Cinco dias após um vídeo circular nas redes sociais mostrando a suposta agressão de um homem negro por seguranças do Carone Mall, em Laranjeiras, na Serra, a Rede Carone compartilhou, na noite de terça-feira (21), um vídeo contando outra versão da história . O material, que tem uma narração, diz que o homem tentava roubar uma bicicleta no estacionamento e nega que tenha havido violência por parte dos colaboradores da empresa.
O vídeo afirma ainda que o homem entrou no estabelecimento, olhou a movimentação, saiu do local, mas voltou, indo em direção ao bicicletário. Nesse momento, segundo a narração, um segurança da loja conduz o rapaz para fora da área do Carone.
Minutos depois, segundo a voz no vídeo, o rapaz voltou ao centro de compras, sendo conduzido para uma sala enquanto a polícia era acionada. As imagens, no entanto, não mostram o momento em que ele teria tentado novamente entrar na área comercial, mas revelam apenas a hora em que o homem já está na companhia dos seguranças.
O vídeo também mostra que no instante que o rapaz é direcionado para uma sala fechada dentro do Carone, o cliente, responsável pelas imagens da agressão, que viralizaram na internet, já identificado como o professor de Geografia Demian Cunha, de 38 anos, começa a filmar.
Ao explicar o caso, em nota, o Carone destacou que os funcionários envolvidos no caso estão ligados a uma empresa terceirizada e que a rede supermercadista exige o correto treinamento dos trabalhadores.
“Por volta das 12h20, um homem vestido de vermelho foi identificado nas imagens de videomonitoramento da empresa empenhando esforços para retirar do bicicletário uma bicicleta que não lhe pertencia. Neste momento, o garagista responsável pelo estacionamento se aproximou do cidadão e o conduziu para fora do estabelecimento, sem qualquer contato físico. O homem seguiu pela via pública e o garagista retornou para dentro do estabelecimento. Entretanto, poucos minutos depois, o homem retornou ao estabelecimento no intuito delituoso, sendo assim, os terceirizados foram obrigados a intervir", disse o Carone em texto divulgado nas redes sociais da empresa.
Segundo o Carone, diante de uma segunda tentativa de roubo, foi necessário o acionamento da Polícia Militar e, por isso, a condução do homem para um local em que pudesse aguardar a chegada da viatura. As imagens não mostram o segundo suposto roubo.
Ainda de acordo com o grupo empresarial, o cliente que realizou as imagens viu apenas um recorte dos fatos e “buscou impedir a apreensão do indivíduo, mesmo sem deter ciência do cenário completo”.
“Nesse momento, é imprescindível esclarecer que não houve nenhum tipo de violência ao homem abordado e, em hipótese alguma, haveria algum tipo de agressão física, senão a tentativa de imobilização até a chegada da guarnição da Polícia Militar, nos limites necessários para evitar a fuga.”
A rede supermercadista frisou ainda que a ação do cliente, firmada em uma premissa errônea, trouxe enorme prejuízo à imagem da empresa e levou ainda à liberação de um indivíduo que de fato havia tentado furtar uma bicicleta. O grupo ressalta que em nenhum momento se tratou de um caso de racismo ou violência, apenas uma tentativa de evitar a fuga do sujeito antes da chegada da polícia.
Segundo a empresa, as imagens do circuito interno de monitoramento foram enviadas à Polícia Civil para apuração e confirmação dos fatos. “Esclarecemos que o grupo Carone repudia qualquer prática de racismo ou injúria racial, assim como não compactua com abordagens violentas a qualquer cidadão.”
O professor Demian Cunha, responsável pelas imagens que ganharam as redes sociais no fim de semana, afirma que, em grande parte, o vídeo divulgado pelo Carone corrobora com a versão que contou, mas que há uma tentativa de construção de narrativa de que ele seria o responsável por incitar o homem que estava sendo detido a reagir.
“Eu fiquei filmando sem saber o que fazer, sabendo que a pessoa estava sendo agredida do lado de dentro, ouvindo os sons vindo de dentro, e eu falava com o guarda que aquilo estava errado. Eu não tentei chutar a porta, e sim tentei abrir a porta com o pé pois estava com as mãos ocupadas. Em nenhum momento vitimizei o homem, em questão de que não estava errado. Eu sabia, desde o início, que tinha sido levado por tentar roubar uma bicicleta, o que eu repudio é a conduta.”
Ele pontua que a sala em que o homem acusado de roubo estava sendo mantido, na realidade, era um tipo de banheiro, e que não fazia sentido manter ninguém em um espaço como esse, muito menos na companhia de outras pessoas.
“Se era o caso de deter até a chegada da polícia, deveriam ter levado para um local adequado, e não feito daquela forma. Aquele homem foi agredido e o vídeo demonstra que não agiu com resistência ao entrar no supermercado. Se há um protocolo para lidar com essas situações, não foi seguido.”
A reportagem não conseguiu localizar o homem que aparece no vídeo sendo agredido pelos seguranças.
Uma cena de agressão a um homem foi gravada nesta sexta-feira (17) no Carone Mall, em Laranjeiras, na Serra, por um dos clientes do estabelecimento e começa quando a vítima ainda está dentro de um banheiro, com as portas fechadas, junto a um segurança.
O autor do vídeo inicia a filmagem afirmando que o homem está sendo agredido, mesmo sem ser possível ver o que se passa no interior da sala. Ao perceber a gravação, um segurança que está do lado de fora da sala faz uma abordagem ao consumidor, que afirma que vai "dar ruim" para o funcionário. O segurança rebate: "Para mim não vai dar nada".
O cliente realizando a gravação insiste que, se houve tentativa de roubo, correto é chamar a polícia, pois "não é papel" dos funcionários do supermercado realizarem esse tipo de abordagem.
Na sequência, é possível ver nas imagens o momento em que o homem que estava sendo mantido pelo segurança em uma sala do estabelecimento consegue abrir a porta, e a tentativa do funcionário de contê-lo ali dentro. Ele se debate e a confusão é levada para fora do cômodo fechado, onde o homem grita que estava sendo agredido.
Ele afirma novamente que não roubou nada e é agarrado pelos cabelos por um dos seguranças. O homem ainda diz que o segurança teria lhe dado um “soco na cara”. Em meio aos gritos de outros clientes e do consumidor que filma a cena, o homem é liberado.
O assunto tomou grandes proporções e revoltou a secretária de Estado de Direitos Humanos, Nara Borgo, que pediu ao Ministério Público e à polícia que investiguem o caso.
O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) informou que recebeu manifestação da secretária e que o caso está em análise. A Promotoria de Justiça Criminal da Serra afirmou que, caso sejam verificados ilícitos, serão tomadas as medidas cabíveis.
A Polícia Civil informou, em nota, que não há registro de ocorrência com essas características entregue na Delegacia Regional da Serra.
Já a Polícia Militar informou que, na tarde de sexta-feira (17), “o Ciodes recebeu uma informação anônima de que um indivíduo estava sendo agredido por seguranças de um supermercado no bairro Parque Residencial Laranjeiras, Serra. Militares foram ao local e em contato com um vigilante foram informados que um homem tentou furtar uma bicicleta. Ao presenciar a situação, tentou conter o suspeito, mas o indivíduo fugiu, tomando destino ignorado."
O vídeo, entretanto, não mostra fuga, apenas o homem sendo liberado. A polícia também não esclareceu se algum boletim de ocorrência pela suposta tentativa de furto foi registrada.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta