De dentro da cadeia, um integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital) no Espírito Santo enviava mensagens para seus "imediatos" no Norte do Estado. Nos bilhetes, havia ordens para execuções e ataques. Em três anos foram 18 vítimas, só em Jaguaré e Vila Valério. Assim se sustentava o esquema criminoso, que levou uma pancada da polícia nesta quinta-feira (23), com a prisão de um dos braços direitos do chefão do grupo.
O PCC é considerada a maior facção criminosa do país, com sede em São Paulo e ramificação em diversos outros estados, um deles o Espírito Santo. De acordo com a polícia, o integrante do grupo já está atrás das grades, mas não para de mandar. Através de bilhetes, ele dita as ordens que são entregues a seus "frentes", responsáveis por executá-las. Apesar de explicar como funcionam as determinações do chefão do tráfico, o nome dele não foi divulgado para não atrapalhar as investigações que seguem em andamento.
Magno de Souza Pinto, conhecido como "Guigui", era o "frente" em Jaguaré e Vila Valério. Ele foi preso nesta quinta (23), enquanto se escondia numa casa em Aracruz. Chefiando o grupo chamado "Tropa do Rato", ele era o homem de confiança do integrante do PCC preso.
Os ataques promovidos pelo grupo ao longo de três anos foram muitos, dentre eles um de grande repercussão, que vitimou uma família inteira. Conhecida como "chacina de Vila Valério", a ação criminosa aconteceu em 24 de fevereiro de 2022. Clauzira Flegler, de 41 anos; os filhos dela, Leandro Flegler, 22, e Karine Flegler, 15; e o namorado de Karine, identificado como Vinicius Silva Pinto, 25, foram assassinados.
De acordo com a polícia, Vinicius era o alvo, por ter envolvimento com o tráfico, e a família acabou sendo morta pelos criminosos como queima de arquivo.
No dia 1º de março deste ano, uma operação em Jaguaré acabou em troca de tiros entre o primo de Magno e policiais civis. Na ocasião, o primo, identificado como Jhon Myke da Silva Mariano, foi morto. Ele estava com arma, munição e drogas.
Desde a morte do primo de Magno, a Tropa do Rato planejava se vingar dos policiais civis envolvidos na ação. Prova disso foi um bilhete interceptado no presídio em que o chefão do grupo está preso, dando ordens para que os agentes fossem mortos.
Apesar de não citar especificamente os nomes dos policiais, a liderança do grupo ordenava que uma retaliação fosse feita.
Segundo a polícia, os crimes praticados pela Tropa do Rato, ligada ao PCC, eram sempre muito violentos. Bem armados, o grupo não tinha pena de gastar munição. Eles deixavam as vítimas cheias de perfurações, principalmente na cabeça.
"Em três anos de investigação foram presos 18 integrantes da Tropa do Rato, todos praticavam crimes de homicídio contra pessoas do próprio grupo e de grupos rivais na cidade (Jaguaré). Além disso, cinco integrantes vieram a óbito em confronto contra a polícia na região. O grupo é altamente violento, armado, inclusive já apreendemos anteriormente a pessoa que vendia armas para o grupo. Eles sempre matavam as vítimas com a mesma característica: muitos tiros no rosto. Eram extremamente cruéis", pontuou a delegada Gabriella Zaché dos Santos, titular da Delegacia de Policia (DP) de Jaguaré.
O nome do preso que envia bilhetes com ordens para assassinatos não foi divulgado pela polícia, que justificou a possibilidade de atrapalhar as investigações que seguem em andamento. O texto foi atualizado.
A versão anterior desta reportagem afirmava equivocadamente que os 18 assassinatos ocorreram em Jaguaré, mas homicídios também foram registrados na cidade de Vila Valério. O texto foi corrigido.
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