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Estratégias de pedófilos para atrair crianças

Estratégias de pedófilos para atrair crianças

Perfis falsos para ganhar confiança e chantagem para conseguir imagens estão por trás dos crimes

Publicado em 4 de março de 2019 às 00:52

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(Amarildo)

A internet é uma rede com vários recursos de informações e serviços. Graças à ela, podemos fazer todo tipo pesquisa, aprender sobre qualquer coisa, viajar sem sair de casa e se comunicar com pessoas do mundo todo. E é justamente nesse ponto que uma ferramenta positiva pode virar uma verdadeira armadilha.

É que na internet a gente nunca tem certeza de quem realmente está do outro lado da tela. E aquele amigo virtual super engraçado, gente boa e bonito pode ser um criminoso disfarçado. Segundo a Polícia Civil do Espírito Santo, abusadores criam perfis falsos em redes sociais para adicionar crianças e adolescentes e convencê-las a enviar fotos ou vídeos íntimos. Depois, para conseguir mais imagens, eles ameaçam publicar a intimidade das vítimas na internet.

De acordo com o delegado Brenno Andrade, Titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), os pedófilos da internet usam as mais diversas formas de atrair vítimas.

Em fevereiro, um homem de 39 anos foi preso em Minas Gerais acusado de exigir fotos íntimas, via internet, de uma menina de 11 anos do Espírito Santo. Ele criou um perfil falso no Facebook com o nome e foto da própria criança.

O acusado exigia as fotos íntimas da menina. Para isso, fazia ameaça de espalhar notícias falsas de que a menina tinha relações sexuais com o próprio pai. Com medo, a criança acabava enviando as fotos.

“Mas esses casos de abordagens tão diretas não são comuns. Normalmente o pedófilo cria um perfil fingindo ser uma criança e começa contato com vítima. O criminoso pega confiança da vítima e solicita fotos e vídeos íntimos de uma forma lúdica, mexendo com a curiosidade natural da puberdade. Há casos, por exemplo, onde o bandido pergunta se a criança já desenvolveu o corpo e pede para ver, prometendo mostrar o corpo também”, contou.

Há ainda aqueles que criam perfis falsos de personalidades e desenhos animados populares entre os menores e também de jovens bonitos para atrair adolescentes.

No Espírito Santo, a polícia recebe cerca de 40 casos por ano. Mas esse número é ainda maior, já que muitas vítimas sentem medo, vergonha ou sentimento de culpa, deixando de registrar a ocorrência.

“Muitas famílias não procuram a delegacia. As vezes os pais nem têm conhecimento ou ficam constrangidos de fazer a ocorrência, por acharem que é uma exposição. Mas de forma alguma a gente recomenda isso. Recomendamos que a denuncia seja feita porque é importante a identificação do criminoso para evitar não só que o menor seja vítima novamente, mas também que outras crianças e adolescentes sejam abordadas pelo pedófilo”, afirmou Andrade.

ENCONTROS

Além disso, há criminosos que obrigam os menores a terem encontros físicos, com a ameaça de publicar imagens íntimas das vítimas. “Lembro de muitos casos. Em um deles, a mãe descobriu e fingiu ser a filha, aceitando encontrar o abusador. Ela acionou a polícia e o pedófilo foi detido no local do encontro. Durante o tempo na DPCA, percebi que as denúncias desse tipo de crime aumentaram, os responsáveis estão ficando mais atentos”, disse o deputado estadual Lorenzo Pazolini, que por quatro anos foi titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).

SAIBA MAIS

Fiscalização

Os responsáveis pelas crianças e adolescentes têm o dever de fiscalizar para evitar que os menores sejam vítimas de crimes. No caso da internet, uma boa forma de prevenir é manter o canal do diálogo sempre aberto, criando uma relação de confiança para informar que a internet pode ser usada para coisas boas, mas também para coisas ruins.

Dados pessoais

É importante orientar para que as crianças e os adolescentes jamais forneçam para estranhos informações pessoais, fotos ou vídeos íntimos, mesmo que o remetente pareça ser um amigo, e nem mesmo que sob ameaça. Nesse caso, a melhor coisa a fazer é procurar a polícia. Uma dica importante é pensar: Se eu não falo com estranhos no ambiente real, também devo ter o mesmo cuidado na internet.

Limites

Os responsáveis também devem impor limites no tempo de uso da internet, motivando crianças e adolescentes a terem outras atividades.

Acesso

As senhas de acesso à redes sociais e conteúdos consumidos pelos menores devem ser fiscalizados. O computador deve ficar em área de acesso comum de todos da casa.

Filtros

Também é indicado que os responsáveis instalem filtros de conteúdo nos aparelhos usados pelas crianças e adolescentes, além de aplicativos que permitem acompanhar o que o menor acessa na rede.

Informação

Sites que reúnem informações importantes sobre os riscos e cuidados que devem ser tomados na internet: https://internetsegura.br https://defenda-se.com/

ONDE DENUNCIAR

Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC)

Endereço: Av. Marechal Campos, Nº1246, Bairro Bonfim, Vitória-ES.

Telefone: (27) 3137-2607

Atendimento ao público das 9 horas às 16 horas.

MENINAS DE 13 A 18 ANOS SÃO A MAIORIA DAS VÍTIMAS

A maior parte das vitimas desse tipo de pedofilia na internet é formada por meninas: pelo menos 60%. Já quando se fala no perfil dos abusadores, pelo menos 80% é formado por homens. Os criminosos usam muito a tecnologia, como o celular para agirem e cada vez criam novas táticas para abordar essas crianças e adolescentes.

