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Entenda a disputa que motivou assassinato de perito no Jockey Clube do ES

Entenda a disputa que motivou assassinato de perito no Jockey Clube do ES

Após mais de 4 meses, a Polícia Civil concluiu que o ex-perito da PC foi morto após iniciar um processo de suspensão e cancelamento de títulos do local; corpo dele ainda não foi encontrado

Publicado em 21 de dezembro de 2022 às 20:17

Ícone - Tempo de Leitura 7min de leitura
Caminhonete de Celso Marvila Lima foi encontrada incendiada em Xuri, Vila Velha
Caminhonete de Celso Marvila Lima foi encontrada incendiada em Xuri, Vila Velha. (Fabricio Christ / Montagem A Gazeta)

Polícia Civil concluiu que o perito aposentado, Celso Marvila Lima, de 64 anos, foi assassinado porque havia começado a suspender e cancelar títulos do Jockey de Clube do Espírito Santo, localizado em Itaparica, Vila Velha, o que gerou insatisfação em pessoas próximas a ele. O ex-integrante da PC capixaba foi executado no dia 3 de agosto. O carro dele, uma caminhonete L200, foi encontrado queimado horas depois na estrada para Xuri, no mesmo município.  

Uma operação realizada nesta quarta-feira (21), visando cumprir seis mandados de prisão temporária, resultou na prisão de quatro pessoas envolvidas no assassinato do perito. 

A reportagem de A Gazeta teve acesso aos nomes e às idades dos envolvidos no crime, e a corporação explicou a relação entre os detidos e qual teria sido a participação de cada um no homicídio, cuja execução teria tido o envolvimento direto de três pessoas, incluindo um bombeiro e um policial.

Entenda a disputa que motivou assassinato de perito no Jockey Clube do ES

O policial militar reformado Lucas dos Santos Lage, de 35 anos, e um dos gerentes do Jockey Clube, identificado como Milton Candido da Silva Filho, de 40 anos, já haviam sido presos anteriormente.

Até o momento, a polícia ainda não encontrou o corpo do perito aposentado e as investigações seguem para mais informações.

Motivação

Marvila, que era presidente do Jockey Clube há cerca de um ano, passou a suspender títulos de inadimplentes e de outros sócios, pois o local estava em processo de venda de algumas áreas por valores milionários.

De acordo com o titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha, delegado Tarik Souki, o Jockey Clube já havia vendido a parte dos fundos por R$ 40 milhões e estava em processo para venda da parte da frente, pelo valor de aproximadamente R$ 140 milhões.

"Quem estava encabeçando a venda era o Celso Marvila. Ele deu início a uma cassação de títulos, onde vários foram cancelados, inclusive de uma determinada pessoa, que era muito amigo do Marvila. Ali surgiu a desavença. Era notória a desavença, ocorreram ameaças e diversas situações que fizeram com que as pessoas soubessem dessa desavença”, explicou o delegado.

Essa pessoa, conforme conseguiu apurar a reportagem de A Gazeta, seria o sargento do Corpo de Bombeiros, Wenos Francisco dos Anjos. Ele estava no Jockey Clube no dia que o perito foi morto, junto aos outros quatro suspeitos. 

Somente a namorada do sargento, Andressa Rodrigues Corrêa, que não estava no local no momento do crime, detalhou a PC.

O que aconteceu no dia do crime?

De acordo com o delegado Tarik, o perito aposentado Celso Marvila, foi morto no dia 3 de agosto de 2022, entre 17h e 18h30. Isso porque às 17 horas, três funcionários viram a vítima pela última vez e às 18h46 o carro de Marvila sai do Jockey Clube e é levado até o local onde foi encontrado incendiado.

A Polícia Civil acredita que nesse meio tempo, a vítima foi capturada e morta em um dos pavilhões que fica na parte mais baixa do Jockey Clube.

Por imagens de videomonitoramento de um shopping que fica próximo do local, a polícia descobre que às 18h39 o carro da vítima é levado até esse pavilhão. Nesse tempo, o carro de outro comparsa estaciona e fica por cerca de cinco minutos. Em seguida, sai, acompanhada do carro de Marvila.

Vila velha
Junto ao carro incendiado, os investigadores encontraram o distintivo da Polícia Civil do perito assassinado. (Divulgação/Polícia Civil)

Conforme apontado pelas investigações que analisaram mais de 300 horas de imagens de videomonitoramento, o corpo do perito deve ter sido levado por outro veículo até um local – ainda não identificado – diferente de onde a caminhonete da vítima foi achada incendiada, no dia 4 de agosto.

De acordo com o delegado Tarik Souki, dos seis presos, cinco estavam no local e no mesmo horário do crime no Jockey Clube.

