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Facção arma bandidos em guerra pelo tráfico no Morro da Boa Vista

Facção arma bandidos em guerra pelo tráfico no Morro da Boa Vista

A guerra armada entre duas gangues da região de São Torquato, em Vila Velha, tem recebido a intervenção do braço armado de facção. Moradores vivem sob fogo cruzado

Publicado em 22 de agosto de 2019 às 05:57

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Região de São Torquato, em Vila Velha. . (Glacieri Carraretto)

A guerra armada entre duas gangues da região de São Torquato, em Vila Velha, tem recebido a intervenção do braço armado do Primeiro Comando de Vitória, o PCV. Responsável pela tráfico de drogas no Bairro da Penha, na Capital, o PCV disponibiliza armas e até alguns soldados a um dos grupos canela-verde, intensificando a tensão em São Torquato nas últimas duas semanas.

Os estampidos de tiros, a qualquer hora do dia ou da noite, têm feito parte da rotina dos moradores. Três pessoas já foram baleadas, entre elas um adolescente de 13 anos atingido no olho, durante a luz do dia.

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A gente não sabe como vai ser sair de casa. Ouve tudo, vê tudo e tenta seguir a vida de trabalho e vida social, mas é difícil até colocar o rosto do lado de fora da janela

Moradora da região
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Os moradores ouvidos nesta reportagem não serão identificados por medida de segurança.

DIVISÃO DE TERRITÓRIOS

O Morro da Boa Vista, parte alta de São Torquato, é hoje dividido em duas regiões: o Morro do Meio e o Morro da Bomba, onde fica uma das bocas de fumo mais movimentadas e lucrativas do bairro. “É gente chegando e saindo toda hora e todo dia”, diz um policial, que não quis se identificar. A disputa pelo ponto gera tiroteios em uma guerra com lados e aliado bem definidos.

De um lado, está o Bonde do Coroa Ladislau. Nesse grupo estão Ezequiel dos Santos Souza, o Batutinha, e Leonardo Rocha de Carvalho, o Leozinho do Vasco, que tiveram os nomes divulgados na última segunda-feira pela polícia.

Batutinha e Leozinho eram do Morro do Bomba até 2017 e foram expulsos do local após uma desavença com Helielson Santos da Vitória, o Dois, traficante do local.

Porém, Helielson foi preso e a região ganhou um novo dono, Leandro Leodimar Contes, o Leleu, segundo informações de moradores e também de policiais.

Helielson conseguiu a liberdade no início de 2019 e, desde então, aliou-se novamente com Leozinho, Batutinha e demais representantes do comércio de drogas dos bairros vizinhos, como Cobi de Cima e Cobi de Baixo, para retomar os pontos dos Morros da Bomba e do Meio.

DISPUTAS

No sábado do dia 3 de agosto, porém, Helielson foi de carro para uma festa em Guarapari. Ao retornar para Vila Velha, por volta das 16 horas, sofreu um acidente na Rodovia do Sol. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital.

Do outro lado dos confrontos, está o bando coordenado por Leandro Leodimar Contes, o Leleu. Ele comanda o tráfico no alto do Boa Vista, reunindo a região do Morro da Bomba e também o Morro do Meio.

E ONDE ENTRA O BAIRRO DA PENHA?

O Primeiro Comando da Capital, com base no Bairro da Penha, disponibilizou o braço armado dele, o Bonde do Trem Bala, para colaborar com o grupo de Helielson e companheiros.

"Fornecem armas e alguns soldados. Em troca, querem parte dos lucros do novo território que for conquistado e também ser ‘parceiro comercial’: que o grupo vencedor compre armas e drogas com o PCV", descreveu um policial que não quer ser identificado.

O mesmo relato é feito por moradores ouvidos pela reportagem. “Eles vão tomar tudo. Tem arma grande, até. Querem pegar o morro, mas o grupo do Bomba não arreda. E eu? eu quero sobreviver”, descreveu aflito.

Ouça áudio de morador do Morro da Boa Vista:

Morador do Morro da Boa Vista, em São Torquato, Vila Velha, conta sobre trafico e medo

 

ROTINA DE TIROS

Os registros de "bang-bang" no meio de ruas e vielas no Morro da Boa Vista começaram em janeiro, quando os barulhos de tiros ecoaram por mais de uma hora durante a madrugada do dia 21.

