A morte de dois homens no dia 16 de outubro no bairro Porto Canoa, na Serra, foi uma retaliação pela morte do motorista de aplicativo Lucas Ferrarini, na disputa pelo tráfico de drogas no bairro Eldorado, no mesmo município. A informação foi passada pelo chefe da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa da Serra, delegado Rodrigo Sandi Mori, em entrevista coletiva nesta segunda-feira (28). Quatro pessoas já foram presas no inquérito. Entre elas, um advogado que teria interferido nas investigações após o crime. Outras duas seguem foragidas. De acordo com o delegado, o advogado teria dito para uma testemunha que, caso ela não mentisse em depoimento, ele a entregaria aos investigados pelo crime e poderia perder a guarda do filho de 3 anos.
De acordo com a polícia, Layson da Silva e Diego Alexandre da Mota Silva, que participaram da morte do motorista de aplicativo, foram alvo de uma emboscada no dia 16 de outubro. Pelas redes sociais, os dois foram seduzidos por uma mulher a se encontrarem. Chegando ao local, foram surpreendidos por quatro homens armados que executaram a dupla.
"As duas vítimas foram atraídas por uma mulher numa conversa de Facebook, que marcou um encontro com os dois. Achando que iriam se encontrar com a menina, foram surpreendidos por quatro indivíduos ao chegar no local", disse o delegado.
Participaram da execução e já estão presos, Marllon Fabem da Silva, de 22 anos, Júlio César Santos da Silva, de 18 anos, e Wesley da Conceição dos Santos, de 23 anos. Ainda estão foragidos: o quarto executor, Tales Rony Ramos, de 31 anos, e o mandante do crime e chefe do tráfico de drogas do bairro Eldorado, Robson Rodrigues, de 37 anos. As informações são da polícia.
Além dos cinco envolvidos, é réu na ação penal o advogado Igor Vicentini, de 31 anos. Ele não teve a foto divulgada pela polícia. Segundo a investigação, o envolvimento dele se deu após o duplo homicídio.
De acordo com o delegado, no ataque, um dos executores ficou ferido. O advogado então foi até o local onde estava o homem baleado com uma enfermeira, horas após o crime. Mesmo com a enfermeira dizendo que o homem precisaria de socorro, o advogado teria dito para que não socorressem, senão todos seriam presos.
"O advogado, mesmo após ouvir da enfermeira que o Marlon precisava de socorro médico, ele orientou a todos que não socorressem, caso contrário todos seriam presos", afirma o delegado.
Um dia depois do crime, o homem deu entrada no Hospital Estadual de Urgência e Emergência e foi localizado pela Polícia Civil, que fez um trabalho integrado com o Ciodes, para que rastreasse possíveis feridos por bala de fogo em hospitais da região. Após negar envolvimento no crime, o homem acabou confessando a participação logo depois.
"Imediatamente nos dirigimos ao hospital, interrogamos o Marlon. Em um primeiro momento, ele mentiu, mas vendo que não tinha saída, acabou confessando a participação no crime", disse Sandi Mori.
Além disso, o advogado também responde por coação de testemunhas durante o processo. Segundo Sandi Mori, o advogado teria marcado um encontro com uma das testemunhas em um shopping, onde teria orientado para que ela mentisse. Caso contrário, o advogado teria acesso ao depoimento e poderia expor a testemunha aos envolvidos no crime.
"Após o encontro, ele coloca a testemunha dentro de um veículo e, no trajeto para a delegacia, ele orienta a testemunha a mentir no depoimento. Caso contrário, ele teria acesso ao depoimento e revelaria tudo dito por ela aos investigados", detalhou Sandi Mori.
Ainda de acordo com o delegado, o advogado teria dito à testemunha que se ela fosse à delegacia sozinha, os policiais iriam retirar a guarda do filho de 3 anos dela. Sandi Mori contou durante a coletiva que a situação levou a testemunha a um aborto espontâneo de uma gravidez de um mês.
"A conduta covarde do advogado vai além, a partir do momento em que ele, mesmo vendo que a testemunha estava em pânico e chorando na frente dele, continua praticando violência psicológica contra ela. E chega ao ponto de dizer que caso ela comparecesse sozinha na delegacia, nós, policiais, iríamos retirar a guarda do filho dela, de 3 anos. Essa conduta acabou ocasionando a perda do filho desta testemunha, que estava grávida de um mês e sofreu um aborto espontâneo", explicou.
O delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda, afirmou que a prisão não visa criminalizar o trabalho da advocacia criminal, mas sim prender todos envolvidos com irregularidades.
"Não estamos, de forma alguma, criminalizando a advocacia criminal, muito pelo contrário. Estamos tirando do seio deles aqueles profissionais que não tem condições de exercer uma profissão tão digna. Então, essa prisão é de extrema importância para que outros profissionais não queiram fazer a mesma coisa. A profissão é linda, brilhante, tem que ser respeitada e vamos respeitar sempre. Mas todo aquele que desviar a conduta será preso pela Polícia Civil", destacou.
A Ordem dos Advogados do Brasil seccional Espírito Santo foi procurada pela reportagem para um posicionamento sobre o caso. Esta matéria será atualizada assim que a resposta for recebida.
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