Os índices de violência em Vila Velha estão crescendo cada vez mais. Exemplo disso é o número de assassinatos na cidade, que aumentou em 156% nos dois primeiros meses de 2022 em relação ao mesmo período no ano anterior. O principal motivo para a escalada desses índices é a guerra do tráfico de drogas, que coloca frente a frente facções rivais de bairros vizinhos. E essa disputa começou a partir da tentativa de uma liderança do tráfico do bairro Ibes de retomar o comando de outras regiões.
Luan Resende Buarque foi preso no dia 9 de junho de 2021, no bairro Méier, no Rio de Janeiro. Contra ele, havia um mandado de prisão em aberto pela morte de Luiz Fernando Albino Nascimento, de 12 anos, que aconteceu no dia 18 de fevereiro de 2019, no bairro Glória, em Vila Velha. Luan, considerado um dos criminosos mais procurados do Estado, foi transferido para o Espírito Santo.
"No ano passado, nós procurávamos uma liderança do Ibes. Nós conseguimos com a Polícia Civil do Rio de Janeiro. Esse indivíduo, na época da pandemia, estava com sintomas de Covid-19, ele é atendido em um hospital do Rio de Janeiro e ele então foi preso. Ele era o mais procurado do município de Vila Velha. Esse indivíduo foi trazido para o Espírito Santo, era uma liderança do tráfico do Ibes e, então, em dezembro, ele foi posto em liberdade", explicou o secretário de Segurança Pública do Estado, Alexandre Ramalho.
Luan permaneceu na prisão até dezembro de 2021, quando foi concedido a ele o alvará de soltura. A partir daí, ele passou a tentar retomar o poder de regiões que ele havia perdido o controle no período atrás das grades. Segundo Ramalho, os confrontos entre os bairros Ibes, Santa Mônica e Santa Rita causam mortes tanto de criminosos quanto de inocentes.
"A partir de janeiro, durante fevereiro e, agora em março, estoura essa guerra que nós estamos vendo. O resultado é o cara tentando retomar seu ponto de venda de entorpecentes que ele havia perdido no período em que fica preso. E aí vem uma guerra, em que esses vagabundos tinham seus alvos definidos. A gente lamenta a morte de todos, agora, o lamento maior é quando um inocente é atingido", disse.
De acordo com Alexandre Ramalho, Luan possui 22 passagens pela polícia, por homicídio, tráfico de drogas, entre outros crimes.
O delegado Tarik Halabi Souki, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha, foi quem detalhou a morte de Luiz Fernando. Ele explicou que o garoto fazia parte da organização criminosa comandada por Luan e que a motivação da morte foi o fato de Luiz Fernando ter roubado dinheiro da venda de drogas.
"Esse indivíduo foi preso no Rio de Janeiro em razão do mandado de prisão com relação ao homicídio contra o jovem Luiz Fernando, garoto de 12 anos que foi cooptado pelo tráfico, por esse grupo do qual ele faz parte. Ele vendia drogas na pracinha do Ibes e foi executado porque, em um plantão de venda de drogas, ele se apropriou do dinheiro", contou o delegado.
A partir da soltura de Luan e da escalada da onda de violência em Vila Velha, Tarik Souki explicou que a DHPP fez uma operação contra o tráfico de drogas no município e identificou quatro outros gerentes e lideranças da região. Contra eles, a partir dessa ação policial, foram emitidos mandados de prisão preventiva.
Os procurados são: Rodrigo de Almeida Santiago, vulgo "RDG"; Gabriel de Andrade Senna, vulgo "Bolacha" ou "BL"; Pablo Domingos Carreiro, vulgo "Bandidinho"; e Vitor Caldeira Santos, vulgo "VK", além do próprio Luan.
A vítima mais recente dessa guerra foi Jhordyuri de Almeida Benincá, de 19 anos, executado no bairro Santa Mônica na noite de quarta-feira (2). Ele estava caminhando com o tio, quando dois criminosos aparecem e atiram contra o jovem. O tio conseguiu fugir sem ser atingido.
A Polícia Civil acredita que a morte de Jhordyuri tenha sido um revide ao ataque que aconteceu no bairro Ibes em 19 de fevereiro e que vitimou a estudante de Direito Julia Gláucia Ribeiro Pereira, de 31 anos. Ela foi alvejada por dois homens que passavam em uma motocicleta na Rua Presidente John Kennedy.
O coronel Alexandre Ramalho, secretário de Segurança Pública do Estado, declarou que Jhordyuri e o tio, que sobreviveu ao ataque, não possuíam passagens pela polícia ou ligação com o tráfico de drogas da região. Ele contou que a morte do jovem foi realmente uma espécie de vingança pela execução no Ibes.
"Aquela cena pesada, da moto atirando no Ibes, que vem a vitimar uma moça, nós tivemos agora cena semelhante em Santa Mônica. O tio, que foi quem sobreviveu, alega para a gente que estava indo buscar um amigo em Guaranhus, que eles foram a pé de Santa Mônica até Guaranhuns. Quando eles estão próximos a um veículo na esquina, surgem dois indivíduos, um deles começa a atirar na direção do tio", disse o secretário.
Nos dois primeiros meses de 2022, 41 assassinatos foram registrados no município de Vila Velha. Foram 22 homicídios ao longo do mês de janeiro e 19 durante fevereiro, o que significa um aumento de 156% em relação ao mesmo período de 2021.
Vila Velha vai na contramão do Estado, que observou uma redução significativa. Nos dois primeiros meses de 2022, foram observados 164 homicídios, o menor número em 26 anos. A região da Grande Vitória, em contrapartida, foi a única que teve aumento - que foi de 6%.
Dados mostrados no programa Bom Dia ES, da TV Gazeta, nesta quinta-feira (3), mostram que o interior do Estado teve uma redução significativa no número de assassinatos nos dois primeiros meses do ano, com destaque para a Região Sul, que apresentou uma diminuição de 72% nas mortes violentas.
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