Em maio, Helielson e o bando dele intensificou o ataque apoiado por traficantes de Cobi de Cima e Cobi de Baixo. Nas redes sociais, Helielson e comparsas gravaram um vídeo exibindo armas e desafiando rivais.

VEJA VÍDEO

A situação mais crítica começou no final de julho. No dia 27, a Força Tática deteve duas pessoas carregando mochilas com quatro carregadores de pistola, 140 munições de vários calibre, dois rádios comunicadores e duas pistolas.

apreensão em julho feita pela Polícia Militar em são torquato. (Polícia Militar)

No dia seguinte, por volta das 15h, um adolescente de 13 anos foi atingido na cabeça. Ele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) e encaminhado para o Hospital Infantil de Vitória, onde continuava internado, segundo informações da polícia. O adolescente possuía mandado de busca e apreensão por tráfico de drogas.

>Três anos após tragédia, 2 mil vivem sob risco no Morro da Boa Vista

Em 30 de julho, uma nova troca de tiros às 10h15 fez uma outra vítima. Um morador, de 49 anos, caminhava para um bar quando ficou no meio do fogo cruzado. Ele foi ferido na barriga por um tiro e levado para um hospital.

No mesmo dia, à noite, a Polícia Militar foi ao local e fez apreensão na mata que margeia o topo do Morro da Boa Vista. Foram localizadas 65 buchas de maconha, três rádios comunicadores e dinheiro brasileiro e paraguaio.

Nos dias 4 e 5 de agosto, os disparos aterrorizaram moradores durante o dia e a noite. Um adolescente de 17 anos foi atingido por um tiro no braço e outro na perna na escadaria da Rua César Alcure, às 13h20. “Meu filho contou que ouviu do colégio os tiros. Não tinha condição mais de estudar, foi pra debaixo da mesa na hora porque era muito ‘pipoco’”, descreve uma moradora.

SEM AULAS

A situação fez com que, no dia 6, mais de dois mil alunos ficassem sem aulas, pois duas escolas municipais da região suspenderam as aulas devido à insegurança. “Cheguei na porta da escola pra deixar meu filho e os funcionários avisaram que não ia ter aula por causa do tiroteio. A gente sai na rua porque tem conta pra pagar, mas a vida fica assim, bagunçada e sem paz nem pra dormir”, desabafou outra mãe de aluno.

>Aulas são suspensas em duas escolas após tiroteio em Vila Velha

O QUE DIZ A POLÍCIA

Outro morador, diz que sente falta é da presença da polícia no local. “Ligamos para o 190 e para a Polícia Civil, mas eles não fazem nada. Não fazem vistoria e nem averiguação de nada. Eles (os traficantes) vem, fazem a bagunça deles e ficamos no meio disso tudo. A polícia faz uma varredura na rua, mas os bandidos estão dentro de casa trancados e escondidos”, dispara um morador.

Nossa equipe de reportagem esteve no bairro na tarde desta sexta-feira (09). Num período de duas horas, três viaturas da Polícia Militar fizeram ronda na localidade, sendo que uma delas permaneceu fixa.

Sobre o patrulhamento na região, a Polícia Militar disse que tem reforçado o policiamento no local se manteve reforçado, contando, inclusive, com saturação e reforço de policiais da Companhia Independente de Missões Especiais (Cimesp). A corporação tem realizado apreensões constantes de armas e munições.

No entanto, a Polícia Militar descreve que o patrulhamento realmente é prejudicado pelo relevo da região. “O local possui um relevo que dificulta o patrulhamento a pé, além da área de mata, que os bandidos utilizam para conseguir fugir das abordagens policiais. O comando da 5ª Companhia do 4º Batalhão pede para que a comunidade mantenha contato frequente com a polícia, repassando informações que possam colaborar”.

Já sobre as investigações sobre o tráfico de drogas existente em São Torquato, a Polícia Civil, por meio do Departamento Especializado de Narcóticos (Denarc), informa investiga e que conta com o apoio da área de inteligência da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SESP). Sobre as pessoas baleadas, a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha abriu inquéritos para apurar cada um dos casos e já identificou autores de alguns desses crimes, que não serão divulgados no momento para não interferir negativamente nas investigações.

 

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