Uma operação deflagrada na manhã desta sexta-feira (4) resultou na prisão de 10 advogados suspeitos de atuarem como "pombos-correios", transmitindo recados de traficantes do Primeiro Comando de Vitória (PCV). Um relatório de análise telemática da Superintendência de Polícia Especializada (SPE), obtido pela TV Gazeta em outubro deste ano, mostra como é a atuação desses profissionais investigados por ligação com a facção.
A facção PCV é chefiada por Carlos Alberto Furtado da Silva, vulgo Beto, que esteve preso na Penitenciária de Segurança Máxima II (PSMA), em Viana, na Grande Vitória, e, em 19 de julho do ano passado, foi transferido para uma prisão federal no Norte do país. Fora da cadeia, o braço direito de Beto é Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo – procurado pela polícia.
Considerado pela Polícia Civil o chefe “in loco” do PCV, Marujo comanda o tráfico de drogas do Bairro da Penha e Bonfim, na Capital, e responde diretamente à cúpula da liderança da facção que domina a região e se estende a vários bairros – não apenas na Grande Vitória, mas também no interior do Estado.
Advogados presos nesta sexta-feira (4):
O único foragido é Marco Aurelio de Souza Rodrigues.
A defesa de Davi Dickson Meroto Lamas Pereira solicitou um habeas corpus visando a "transferência do paciente para prisão domiciliar, mediante o uso de tornozeleira eletrônica ou qualquer outra medida cautelar alternativa à prisão", mas o pedido foi indeferido pela Justiça.
O relatório aponta que Marujo responde diretamente a Beto e a comunicação deles ocorre por meio de advogados, denominados pela polícia de "pombos-correio", que utilizam dessa função para ter acesso aos presídios em qualquer dia e horário.
Segundo a investigação, os advogados escrevem, de próprio punho, as ordens, questionamentos e informações que o chefe do PCV tem para repassar. Após isso, o advogado fotografa a carta grafada dentro do presídio e envia, via WhatsApp, a imagem da carta para Marujo.
Marujo, por sua vez, quando necessita se comunicar com Beto, escreve notas de texto em seu celular e posteriormente as compartilha com o advogado, que vai ao presídio transmitir o recado.
As investigações apontaram que ao facilitar a comunicação dos criminosos, os advogados atuaram como coautores dos crimes, ao transmitir recados com ordens para o cometimento de crimes. Como noticiado em agosto de 2022, alguns advogados estão sendo investigados e suspeitos de “leva e traz” para traficantes.
As investigações concluíram que, em algumas ocasiões, a organização criminosa recebe informações e consegue se antecipar a operações policiais. Esses dados são compartilhados por advogados, mas também por policiais, ainda não identificados.
O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) deflagrou nesta sexta-feira (4), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a Operação TIES, com objetivo de cumprir 11 mandados de prisão preventiva contra advogados. Os alvos são suspeitos de atuarem como "pombos-correios" para lideranças da facção Primeiro Comando de Vitória (PCV). Até o momento, 10 profissionais foram presos e um que figura como réu está foragido.
A investigação foi instaurada pelo Gaeco para apurar as ações delituosas praticadas por advogados que se utilizam indevidamente de prerrogativas da advocacia para atuar na transmissão de mensagens ilícitas entre integrantes do PCV.
De acordo com o MPES, ficou constatado que esses advogados viabilizam a manutenção do poder e gestão de lideranças de grupos criminosos sobre os crimes perpetrados, em relação a tráfico de entorpecentes, aquisição e porte de armamentos e munições, execução e planejamento de crimes de homicídio.
A denúncia foi recebida pela Justiça, que decretou a prisão preventiva dos réus e determinou a suspensão do exercício da advocacia. Dentre os crimes imputados estão os de integrar organização criminosa e tráfico de drogas. Os autos tramitam perante a 1ª Vara Criminal de Viana.
A reportagem de A Gazeta procurou a Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo, em busca de um posicionamento. O texto será atualizado caso o órgão envie uma resposta.
Após a publicação desta matéria, a defesa de Davi Dickson Meroto Lamas Pereira solicitou um habeas corpus visando a "transferência do paciente para prisão domiciliar, mediante o uso de tornozeleira eletrônica ou qualquer outra medida cautelar alternativa à prisão", mas o pedido foi indeferido pela Justiça. O texto foi atualizado.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta