Quatro mulheres foram presas de forma temporária durante a Operação “Grande Família”, do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), na última quarta-feira (1º) que investiga a formação de uma quadrilha envolvida com o tráfico de drogas em Linhares, no Norte do Estado. Uma das envolvidas é a estudante de Direito e ex-estagiária do Fórum de Linhares Yasmin Negrelli, suspeita de ter repassado informações sigilosas do Poder Judiciário ao grupo criminoso.
Além de Yasmin, foram presas Maysa Gallon da Silva, Ana Carolina dos Santos Marassati e Cristina Pinheiro de Oliveira. As suspeitas foram encaminhadas para a unidade prisional de Colatina, no Noroeste capixaba, onde vão ficar presas durante 30 dias. As prisões aconteceram durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão e de prisão temporária em Vitória e em Linhares.
Segundo as investigações, Ana Carolina e Cristina mantinham contato direto com Elder Rafael Zanelato, suspeito de atuar como traficante no município. Em análises feitas em um celular dele, apreendido após o homem ser preso, supostamente constam mensagens com as duas mulheres.
Consta ainda na denúncia que Yasmin Negrelli, enquanto era estagiária do Fórum de Linhares, pode ter utilizado a senha de acesso ao sistema do Poder Judiciário para fornecer informações ao grupo. As investigações encontraram mensagens de Elder citando que ela consultava no sistema se a pessoa possuía mandado de prisão.
Há indícios também de que o suspeito frequentava a casa de Ana Carolina, onde fazia o preparo das drogas para comercializar. Já Cristina seria mãe de um comparsa de Elder, um adolescente que está internado em uma unidade do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases).
Já Maysa Gallon, uma estudante de Medicina, foi presa durante um cumprimento de mandado de busca e apreensão em Bento Ferreira, na Capital capixaba, onde os agentes encontraram drogas, dinheiro e equipamentos eletrônicos. Ela é natural de Linhares, mas atualmente mora em Vitória.
As apurações feitas pela equipe de investigação apontam que a estudante informou a Elder que venderia o que sobrasse de entorpecentes que ela possuía.
De acordo com o processo, dentre as informações colhidas pelo Ministério Público, foi possível chegar ao quarteto quando a equipe de investigação apreendeu o celular de Elder Rafael Zanelato. Ele foi preso em julho deste ano, no momento em que militares o encontraram preparando entorpecentes para vender. Elder chegou a ser solto, mas depois teve a prisão preventiva decretada por descumprir medidas cautelares.
As apurações apontam ainda que Ana Carolina, no mesmo dia em que havia sido conduzida à delegacia, em 12 de julho, passou informações a Elder sobre onde estava a chave da casa dela. Ela também informou que Yasmin iria até o local para buscar algo que estaria escondido no imóvel.
Naquele mesmo dia, o homem conversou com um contato, chamado “Deus é Fiel”, dizendo que estava preparando drogas na casa de Ana Carolina no dia anterior com um menor de idade – o mesmo que está internado no Iases. Nas mensagens, Elder também apontou que a mãe de Ana Carolina chegou ao local e que ele conseguiu retirar os materiais do imóvel antes dos policiais chegarem. Apenas a mulher deu depoimento aos agentes.
O entendimento das autoridades é de que há indícios de que Elder e o adolescente preparavam drogas na casa da mulher – mãe de Ana Carolina – e que com a condução de Ana à delegacia, Yasmin foi até a residência e recolheu os entorpecentes para que a polícia não conseguisse localizá-los.
Ainda no dia 12, o indivíduo também trocou conversas com a mãe do adolescente, Cristina Pinheiro de Oliveira, e afirmou que uma amiga, Yasmin, trabalhava no Fórum de Linhares e podia consultar mandados de prisão.
O juiz Tiago Favaro Camata, responsável pela decisão da expedição dos mandados de busca e apreensão e de prisão temporária, considerou que “os elementos informativos reunidos pelo Ministério Público representam indícios de que os investigados acima citados podem integrar grupo criminoso dedicado ao tráfico de drogas, inclusive contando com pessoa vinculada ao Poder Judiciário”.
Segundo o magistrado, a prisão é vista como necessária para a continuidade das investigações, que ainda exigem diligências. “Havendo sérios riscos de que, em liberdade, os suspeitos venham a influenciar negativamente na colheita de provas”.
Acionado por A Gazeta, o Tribunal de Justiça informou que, assim que soube da prisão de Yasmin Negrelli, o responsável pela vara do Fórum de Linhares pediu a imediata rescisão do contrato da estagiária e o bloqueio do acesso ao sistema.
A reportagem tenta localizar as defesas dos citados. O espaço segue aberto.
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