O tempo que a família da esteticista Vanuza de Barros esperou para ver o companheiro dela, o empresário Sergio Magalhães Gaudio, 77 anos, condenado pelo crime que tirou a vida da jovem, em outubro de 2001, coincidentemente se aproxima da pena a qual ele foi condenado: 21 anos, 10 meses e 15 dias de prisão.
A sentença foi proferida na tarde desta sexta-feira (18) pela juíza de Direito Lívia Regina Bissoli Lage, após o Tribunal do Júri, composto por quatro homens e três mulheres, decidir que Sergio Gaudio é culpado.
O julgamento, que durou sete horas e 30 minutos, aconteceu no Fórum Criminal de Vitória. O empresário vai cumprir a pena, inicialmente em regime fechado, por homicídio duplamente qualificado.
"A culpabilidade é exacerbada, sendo extremamente reprovada a conduta do réu, restando comprovado que ele planejou e premeditou detalhadamente o delito junto com terceiras pessoas, sendo seu idealizador e principal responsável pelo crime", registrou a juíza na leitura da sentença.
Vanuza foi morta aos 28 anos com dois tiros - um na cabeça e outro no ombro - em outubro de 2001, em Jardim Camburi, Vitória. Ela saía da clínica onde trabalhava quando foi abordada por um homem, um pistoleiro contratado para cometer o crime. Sergio Gaudio, com quem ela mantinha um relacionamento na época, era o principal suspeito do crime, apesar de, ao longo dos últimos 20 anos, nunca ter sido preso.
O casal tinha um relacionamento conturbado, com muitas brigas. O empresário era ciumento e teria até contratado um detetive para vigiar a companheira a fim de saber o que ele fazia, o que foi destacado na sentença de condenação. Após descobrir uma traição, ele teria então planejado a morte dela. Antes disso, contudo, fez um seguro de vida no nome de Vanuza, do qual ele era o único beneficiário.
"As consequências extrapenais são gravosas presente à imensa dor gerada na genitora da vítima decorrente da morte violenta de um ente querido, a qual se torna ainda mais intensa e infindável quando há inversão da ordem natural da vida com a perda de uma filha; o comportamento da vítima não pode ser valorado em desfavor do réu", destacou a magistrada, sentenciando 21 anos, 10 meses e 15 dias de pena.
A mãe de Vanuza estava presente no julgamento e não conteve a emoção ao saber da condenação. Abraçada a uma sobrinha, ela chorou nas escadas do Fórum de Vitória e repetiu: "Obrigada, meu Deus".
Para Tiago Figueira, advogado que faz a defesa da família e atuou como assistente de acusação no processo, a sensação é de alívio e de que a justiça, ainda que de forma tardia, foi feita. "A família da vítima ficou mais de 20 anos aguardando este momento. Demorou, mas aconteceu. Hoje, ele sai daqui preso e condenado", destacou.
Para o promotor de Justiça Rodrigo Monteiro, que atuou no caso, a condenação do réu foi a medida mais justa que poderia ter sido alcançada na tarde desta sexta-feira. Contudo, carrega uma reflexão sobre a morosidade do sistema de Justiça.
"Um processo desse é pra fazer uma reflexão sobre qual sistema de prisão a gente quer para o nosso país. Um réu com um poder aquisitivo maior consegue levar um caso desse por anos, interpondo uma série de recursos. Esse crime só não prescreveu por questão de poucos meses. Não é uma crítica à advocacia, mas ao sistema que permite isso. Muita gente se preocupa apenas com o direito do réu, mas a família também tem direito, e a sociedade também. Nós temos duas vítimas, quem morreu e a sociedade", afirmou.
Ele acrescentou: "Saio com a sensação de que fizemos nosso trabalho, e, a família, com sensação de justiça. Obviamente queríamos que essa prestação de contas tivesse sido lá trás".
O advogado Jorge Benedito de Britto, que faz parte da defesa de Sergio Magalhães Gaudio, informou, via telefone que recorreu, já no plenário, da decisão. Na avaliação dele, a sentença "foi contrária ao que estava nos autos". Ele também disse que a defesa vai interpor um habeas corpus contra o decreto de prisão.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta