar vizinho

O soldado da PM Lucas Torrezani chegou a ser liberado pelo delegado de plantão, mas voltou a se apresentar após expedição de mandado e foi preso na noite de segunda-feira (17)

Publicado em 18 de abril de 2023 às 13:12

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura

O soldado da Polícia Militar Lucas Torrezani de Oliveira, de 28 anos, foi preso nesta segunda-feira (17), após se entregar na delegacia durante a noite depois que um mandado de prisão contra ele foi expedido. O policial matou, com um tiro, um vizinho, o músico Guilherme Rocha, de 37 anos, em um condomínio onde os dois moravam, em Jardim Camburi, Vitória. O PM chegou a ser ouvido assim que o crime aconteceu, mas o delegado de plantão o liberou na ocasião por não identificar elementos que configurassem a prisão em flagrante.

Com informações apuradas desde a manhã de segunda-feira (17) e após ouvir representantes das polícias Militar e Civil, A Gazeta reúne as justificativas apresentadas pelas corporações para a liberação do policial, em primeiro momento, mesmo após confessar o crime.

De acordo com o titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Vitória, delegado Marcelo Cavalcanti, o delegado plantonista – que não teve o nome informado – "não tinha indícios para lavratura do flagrante" na madrugada de segunda-feira (17). Ou seja, o que foi apresentado naquele momento (apenas a versão do autor) não era suficiente, segundo a explicação, para manter o PM preso.

Aspas de citação

A gente entende que foi dada uma resposta rápida, sendo que o autor foi preso no mesmo dia. Inicialmente, a autoridade naquele momento não tinha indícios para lavratura do flagrante, considerando que havia apenas a versão do autor. Não tínhamos imagens e testemunhas. Prontamente, o delegado determinou diligências para apurar o caso

Marcelo Cavalcanti
Delegado titular da DHPP de Vitória
Aspas de citação

Versão inicial do PM era de legítima defesa

Quando os policiais militares chegaram ao condomínio, o soldado da PM estava com a arma na mão e o músico Guilherme Rocha já estava morto no chão. O autor do disparo, Lucas Torrezani de Oliveira, foi levado para a delegacia e confessou que havia atirado contra o vizinho, justificando que o crime teria sido em legítima defesa. Na versão do policial, o músico teria tentado desarmá-lo.

Condomínio em Jardim Camburi onde PM matou vizinho
Condomínio em Jardim Camburi onde PM matou vizinho. (Caíque Verli)

O militar não negou que tivesse disparado contra o vizinho, mas afirmou que agiu como forma de defesa. A versão foi desmentida depois que o policial foi liberado.

Plantonista tinha apenas uma versão, explica delegado

Após a morte do músico, o delegado plantonista da Polícia Civil começou a investigar o caso. Segundo Marcelo Cavalcanti, titular da DHPP de Vitória, nenhuma testemunha foi levada ao local ou prestou depoimento inicialmente. O vídeo que mostra o momento do crime ainda não havia sido divulgado até aquele momento. Com apenas uma única versão, o delegado de plantão decidiu liberar o soldado da PM.

"Em dias de plantão, o delegado atua com o que é levado para ele. E o que foi levado, de início, foi somente a versão do policial", afirmou o delegado Marcelo Cavalcanti.

Apesar da liberação, o titular da DHPP de Vitória afirma que o plantonista determinou diligências e pediu que os policiais continuassem investigando o caso. A arma usada no crime foi apreendida.

"O delegado sabia que tinha alguma situação que poderia continuar sendo investigada, não se limitou a não lavrar o flagrante", completou.

Vídeo divulgado após liberação de soldado da PM

Nas palavras de Marcelo Cavalcanti, o vídeo registrado por um câmera no interior do condomínio não deixa dúvidas: não houve legítima defesa por parte do soldado Lucas Torrezani de Oliveira. "As imagens foram determinantes", afirma o titular da DHPP de Vitória.

No vídeo, é possível ver a vítima entrando na área em que o policial estava com um amigo. Com as mãos para trás, Guilherme fala com Lucas, que segura um copo. O policial retira a arma da cintura e encosta no ombro do músico. O amigo do militar se levanta e os três ficam próximos.

À esquerda, o policial militar Lucas Torrezani de Oliveira; à direita, o músico Guilherme Rocha
À esquerda, o policial militar Lucas Torrezani de Oliveira; à direita, o músico Guilherme Rocha. (Reprodução | Montagem A Gazeta)

Em um dado momento, Lucas bate com a arma no rosto de Guilherme. A vítima, então, bate com as mãos na arma. O amigo do policial empurra o músico. Depois, a vítima segue em direção à porta, mas cai logo em seguida, já baleada. O militar fica olhando e dá dois goles na bebida que estava no copo.

Como explicado pelo delegado, o vídeo foi determinante para a prisão do policial. As imagens foram divulgadas pela Polícia Civil no fim da tarde de segunda (17), mais de 12 horas após a prisão. Segundo Marcelo Cavalcanti, o vídeo não foi levado para a delegacia no ato de registro da ocorrência.

Relatos de moradores colaborou com investigação

Assim como o vídeo, não foram encaminhadas à delegacia testemunhas ou relatos sobre a morte do músico Guilherme Rocha, de 37 anos. Segundo o delegado Marcelo Cavalcanti, pessoas começaram a ser ouvidas após a liberação do soldado Lucas Torrezani.

"A DHPP de Vitória foi acionada e fomos até o local. Entrevistamos pessoas e recolhemos as imagens. Não há dúvidas que a vítima foi executada, e o autor não agiu em legítima defesa", diz.

Polícia passa a tratar morte como execução e pede prisão

O mesmo delegado que resolveu liberar Lucas Torrezani pediu a prisão do soldado mais de 12 horas depois. Durante a madrugada de segunda (17), o soldado confessou que havia atirado contra o vizinho, mas alegou legítima defesa. No fim da tarde do mesmo dia, por meio de rede social, o governador Renato Casagrande (PSB) anunciou que a polícia havia pedido a prisão de Lucas.

Após ter a prisão decretada, o soldado da PM foi até a delegacia com um advogado. Lucas Torrezani, de 28 anos, deve ficar preso inicialmente por 30 dias. A prisão pode ser prorrogada por até 60 dias.

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