Apesar de ser difícil determinar o que cada um fez, por falta de confissões, de acordo com investigações, a polícia conseguiu determinar que dos cinco que estavam no local, três deles participaram diretamente na execução e eliminação dos vestígios.

A Polícia Civil não informa quais nomes dos suspeitos que participaram da execução, mas a reportagem de A Gazeta obteve a informação que foram o sargento do Corpo de Bombeiros, Wenos Francisco dos Anjos, o PM Lucas dos Santos Lage e um dos gerentes do Jockey Clube, Milton Candido da Silva Filho, que também era muito amigo do Wenos.

O irmão do sargento, Wesley Francisco dos Anjos e Anderson Sirilo, de 40 anos, funcionário do Jockey Clube, apenas presenciaram o crime.

A namorada do sargento, Andressa Rodrigues Corrêa, foi presa porque sabia do crime e colaborou com o álibi do companheiro.

Às 17h08 do dia 3 de agosto, o carro (vermelho e antigo) de um dos investigados já está no Jockey (Divulgação/Polícia Civil)

Qual a relação dos envolvidos?

O sargento do Corpo de Bombeiros, Wenos Francisco dos Anjos, era quem tinha a maior desavença por conta da suspensão de títulos do Jockey Clube. O irmão dele, Wesley Francisco dos Anjos, também era sócio do local e não estava satisfeito com a administração do Marvila.

O soldado Lucas dos Santos Lage apenas participou por ser muito amigo dos irmãos.  O gerente do Jockey Clube, Milton Candido da Silva Filho, também era muito próximo do sargento. Já o funcionário do clube, Anderson Sirilo, a polícia não conseguiu descobrir a motivação para a participação, mas acredita que ele estivesse insatisfeito com administração de Marvila. 

A namorada do sargento, Andressa Rodrigues Corrêa, não esteve envolvida diretamente no assassinato, apenas colaborou com o álibi do companheiro. 

O crime foi premeditado?

Sem as confissões dos envolvidos, a Polícia Civil não conseguiu informações que apontem a premeditação do crime. O que se sabe é que já havia uma desavença anterior

Os delegados envolvidos na investigação do perito Celso Marvila deram detalhes da investigação nesta quarta (21)
Os delegados envolvidos na investigação do perito Celso Marvila deram detalhes da investigação nesta quarta (21). (Divulgação/Polícia Civil)

“O edital para a venda do Jockey já havia sido lançado para aquela semana. Curiosamente, no dia depois da morte do perito, o edital da venda foi cancelado. Possivelmente, pode ter sido premeditado ou eles podem ter tido uma oportunidade”, disse.

Suspeito foi a boate comemorar

A partir do momento que o carro foi incendiado, os cinco suspeitos se separam para construir seus álibis. Um deles, o soldado reformado da PM Lucas, vai até uma boate em Vila Velha, onde fica por 30 minutos e sai correndo do local. Segundo a polícia, ele saiu para eliminar os vestígios ou acabou de eliminar a vítima. O que se sabe é que ele enviou uma mensagem dizendo que resolveria um problema que estava na mão dele.

Vila Velha
O anel de ouro utilizado pelo perito foi derretido e dele foi produzido um cordão, apreendido com um dos suspeitos. (Divulgação/Polícia Civil)

Cerca de 1h30 ele retorna a boate mais calmo para comemorar.

“Conseguimos por imagens o momento que esse suspeito entra na boate para comemorar a morte do policial. Ele sai para acabar de eliminar vestígios conforme nossas apurações. Depois ele retorna e continua a comemoração. Ele sai da boate às 4h50, no mesmo momento que dois indivíduos retornam ao pavilhão e fazem uma busca, inclusive com lanternas, mostrando que estavam fazendo uma limpeza da região. Está comprovado que eles saíram do local, colocaram roupas de corrida para parecer que estavam correndo, e voltaram para um local próximo para acabar de eliminar vestígios onde possivelmente enterraram o perito”, destacou o titular da DHPP Vila Velha, delegado Tarik Souki.

Crime esclarecido

De acordo com o titular da DHPP Vila Velha, delegado Tarik Souki, não restam dúvidas que o perito aposentado Celso Marvila foi assassinado. Ele explica que os suspeitos usaram métodos antigos para cometer o crime.

“Alguns dos suspeitos são profissionais nessas situações, conseguimos traçar perfis de alguns deles como sendo indivíduos que participam de grupos de extermínio e narcotráfico. Então eles fazem isso, desaparecem com o corpo e incendeiam o veículo para eliminar provas, mas buscamos outros meios de provas e conseguimos determinar que Marvila foi assassinado”, ressaltou o delegado, que pede ajuda da população para informações sobre o paradeiro do corpo do perito, através do Disque-Denúncia (181).

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