Mais de 30 mulheres foram vítimas de feminicídio neste ano, apenas no Espírito Santo. O crime classificado como "muito covarde" pelo secretário Alexandre Ramalho, que está à frente da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), precisa ser combatido por todos – e não apenas pelas polícias. A posição foi defendida durante entrevista concedida à Rádio CBN Vitória, na manhã desta quinta-feira (23).
Ao tratar do assunto, ele admitiu que existe uma "dificuldade enorme" em derrotar o homicídio cometido em razão do gênero feminino. Entre os componentes que tornam a missão complexa, está a cultura machista que faz o homem "diante de qualquer término, se julgar no direito de praticar violência contra a mulher".
Segundo o coronel, no programa "Homem que é Homem" ficou claro que aqueles que mataram as companheiras não se julgavam criminosos. "Eles viram esse modelo dentro de casa e aquilo se internalizou. Ele acha que é normal, por isso temos esse projeto de ressocialização. A mulher tem direito de tomar suas decisões", afirmou.
Neste cenário, ele ressaltou o interesse do governo do Estado em adquirir tornozeleiras eletrônicas especiais que avisam a vítima sobre a proximidade ilegal do agressor por meio do celular, permitindo pedir apoio ou fugir em segurança. A expectativa é que o dispositivo esteja disponível em cerca de dois meses.
Além de feminicídios, agressões e assassinatos acontecem frequentemente dentro das residências. É o que se chama de "crimes de proximidade" – outro desafio para a Polícia Militar, segundo Alexandre Ramalho. No Espírito Santo, já foram 241 somente neste ano. "É uma discussão que se acalora, com tiros e facadas. É o irmão que mata o pai entre quatro paredes", exemplificou.
Soma-se às dificuldades operacionais, o fato de o Brasil ser um país desigual. Nos últimos dois anos, a situação se agravou com a pandemia do novo coronavírus. Este cenário socioeconômico atual se impõe como um dos principais obstáculos para a área da Segurança Pública, segundo o secretário.
"Junta-se a isso: o afastamento dos jovens da escola, o desemprego e a mudança de estruturas econômicas das famílias, em decorrência da morte de um pai ou uma mãe pela Covid-19. Isso tudo deságua no campo da Segurança Pública. É uma tarefa difícil", garantiu, ainda durante a entrevista na CBN Vitória.
Já no início deste mês, 15 coronéis do alto comando da Polícia Militar capixaba enviaram uma carta para Ramalho, relatando insatisfações. Nos últimos dias, alguns foram exonerados e substituídos. Na conversa com Fernanda Queiroz, o secretário garantiu que não se trata de retaliação e descartou uma nova greve.
"Não tem estremecimento de comando e a situação será resolvida internamente. Os pleitos foram encaminhados à Secretaria de Gestão e Recursos Humanos (Seger) e o que for possível será atendido. A questão da greve não foi posta em nenhum momento, nem mesmo na carta", afirmou.
Por fim, entre os destaques da entrevista, o secretário Alexandre Ramalho falou sobre as organizações criminosas do Estado, autodenominadas de "facções". De acordo com ele, estas comandam o tráfico de drogas, que é responsável por cerca de 80% dos homicídios cometidos em território capixaba.
"Elas impõem um código de sobrevivência e, quem fugir, paga com a morte. Há organizações criminosas definidas que se rivalizam o tempo todo, tentando expandir seus tentáculos. Não percebemos a presença de facções de outros Estados aqui, mas existe contato logístico para compra de armas e drogas", explicou.
Neste sentido, ele ressaltou a ação do Centro de Inteligência e Telemática da Polícia Civil e a Operação Sicário II, deflagrada na semana passada e que resultou na prisão de 28 criminosos. "São lideranças efetivas do tráfico de entorpecentes. Entendemos que há necessidade de partir para cima desses indivíduos", concluiu.
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