Os ataques que aconteceram em Vitória e na Serra, nesta terça-feira (11), mostraram o nível de organização do Primeiro Comando de Vitória (PCV), facção que nasceu no Bairro da Penha. Ao todo, seis ônibus foram incendiados, um metralhado e carro da imprensa destruído, em um dia de terror principalmente na Capital.
O PCV é investigado há mais de dois anos pela polícia. Um relatório de mais de 500 páginas, ao qual o repórter Eduardo Dias, da TV Gazeta, teve acesso, mostra uma verdadeira rede de colaboração e troca de informações entre traficantes capixabas e bandidos do Rio de Janeiro, além de reforçar o poder da cúpula da facção, que, mesmo da cadeia, dita todas as decisões de Fernando Moraes Pimenta, o Marujo, líder imediato da organização criminosa e que segue foragido.
Foi após uma denúncia de que ele estaria no Bonfim, em Vitória, nesta segunda-feira (10), que uma ação da polícia acabou com um dos seguranças do traficante morto, o que desencadeou a série de ataques na terça.
Até agora, 16 envolvidos nos ataques a ônibus estão presos. Dentre eles, de acordo com as investigações, 11 são executores, muitos menores de idade, contratados no momento dos crimes. Um deles chegou a confessar que ganharia crack e R$ 50 para colocar fogo nos coletivos. Outros cinco são mandantes: esses sim, membros da quadrilha investigada pela polícia, que aparecem no relatório.
A investigação aponta que é de dentro do presídio que o chefe da organização do Bairro da Penha controla tudo que acontece: desde compra das drogas até a distribuição aos pontos de venda. Carlos Alberto Furtado, o Nego Beto, é o principal fundador do PCV e a quem Marujo responde diretamente.
Mesmo da cadeia, Beto sabe quantas armas o grupo tem, quanto elas valem e até com quem está cada armamento. De acordo com a polícia, são os advogados que levam as informações até o chefe e as ordens dele ao grupo criminoso.
Foi para Beto que Marujo enviou uma mensagem pedindo para se esconder no Rio de Janeiro, como mostra o relatório. Na carta, Marujo diz que a polícia está sufocando, chegando cada vez mais perto. Por isso, ele queria passar um tempo no Rio para a "poeira baixar". Quem daria abrigo a ele no Estado seria o chefe do tráfico do Complexo da Penha e da favela de Manguinhos, na Zona Norte carioca.
"Inicialmente, eles usavam o Rio de Janeiro para comprar armas e drogas. Posteriormente, revelou-se que eles usam hoje o estado do Rio de Janeiro para se esconder também, e isso dificulta a ação da polícia na função principal que é prendê-los", disse o delegado Marcelo Cavalcanti, da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória, em entrevista à TV Gazeta.
Mesmo do RJ, ele mantinha o controle sobre as ações dos traficantes, que enviavam fotos dos pontos de venda de drogas e da movimentação da polícia, inclusive com a utilização de drones. Fotos de rádios mostram que os criminosos conseguem monitorar até a frequência de comunicação de batalhões da Polícia Militar.
"Eles tinham naquele momento o rádio da Polícia Militar que eles tentavam se antecipar às ações da PM exatamente monitorando a atuação deles", disse o delegado.
Há ainda a suspeita de que agente públicos teriam avisado para criminosos com antecedência sobre operações policiais que estavam para acontecer.
Sobre a informação de que advogados estariam fazendo o leva e traz para Marujo, a Secretaria Estadual da Justiça (Sejus) informou que "o atendimento de advogados no sistema prisional ocorre em consonância com a legislação em vigor e ressalta que não há número específico de visitas para esses profissionais. Advogados têm a prerrogativa de estabelecer diálogo com seus clientes, de maneira privada, independente do horário, respeitando os protocolos de segurança vigentes e regulamentados nas unidades prisionais".
Com informações de Eduardo Dias, da TV Gazeta
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