"Vocês mataram eles na minha frente, policial. Tiraram a vida dos meus filhos na minha frente e eu vendo todo o sofrimento dos meus filhos, meus dois filhos". Esse é o relato da dona de casa Antônia Guidini Raiz, de 61 anos, mãe de Luiz Carlos Raiz, de 35 e Antônio Carlos Raiz, de 31, mortos a tiros por policiais militares no último sábado (10), na Zona rural de Pedro Canário, no Norte do Estado.
Em entrevista à reportagem, Antônia conta que os dois filhos faziam uso de medicamentos controlados para o tratamento de epilepsia e que um deles também tratava uma depressão. Eles foram foram baleados durante uma confusão na residência onde moravam. Meu coração está em pedaços. Eles não mereciam isso que aconteceu, lamenta.
O pai dos irmãos, o produtor rural Nilson Raiz, conta que no momento da abordagem estavam três policiais. Segundo ele, Luiz já tinha se entregado, mas tentou fugir em direção a uma represa que existe no assentamento e, nesse momento, Antônio tentou ajudar o irmão.
Na ocorrência, os PMs alegaram que foram agredidos e que, tanto o suspeito quanto o irmão dele, que tentou impedi-lo de ser preso, tentaram cada um tomar as armas dos militares. Os dois foram baleados e morreram.
Entretanto, segundo Nilson, os filhos não reagiram. "Eles não entraram em luta com a polícia. Eles estão falando isso para se defender. Mas não adianta. Nós vamos bater em cima e vamos procurar a Justiça, disse.
Adriana Moura foi casada com Antônio, se separou e há dois meses reatou o casamento com ele. Ela estava na casa no momento em que o marido foi morto e agora cobra justiça. "A gente espera justiça porque o que os policiais estão falando não tem nada a ver. Só nós que estávamos aqui que presenciou, sabemos. Eu peguei o Antônio morto no meu colo", relembra.
BRIGA COMEÇOU NO MERCADO
A ocorrência que terminou com a morte dos irmãos Luiz Carlos e Antônio Carlos, teve início no Mercado Municipal de Pedro Canário, pouco depois das 13h do último sábado (10). De acordo com o administrador do local, Almiro Alves, Luiz e a esposa se desentenderam e ele acabou agredindo a mulher com quem tem um filho. Ao perceber a confusão, Almiro conta que acionou a Polícia Militar, mas que nenhuma viatura foi ao local.
"Por volta de 13h20 da tarde houve um desentendimento da mulher com o ex-marido. Ela entrou para dentro do banheiro, ele foi lá dentro do banheiro das mulheres e deu um tapa no rosto dela, outras pessoas que estavam aqui não gostaram da atitude e acabaram agredindo ele. No momento, como eu trabalho aqui, eu liguei para a polícia. A polícia disse que não poderia vir porque estavam fazendo uma diligência em Cristal e eu solicitei que assim que possível que eles viessem até o Mercado. Já era 15h30 e não apareceu ninguém aqui, aí eu fechei o Mercado e fui embora para casa", conta. Eu acredito que foi por causa de ciúmes, ressalta Almiro ao falar sobre a motivação da briga.
O CRIME
Após a denúncia de agressão, a Polícia Militar seguiu até um assentamento que fica na Zona rural de Pedro Canário. Lá, segundo o boletim de ocorrência, os policiais anunciaram a prisão e pediram que Luiz saísse da residência com as mãos na cabeça. A PM alega que o suspeito reagiu à prisão, e que o irmão dele, Antônio Carlos também interferiu na tentativa de evitar que o irmão fosse preso.
Segundo o boletim, enquanto os policiais tentavam conter Luiz para levá-lo preso, ele e Antônio teriam agredido os policiais com socos e tentaram pegar a arma dos soldados, cada um em luta corporal com cada um dos policiais.
Os militares relataram na ocorrência que, para se defenderem das agressões que estavam sofrendo e impedir que os dois irmãos tomasse as armas deles, eles sacaram cada um sua arma e atiraram, atingindo Luiz e Antônio
Os irmãos chegaram a ser socorridos e levados para o Hospital Menino Jesus, no Centro de Pedro Canário, mas morreram ao dar entrada no local. Os policiais também foram atendidos pela equipe médica do hospital devido aos ferimentos sofridos durante a briga, mas precisaram ser transferidos para o Hospital Meridional, devido à gravidade das lesões. Um dos PMs precisaria ser submetido a um procedimento cirúrgico na face.
INVESTIGAÇÃO
De acordo com a Polícia Civil, o caso está sendo investigado pela Delegacia de Polícia de Pedro Canário. Já a Polícia Militar disse, em nota, que as armas do policiais foram recolhidas e a investigação será acompanhada pela Corregedoria da PM.
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