"É um crime que tem crescido. Grande parte das vitimas do Espírito Santo são abordadas por pedófilos de outros Estados. E por mais absurdo que possa parecer, eles são muitos”.

O deputado estadual Lorenzo Pazolini (PRP), que por quatro anos foi titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), contou que em sua experiência como delegado percebeu que os autores de pedofilia costumam ser homens normalmente com idades entre 25 e 45 anos.

“São homens que geralmente possuem ocupação lícita, família e sem antecedentes criminais, muitas vezes acima de qualquer suspeita. Já as vítimas, em grande maioria são do sexo feminino, entre 13 a 18 anos, estudantes e que são envolvidas pelo mundo virtual”, conta.

COMISSÃO PARA TRATAR DO TEMA

Lorenzo Pazolini é deputado foi titular da DPCA por 4 anos. (Fernando Madeira)

Com o intuito de criar políticas de proteção e garantia dos direitos de crianças e adolescentes, a Assembleia Legislativa do Espírito Santo incluiu na Comissão de Política sobre Drogas questões relativas à violações dos direitos de menores, inclusive casos de pedofilia. A inciativa foi do deputado estadual Lorenzo Pazolini, que por quatro anos foi titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).

Segundo Pazolini, a ideia é levar orientações de forma preventiva e receber denuncias para auxiliar na investigação da polícia.

“Estamos definindo os detalhes. Mas o objetivo é atuar no crime já ocorrido e para evitar novas vítimas. Vamos chegar aos jovens e colaborar para uma solução mais rápida nos crimes, como um link entre a população e a polícia”, explicou.

A alteração aconteceu no último dia 13 de fevereiro quando os deputados acataram, em regime de urgência, a mudança nas atribuições da comissão, que passa a chamar-se Comissão de Proteção à Criança e ao Adolescente e de Política sobre Drogas.

A deputada Iriny Lopes sugeriu que fosse criada uma comissão específica para o assunto. Mas para Pazolini, é necessário prezar pela economia. “Nosso intuito foi

atender ao princípio da economicidade. Achamos desnecessário criar uma nova estrutura dentro da Casa. A nossa proposta é para enxugar a máquina pública”, disse.

PORNOGRAFIA INFANTIL NA MIRA DA POLÍCIA FEDERAL

Policiais participam de operação da Polícia Federal de combate a pedofilia em todo o Brasil . (Arquivo / A Gazeta)

Nos últimos meses, a Polícia Federal realizou diversas operações contra a pornografia infanto-juvenil. No último dia 22, a PF prendeu no Espírito Santo um dos 100 maiores distribuidores de materiais ilícitos envolvendo crianças e adolescentes.

Para o responsável pelas investigações no Estado, delegado Pablo Bergmann, é preciso conscientização no uso da internet e um Centro Nacional para tratar do assunto.

O delegado explicou que o trabalho realizado pela Federal é diferente do que é feito pela Polícia Civil. Enquanto o abuso sexual e a posse de materiais fica a cargo da PC, a PF é responsável pelos casos envolvendo compartilhamento de imagens e transnacionalidade – quando envolve criminosos de outros países.

“Em 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que a transnacionalidade significa quando há a possibilidade de pessoas de mais de um país acessarem o conteúdo ilegal. Se o criminoso coloca o material ilícito em um site aberto que qualquer pessoa consiga acessar ou envia para usuários de outros países, a investigação será atribuição da PF. Já quando todos os usuários que trocam determinado material ilícito são do Brasil ou quando acontece um abuso fora da internet, via de regra é a PC que investiga”, explica.

O delegado completa que há ainda casos onde durante a investigação de crimes transnacionais, a PF descobre que o próprio criminoso que envia os materiais para outros países comete os abusos no Brasil. Nesse caso, a investigação fica interligada com a Polícia Civil e depois é encaminhado para a justiça federal ou estadual.

Informação

Para o delegado, uma forma de tentar evitar que crianças e adolescentes continuem sendo vítimas é a conscientização sobre risco de uso na internet.

“As pessoas confundem a habilidade técnica que uma criança tem para usar computador com maturidade dela entender os riscos associados àquilo. O próprio Facebook coloca a idade mínima de 13 anos para os usuários. Mas sabemos que é comum crianças mais novas com perfis próprios utilizando sem nenhuma supervisão”.

O delegado completa que é comum que os pais pensem que o filho trancado em um quarto mexendo no celular está seguro. Quando na verdade, o menor pode estar correndo inúmeros riscos.

“É interessante pensar: Se eu não deixaria meu filho sozinho em um rodoviária com mil pessoas estranhas em volta, por que eu deixaria esse mesmo filho sozinho em uma rede com dois bilhões de pessoas?”, indaga.

No papel

Bergmann explica ainda que não existe um banco de dados que centralize as estatísticas de números de pornografia infanto-juvenil, além de outros dados. Segundo o delegado, a Polícia Federal propôs a criação de um Centro Nacional para tratar o assunto, porém o projeto nunca saiu do papel.

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O Centro Nacional de Proteção Online à Criança e ao Adolescente (Cenapol) chegou a ser anunciado em 2011. A ideia era de concentrar em um único local as informações colhidas pelas polícias Federal, Civil e Militar, além treinamento de agentes para identificar como os criminosos atuam na internet e o perfil das vítimas.

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