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Em 2 dias, dois assassinatos podem ter participação de PMs no ES

Em 2 dias, dois assassinatos podem ter participação de PMs no ES

Eduardo Chaves Camilo, de 32 anos, foi morto a tiros na madrugada de domingo (16). Guilherme Rocha, de 37, assassinado na madrugada de segunda (17)

Publicado em 18 de abril de 2023 às 18:58- Atualizado há 2 anos

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Eduardo Chaves Camilo, de 32 anos, e Guilherme Rocha, de 37 anos
Eduardo Chaves Camilo, de 32 anos, e Guilherme Rocha, de 37 anos. (Reprodução/Redes Sociais)
Errata Correção
24 de abril de 2023 às 17:50

Após publicação desta matéria, a Polícia Civil realizou coletiva de imprensa sobre o caso nesta segunda-feira (24). O delegado responsável pela investigação descartou a suspeita sobre policiais militares no crime ocorrido na casa de shows em Vitória, como foi cogitado inicialmente. Por isso, o título da reportagem foi corrigido.

A madrugada de domingo (16) e o feriado de Nossa Senhora da Penha, na segunda-feira (17), foram marcados pela violência em Vitória. Dois assassinatos, com suspeita de participação de policiais militares, ocorreram em um intervalo inferior a dois dias. 

No domingo (16), Eduardo Chaves Camilo, de 32 anos, foi assassinado a tiros dentro da casa de shows Gordinho Sambão, em Mário Cypreste, Vitória. Durante a confusão, uma jovem de 20 anos acabou ferida com um tiro na perna e socorrida ao Hospital Estadual de Urgência e Emergência.

As Polícias Civis e Militar do Espírito Santo investigavam o possível envolvimento de dois soldados da PM no assassinato, mas essa hipótese foi descartada. Eduardo curtia um show na casa Gordinho Sambão quando foi alvejado com diversos tiros, por volta de 1h30 da manhã. Ele morreu na hora.

Eduardo já cumpriu pena por tráfico de drogas entre 2015 e 2022, conforme informou a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus). No site do Tribunal de Justiça (TJES) consta processos criminais em tramitação contra ele.

Homem é morto no bar do Gordinho, em Vitória
Na madrugada de domingo (16), um homem foi executado na região do Gordinho do Sambão. (Caique Verli)

De acordo com nota divulgada pela PM, a corregedoria da corporação acompanhou as investigações junto à Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória, “a fim de verificar a autoria do crime e a possibilidade da participação de militar”.

Conforme o Boletim de Ocorrência, o atirador tinha a vítima como alvo, pois ele ficou pouco tempo no estabelecimento. De acordo com o documento, o atirador vestia camisa marrom clara ou bege, bermuda de cor branca e chinelo. O outro suspeito estava com camisa preta e bermuda clara.

O bar conta com um livro de registro das armas de fogo dos agentes de segurança pública que entram no recinto, com informações sobre o portador, o número do armamento, horários de entrada e saída, além de dados pessoais, como RG e cargo.

Na procura pelos assassinos, a polícia identificou nas imagens do estabelecimento que os policiais registrados foram embora logo após os disparos. Os dois militares investigados são soldados.

Um deles solicitou que a hora da saída do estabelecimento fosse alterada para vinte minutos antes do homicídio, de acordo com uma testemunha, mas que o pedido ao bar não foi atendido.

Outro indício do envolvimento dos PMs estaria relacionado com os cartuchos encontrados na cena do homicídio, calibre 9 mm, o mesmo das armas dos soldados.

No entanto, apesar da suspeita inicial, Polícia Civil informou, em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (24), que após investigar o crime constatou que não houve participação de policiais militares no assassinato. A versão anterior dos fatos havia sido divulgada pouco depois do crime, na confecção do boletim de ocorrência realizado por integrantes da Polícia Militar.

Após analisarem as imagens gravadas dentro da casa de shows, a Polícia Civil constatou a chegada dos dois policiais militares, que chegam a passar pela portaria uma hora antes do crime, ao lado do atirador. No momento em que o suspeito tentava sair do estabelecimento pela porta de entrada, os policiais entravam na casa de shows. 

"Os policiais militares aparecem entrando na casa de shows e passam ao lado do atirador. É claro que eles não sabiam quem era ele. E os mesmos policiais saíram do Gordinho após o crime e chegaram a prestar socorro à vítima", disse o delegado Marcelo Cavalcanti, da DHPP de Vitória.

