Entre os presentes à posse da atriz Regina Duarte à frente da Secretaria Especial de Cultura, nesta quarta-feira (4), deve estar a pastora evangélica mineira Janícia Ribeiro Silva, 55, conhecida como Jane Silva, exonerada da secretaria a pedido de Regina em 7 de fevereiro.
Ela não sabia que iria à cerimônia, até porque as duas não se falam desde antes de sua saída. Mas a pastora foi convidada nesta segunda (2) para ser assessora parlamentar da deputada federal Alê Silva (MG-PSL) que a pediu para acompanhá-la na cerimônia.
"Eu falo que isso são as ironias do destino", brinca a pastora, que afirma não nutrir ressentimentos em relação à atriz, mas ainda se pergunta por que foi exonerada depois de três meses em diversos cargos no governo. "Tudo que eu tenho da Regina são momentos lindos, maravilhosos. Mas achei estranho que ela nem tenha me ligado, porque a Regina não me achou na rua, né?".
A pastora levou Regina Duarte a Israel em novembro de 2018 pela ONG Comunidade Internacional Brasil-Israel para receber o título extraoficial de "Embaixadora Extraordinária da Paz no Oriente Médio". A amizade entre as duas parecia forte. Tanto que, dias depois de ser convidada pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a Cultura, Regina convidou Jane para ser secretária-adjunta. A pastora já estava no governo desde novembro como secretária da Diversidade Cultural a convite do ex-secretário Roberto Alvim. Mas, em 23 de janeiro, depois da exoneração de Alvim e do sucessor José Paulo Martins, passou a ocupar interinamente a Secretaria da Cultura.
A demissão foi uma surpresa para ela. Hoje, no entanto, a pastora até acha bom não estar mais na secretaria. Isso porque, em seu lugar, entrou Odecir Luiz Prata da Costa, ex-diretor de Incentivo à Produção Cultural da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic): "Ela não trocou seis por meia dúzia. Trocou uma pessoa extremamente da direita por uma pessoa extremamente da esquerda", diz Jane.
Ela cita o fato que que, antes da posse, Regina pediu uma passagem de avião para que o cineasta Paulo Pélico a acompanhasse a Brasília:
"O Paulo Pélico postou vídeos pedindo a eleição do Haddad e apoiando 'Lula livre'. A ideia dela é de unir a direita e a esquerda. Ela tem total direito de ter os desejos dela, mas eu acho difícil. Desejo muita sorte para ela, mas eu, de uma certa forma, me sinto feliz de já não estar lá porque para mim ia ser muito difícil estar na gestão de alguém que daria vez também à esquerda".
Jane Silva nasceu em Sarzedo, perto de Belo Horizonte. Mãe de 3 filhos, se tornou pastora evangélica aos 18 anos. Ela circula há décadas entre políticos, mas a incursão no governo Bolsonaro -a quem apoia fortemente- foi curta. Segundo ela, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, teve papel importante em sua exoneração.
"Quando foi convidada para a Diversidade, a secretaria estava sob o Ministério da Cidadania. Assim que eu assumi, passou a ser do Turismo. Como o ministro não gosta de mim, comecei a sofrer muitas perseguições", conta. "Fui nomeada em 27 de novembro, mas ele só assinou minha posse em 8 de janeiro. Isso foi falta de profissionalismo. Nesse meio tempo, não assinava nada relacionado à pasta da Cultura porque eu estava lá. A secretaria parou".
Os dois são desafetos desde 2018, quando, segundo a pastora, ela realizou um evento em Belo Horizonte pelos 70 anos de Israel e se encontrou com Álvaro Antônio, então presidente do PSL, para pedir indicações de empresários para apoiar financeiramente o evento: "Não fui pedir dinheiro, gostaria de deixar bem claro. Ele se demonstrou muito amigável e falou que ia me ajudar. Porém, a partir daí, nunca mais atendeu meus telefonemas. Um dia, escrevi no Instagram que ele não tinha credibilidade em Minas. E ele escreveu que eu gosto de dinheiro. Depois, postei uma matéria sobre a caso do Laranjal de Minas e escrevi que não tinha bandido de estimação".
A situação só foi resolvida depois que Alvim pediu que ela se desculpasse com o ministro. Mas, logo em seguida, o próprio Alvim se viu fora a secretaria por causa do vídeo em que citou o ministro da Propaganda nazista, Joseph Goebbels. Segundo Jane, a saída de Alvim abriu caminho para a exoneração.
Apesar do pouco tempo, Jane acredita ter feito muito na secretaria de Cultura. Ela cita ter barrado um projeto de R$ 24 milhões de feministas do Rio Grande do Sul que queriam, segundo ela, "fazer uma lavagem cerebral em meninas a partir de 8 ano de idade" ensinando "que elas são donas de seu corpo e que podem ficar grávidas e tirar a criança quantas vezes quiserem".
"Quando eu vi isso, o meu coração quebrou. Não aceito isso. A vida é preciosa", conta. "Recebi uma missão de desaparelhar a Secretaria da Cultura. Então, eu saí tirando essas pessoas. Não porque não tinham competência e sim porque não estavam de acordo com a atual gestão do presidente Bolsonaro".
Entre os exonerados, a equipe da Comunicação da Secretaria. Isso porque ela desconfiou do que aconteceu com o tal vídeo do ex-secretário Alvim: "Eu tenho pulgas do tamanho de elefantes atrás da orelha com esse vídeo. Não era o Alvim que eu conheci".
Assim que assumiu interinamente a secretaria da Cultura, sua primeira ação foi pedir uma auditoria sobre o vídeo. Ela queria ver todo o material de filmagem que não foi usado. Segundo ela, o setor de Comunicação teria insistido e imposto ao Alvim que o fizesse naqueles moldes: "Não estou defendendo o Alvim. Mas acho que uma das coisas que eu gostaria que a secretária Regina fizesse era continuar com essa minha solicitação e mostrar para o Brasil o resultado da auditoria desse vídeo".
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta