Foi preso no último domingo (15), de forma preventiva, o falso médico Leonardo Luz Moreira, acusado pelo homicídio da menina Ana Luisa Ferreira Marcelino da Silva, de 10 anos. A criança morreu após ser atendida por Leonardo no Hospital Roberto Silvares, em São Mateus, no Norte do Estado, em 2021. Segundo o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), investigações apontaram que ele estava cursando Medicina no Paraguai, contrariando as ordens judiciais para não sair do Brasil.
A investigação encontrou uma matrícula dele na universidade na cidade de Saltos del Guairá, onde frequentava presencialmente. O MPES, por meio da 2ª Promotora de Justiça Criminal de São Mateus, pediu a prisão à 1ª Vara Criminal da cidade capixaba. A solicitação foi cumprida pela Polícia Militar do Paraná, Estado no qual o falso médico foi preso.
Leonardo também é acusado dos crimes de exercício ilegal da Medicina e falsidade ideológica, ambos também praticados em janeiro de 2021. Ele já havia sido preso em 18 de agosto de 2021 pela Polícia Federal em operação voltada ao combate de prática ilegal de Medicina.
“Na audiência de custódia realizada no dia seguinte (segunda), a prisão foi mantida pelo Juízo da 1ª Vara Criminal de São Mateus. Atualmente, o processo está na fase de preparação para julgamento pelo Tribunal do Júri. O Ministério Público, por meio da 2ª Promotoria de Justiça Criminal de São Mateus, apresentou nesta terça-feira (17/12) requerimentos referentes ao art. 422 do Código de Processo Penal”, afirmou o MP.
Ainda conforme o órgão, o julgamento de Leonardo poderá ocorrer nos primeiros meses de 2025.
As investigações apontam que Leonardo Luz Moreira, preso em São Mateus, se matriculou em uma faculdade de Medicina na Bolívia, onde estudou por um semestre. Posteriormente, solicitou transferência para uma faculdade brasileira e adulterou os registros para computarem, ao invés de seis meses, quatro anos de estudo.
Ainda de acordo com as investigações, o falso médico foi contratado por diversas prefeituras do Norte capixaba e também pelo governo do Estado.
Pelos serviços de falsificação, segundo a Polícia Federal, o falso médico cobrava entre R$ 20 mil e R$ 40 mil. "O acusado foi o primeiro a fazer esse esquema. A Polícia Federal de Vitória da Conquista vai continuar as investigações, porque como outros suspeitos participavam dessa fraude, há a possibilidade de mais falsos médicos atuando", disse.
Logo após virem a pública as denúncias contra o falso médico, a professora Alessandra Ferreira Marcelino relatou à reportagem de A Gazeta que a filha dela, Ana Luisa, de 10 anos, morreu pouco tempo após receber prescrição médica do suposto médico. “Ele matou a minha filha”, afirma à época.
Leonardo atuava como médico havia pelo menos três anos. Alessandra contou que a filha começou a passar mal por volta das 19h na noite do dia 11 de janeiro de 2021, reclamando de dores na barriga e que, após vomitar três vezes, decidiu levar a criança até o Hospital Roberto Silvares, em São Mateus.
“No terceiro episódio dela de vômito, fomos para o hospital. Quando passamos pela triagem, relatei que ela tinha vomitado três vezes, ela recebeu uma pulseirinha laranja e, depois de 20 minutos, ele nos chamou. Na cadeira ele estava e lá ficou. Não colocou a mão na minha filha. Falei que ela estava vomitando e com medo dela desidratar”, contou a época.
Segundo a mãe, o falso médico disse que o caso se tratava de uma gastroenterite e que não adiantaria medicar a menina, pois a mucosa dela estava irritada. A mulher relata que ainda pediu uma receita médica ao homem e ele teria dito para ela continuar dando o medicamento que usou quando a menina começou a vomitar e que poderia dar até refrigerante, se ela pedisse, para não contrariá-la.
Após receber a prescrição médica do homem, a mãe afirma que ela e a filha foram para a sala de medicação, onde o quadro de saúde da filha começou a piorar.
“Na hora que a enfermeira pulsionou a veia dela, minha filha começou a ficar pálida. Quando aplicou a injeção de medicação, minha filha começou a gritar ‘mamãe, meu coração está doendo’, a enfermeira foi retirando tudo e minha filha começou a convulsionar na minha frente”, relata.
Neste momento, as enfermeiras começaram a tentar reanimar a menina e, segundo a mãe, o médico afirmou que a criança havia "voltado”. “Ele disse que minha filha era uma leoa, uma guerreira. Menos de cinco minutos depois, ele voltou e disse que ela havia falecido, já nas primeiras horas do dia 12 de janeiro”, contou à época.
A reportagem tenta localizar a defesa de Leonardo Luz Moreira e o espaço segue aberto a um posicionamento.
A versão inicial da reportagem errou ao informar que a prisão do falso médico ocorreu no Paraguai. Ele estudava medicina naquele país, mas foi preso em território brasileiro, no Estado do Paraná. O título e o texto foram corrigidos.
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