A identificação errada de um corpo de um homem de 41 anos, dado como vítima de um assassinato, terminou em confusão durante um velório em Piúma, no Litoral Sul do Espírito Santo. Ao abrir o caixão, em uma igreja, na noite desta terça-feira (10), familiares ficaram surpresos ao ver que o defunto não era o parente deles. O corpo em questão era de outro morador da cidade, de 36 anos, morto a tiros por volta das 16h desta segunda-feira (9), no bairro Céu Azul. O caso, segundo a Polícia Civil, será investigado em uma apuração interna da corporação.
A confusão constatada no velório começou mais cedo, quando o homem de 36 anos foi assassinado em uma casa. Lá, na cena do crime, o irmão do homem de 41 anos, segundo o dono da funerária contratada, reconheceu o corpo caído e também formalmente quando a vítima foi levada para o Serviço Médico Legal (SML) em Cachoeiro.
Em entrevista à reportagem de A Gazeta, o dono da funerária, que preferiu não se identificar, contou que, após a liberação, a empresa fez os preparativos e entregou o caixão em uma igreja evangélica para o velório na noite desta terça-feira (10).
“Ao abrir o caixão, os familiares não reconheceram o parente. Pegamos dois familiares, abrimos a urna no laboratório da funerária e confirmaram novamente que era o parente deles. O caixão voltou à igreja. Porém, recebi a informação por telefone de que o corpo que estava ali correspondia a características de um morador que estava sumido. Ele tinha uma tatuagem, cicatriz e roupas no dia do crime como descreveram. Acionei a perícia do SML de Cachoeiro e vieram recolher o corpo”, conta o dono da funerária.
O homem de 36 anos, segundo o proprietário da funerária, seria enterrado nesta manhã. “Estou há 20 anos na profissão e nunca passei por uma situação assim”, comentou.
O corpo identificado erroneamente é, na verdade, segundo familiares, de Claudemir Moreira, de 36 anos. A nora, Mairce Cordeiro, disse que Claudemir era catador de materiais recicláveis e desde a segunda, após sair para trabalhar, não havia voltado para casa. Ele morava no bairro Lago Azul. O desaparecimento não foi comunicado à polícia, pois já tinham ficado outras vezes sem notícias e ele retornava.
A reportagem procurou a Polícia Civil para explicar a identificação errada e quais as consequências do fato. Em nota, a Polícia Civil, por meio da Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC), disse que o corpo havia sido liberado para um familiar da vítima que reconheceu o corpo como sendo do seu irmão, já que o corpo permitia claro reconhecimento visual.
“Entretanto, quando o corpo estava sendo velado, os outros familiares não o reconheceram como sendo seu parente, mas sim de outro nacional. O corpo foi encaminhado novamente para o Serviço Médico Legal (SML) de Cachoeiro de Itapemirim, onde foi identificado e será liberado nesta manhã (11), para os devidos familiares. A SPTC esclarece que será realizada uma apuração interna para levantar informações sobre o fato”, informou a corporação por meio de nota.
Sobre assassinato, o caso segue em investigação pela delegacia de Piúma. Detalhes da investigação, não foram informados pela corporação.
O homem dado como morto – que se chama Maciel Fernandes dos Santos, de 41 anos – está vivo. A confirmação foi dada na noite desta quarta-feira (11), pelo irmão dele, Leomar Fernandes Santos.
Segundo Leomar, o irmão estava fora de casa há alguns dias, pois havia saído para pescar, mas a família não sabia. Ele ficou sabendo do aparecimento do irmão, quando a esposa do colega de Maciel avisou que o marido a ligou dizer que os dois pescavam juntos.
A previsão é de que Maciel retorne para a cidade ainda nesta semana. “Ele está em um barco fora de Piúma, não voltou para casa ainda, foi um engano”, disse o irmão.
Leomar explicou que ele foi chamado para identificar uma pessoa. “Fui reconhecer lá em Cachoeiro o corpo. Era idêntico ao dele. Aqui (em Piúma) a polícia não deixou ver, estava de bruços, mas era idêntico”, relatou.
Contudo, foi na hora de abrir o caixão, no velório, que a família descobriu que o corpo não era de Maciel. “Foi uma cena de terror, nunca vi na minha vida. Ficamos muito abalados. Agora estamos um pouco mais felizes, mas tristes com a outra pessoa (que morreu)”, comentou.
Uma pessoa da família do homem encontrado morto dentro do caixão o identificou como Claudemir Moreira, de 36 anos. Ela – que pediu para não ter o nome divulgado – explicou que Claudemir estava desaparecido desde segunda-feira (9).
De acordo com ela, o parente saiu em busca de um pedreiro, por volta das 16h30, mas não retornou para casa, no bairro Lagoa Azul. “Ontem à noite, uma jornalista me ligou perguntando se meu familiar tinha tatuagem, falando que era Claudemir. Fui reconhecer e era ele”, informou.
A pessoa disse que foi reconhecer o parente no velório que estava ocorrendo no momento. “Abri o caixão e o reconheci. A família toda de outra pessoa estava lá, velando ele. Não tinha como ser confundido, o rosto estava intacto”, pronunciou.
Para a familiar, o que aconteceu com Claudemir foi um assassinato. “Ele foi encontrado em um porão”, falou.
Agora, a família aguarda a liberação do corpo que está em Cachoeiro de Itapemirim. “Foi um choque para a família, a gente esperava encontrar ele vivo, ele não tinha problema, foi muita covardia”, desabafou.
A reportagem procurou novamente a Polícia Civil para saber de quem é o corpo liberado por engano, e se o mesmo já foi liberado para a família certa. A Gazeta questionou como é possível o SML liberar um corpo para uma família apenas com base no reconhecimento de um parente, sem confrontar informações.
Sobre a isso, a Polícia Civil disse que foi realizada a coleta das impressões digitais para fazer o exame de confronto papiloscópico, visando identificar o corpo para, posteriormente, ser liberado aos devidos familiares. A Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC) disse que abriu uma apuração interna para levantar informações sobre o fato.
Após a publicação, a reportagem conseguiu falar com o irmão do pescador, que confirmou que o familiar está vivo. Também foi ouvido um parente de Claudemir, que de fato foi quem realmente morreu. O texto foi atualizado.
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