De detento ameaçado de morte por presos a pastor de nove celas do presídio. Muitas mudanças aconteceram no primeiro ano de cadeia de George Alves, de 36 anos, acusado de estuprar, agredir e queimar o filho, Joaquim Alves Sales, 3 anos, e o enteado, Kauã Sales Butkovsky, 6, segundo denúncia da Polícia Civil e do Ministério Público.
A morte dos irmãos Kauã e Joaquim completa um ano no próximo domingo (21). Desde o início desta quarta-feira (17), o Gazeta Online começou a publicar uma série de reportagens sobre o caso, que vão ser publicadas até o dia que marca a tragédia.
George já dividiu cela com os médicos presos na operação Lama Cirúrgica e hoje está na companhia de Marcos Venício Moreira Andrade, acusado de matar o ex-governador Gerson Camata, em dezembro. Mas desde a detenção, um comportamento continua o mesmo: George nega todas as acusações e continua alegando inocência.
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O pastor Pedro Gusmão, líder da Igreja Assembleia de Deus Ministério Quem se Importa, realiza cultos nas unidades prisionais do Estado. Segundo ele, George é um dos participantes das atividades realizadas no Centro de Detenção Provisória (CDP II) de Viana, onde aguarda decisão para julgamento.
"Ele escuta bastante a gente. Já conversei com ele e falei: 'você teve oportunidade de confessar o crime perante à Justiça'. Mas ele se calou. Ele respondeu: 'pastor, eu sou inocente'. No presídio, durante os cultos, noto que ele é bastante tranquilo e conquistou o respeito dos outros internos", destacou o pastor.
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PRIMEIRAS SEMANAS: TRANQUILIDADE
George chegou ao Centro de Detenção Provisória de Viana II (CDPV II) no dia 28 de abril de 2018, acusado, inicialmente, de atrapalhar as investigações do caso. De acordo com um funcionário do presídio, que preferiu não se identificar, por questão de segurança George ficou instalado em uma ala destinada aos presos que apresentam ter bom comportamento. Na ala, há presos por não pagar pensão alimentícia, acusados pela Lei Maria da Penha, detentos idosos, provisórios e com curso superior.
Cada cela contém dois beliches e um colchão, que são colocados no chão, para abrigar cinco presos. Inicialmente, o pastor dividiu o espaço com médicos presos na operação Lama Cirúrgica, que aconteceu em janeiro de 2018 e investiga o esquema onde materiais hospitalares usados eram revendidos para hospitais privados, planos de saúde e médicos.
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"Desde que chegou, George alegou inocência aos presos e manteve a versão de acidente que ele falou para a polícia e para a imprensa. No início ele era quieto, na dele, e passava a maior parte do tempo lendo a Bíblia. Logo nos primeiros dias, ele chegou a fazer orações aos presos. Mas me chamou atenção a tranquilidade dele. Quem é preso injustamente não fica tão tranquilo", contou o funcionário do CDPV II.
PRIMEIRO MÊS: MEDO DE AMEAÇAS
No dia 29 de maio de 2018, horas após a Polícia Civil anunciar a conclusão de que o pastor George Alves estuprou, agrediu e queimou o filho e o enteado, o acusado foi ameaçado de morte pelos presos do CDPV II. As ameaças foram feitas aos gritos, causando medo no pastor e nos colegas de cela.
O funcionário da CDPV II informou que há televisão na ala em que George foi instalado. Mas a TV não possui antena, sendo utilizada apenas para a exibição de filmes e jogos de futebol gravados. Na ala de presos comuns, existe uma televisão com antena, mas o funcionário contou que a TV é desligada quando começam os noticiários.
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Mesmo com cuidado para que eles não tenham informações externas, muitos detentos saem da cadeia para ir aos fóruns. Nesse percurso, eles conseguem informações com familiares e advogados. "Foi assim que eles descobriram a acusação contra o pastor. Na volta para o CDPV, os detentos comuns iniciaram um motim, gritando várias ameaças de morte ao pastor. Ele sentiu medo. Os médicos que estavam presos com ele também ficaram com medo. Disseram que não queriam ser confundidos com o George", revelou.
ROTINA E APROXIMAÇÃO DE DETENTOS
A rotina de George, assim como de outros detentos do CDPV, começa por volta de 5h30, quando os presos são acordados para tomar café dentro na cela. A alimentação é composta por pão doce e café com leite. Após o café, o pastor faz a primeira pregação do dia. De dentro da cela, ele é ouvido pelos colegas das outras oito celas.
"De início, após ser ameaçado, ele passava a maior parte do tempo dentro da cela, lendo a Bíblia sozinho. Meses depois ele foi saindo aos poucos e se entrosando com outros detentos, sempre alegando total inocência. Hoje, ele atua como pastor mesmo e não tem problema com ninguém", conta o funcionário.
Ainda pela manhã, os detentos são levados em grupos para o banho. Depois, uma de cada vez, cada galeria tem cerca de duas horas para ficar na área de convívio composta por uma sala para filmes e jogos de futebol. A galeria de George é a única que não possui uma quadra anexa, contendo apenas um pequeno espaço que, apesar de não ter teto para possibilitar o banho de sol, é completamente fechada por telas e cercas cortantes.
"Dá pra ver um pouco do céu, mas a maioria dos detentos prefere mesmo ficar na área de TV, que tem mais o que fazer. Livros também são permitidos. Há uma biblioteca que alguns presos podem pedir livros e parentes também podem levar. Mas o George opta sempre pela bíblia dele. Nesse um ano o pastor nunca recebeu visitas além dos advogados".
Por volta de 11 horas o almoço é servido. A alimentação contém uma carne, salada, arroz, feijão e macarrão. Além disso, um suco e um doce ou uma fruta. Os detentos passam a tarde nas celas, revezando as duas horas que cada grupo tem de acesso a área de TV. Por volta das 17 horas o jantar, semelhante ao almoço, é servido. A partir daí, ninguém mais pode sair da cela, a não ser que haja alguma visita.
UM ANO DEPOIS: PASTOR DE NOVE CELAS
Hoje, George divide a cela com outro detento conhecido: Marcos Venicio Moreira Andrade, acusado de matar o ex-governador Gerson Camata no dia 26 de dezembro de 2018. A cela de George fica na galeria G, a menor da unidade, contendo nove celas. O detento realiza os cultos de dentro da própria cela, podendo ser ouvido pelos colegas de galeria.
"Hoje em dia ninguém nem percebe que o acusado de matar duas crianças está lá dentro. O George não chama atenção, não se envolve em confusão, não fica doente. Mas se no início ele fazia algumas orações, hoje ele atua como pastor mesmo, pregando para os detentos de nove celas duas vezes ao dia, pela manhã e no fim da tarde", conta o funcionário.
Ainda de acordo com o funcionário, como a galeria G é considerada a mais tranquila da unidade, os próprios presos se organizam para que não seja necessária a presença constante de inspetores penitenciários.
"Essa galeria, especificamente, é a mais tranquila. Por isso, ela meio que funciona sozinha. São os próprios detentos que cuidam um do outro e os agentes penitenciários são vão até lá quando precisam retirar um ou outro preso, ou quando eles são levados para o banho e para a sala de TV", conta.
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