Ainda conforme o delegado, o atirador já foi identificado pela Polícia Civil, mas o nome dele não foi divulgado. 

Músico morto por militar

De acordo com testemunhas, o músico Guilherme pediu que o policial parasse de incomodar ele e os vizinhos.

Uma câmera de videomonitoramento do condomínio flagrou o momento em que a vítima é morta pelo policial.

À esquerda, o policial militar Lucas Torrezani de Oliveira; à direita, o músico Guilherme Rocha
À esquerda, o policial militar Lucas Torrezani de Oliveira; à direita, o músico Guilherme Rocha. (Reprodução | Montagem A Gazeta)

Guilherme Rocha era músico, bacharel em direito, capoeirista e empresário. Ele foi morto com um tiro no ombro que atravessou o peito. Segundo o boletim da Polícia Militar, quando os PMs chegaram ao local, o militar estava com a arma nas mãos e a vítima caída no chão.

Lucas Torrezani de Oliveira contou aos policiais que estava bebendo com amigos perto da entrada do Bloco 1, onde a vítima morava, quando Guilherme teria o atacado e tentado desarmá-lo. Segundo informações de moradores à polícia, antes da discussão havia som alto no local.

O militar disse que reagiu e atirou uma vez com uma pistola .40 no vizinho. O próprio soldado teria ligado para a polícia e também para o Samu. O boletim da PM diz ainda que o copo do militar ainda estava com bebida alcoólica e ele apresentava "odor etílico ao falar".

Segundo moradores, cinco ocorrências internas haviam sido registradas no condomínio em razão de desentendimentos recentes entre vítima e policial.

Mônica Bicalho, síndica do condomínio onde morava o músico e o soldado da PM, contou que, ao contrário do que disse o militar aos policiais que atenderam a ocorrência, a vítima não reagiu e nem tentou desarmar o militar. 

"Guilherme simplesmente pediu 'gente, eu preciso dormir, são três horas da manhã' e ele simplesmente sacou a arma", declarou a síndica, que disse que o militar tinha hábito de beber na área comum do condomínio e isso incomodava as pessoas.

Liberado após o crime

O militar chegou a ser ouvido assim que cometeu o crime, mas o delegado de plantão o liberou na ocasião por não identificar elementos que configurassem a prisão em flagrante.

De acordo com o titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Vitória, delegado Marcelo Cavalcanti, o delegado plantonista – que não teve o nome informado – "não tinha indícios para lavratura do flagrante" na madrugada de segunda-feira (17). Ou seja, o que foi apresentado naquele momento (apenas a versão do autor) não era suficiente, segundo a explicação, para manter o PM preso.

Após a morte do músico, o delegado plantonista da Polícia Civil começou a investigar o caso. Segundo Marcelo Cavalcanti, titular da DHPP de Vitória, nenhuma testemunha foi levada ao local ou prestou depoimento inicialmente. O vídeo que mostra o momento do crime ainda não havia sido divulgado até aquele momento. Com apenas uma única versão, o delegado de plantão decidiu liberar o soldado da PM.

Apesar da liberação, o titular da DHPP de Vitória afirma que o plantonista determinou diligências e pediu que os policiais continuassem investigando o caso. A arma usada no crime foi apreendida.

Nas palavras de Marcelo Cavalcanti, o vídeo registrado por um câmera no interior do condomínio não deixa dúvidas: não houve legítima defesa por parte do soldado Lucas Torrezani de Oliveira. 

No vídeo, é possível ver a vítima entrando na área em que o policial estava com um amigo. Com as mãos para trás, Guilherme fala com Lucas, que segura um copo. O policial retira a arma da cintura e encosta no ombro do músico. O amigo do militar se levanta e os três ficam próximos. 

Em um dado momento, Lucas bate com a arma no rosto de Guilherme. A vítima, então, bate com as mãos na arma. O amigo do policial empurra o músico. Depois, a vítima segue em direção à porta, mas cai logo em seguida, já baleada. O militar fica olhando e dá dois goles na bebida que estava no copo.

Segundo Marcelo Cavalcanti, o vídeo não foi levado para a delegacia no ato de registro da ocorrência. Após ter a prisão decretada, o soldado da PM foi até a delegacia na noite de segunda-feira (17) com um advogado. Lucas Torrezani deve ficar preso, no Quartel da Polícia Militar, inicialmente por 30 dias. A prisão pode ser prorrogada por até 60 dias.

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