A apreensão no Espírito Santo de 31 frascos de fentanil, uma substância opioide utilizada legalmente como anestésico, mas considerada uma superdroga pelo DEA (Departamento de Narcóticos) da polícia dos Estados Unidos, acendeu o alerta de autoridades norte-americanas. Foi a primeira apreensão do medicamento, que é de uso restrito, no Brasil. O caso foi registrado pela Polícia Civil no dia 10 de fevereiro em Cariacica.
O efeito poderoso do entorpecente, o alto risco de morte de seus usuários e o fato de seu consumo potencializar outras drogas preocupam as autoridades norte-americanas.
Em relação à apreensão feita em uma residência em Cariacica, a Polícia Civil acredita que a substância seria usada para intensificar o efeito de substâncias como o ecstasy e a cocaína.
No mesmo local em que foram encontradas 31 ampolas do anestésico, cujo nome técnico é "citrato de fentanila", os policiais também apreenderam 136 kg de maconha, 2.500 pinos de cocaína cheios, 13 kg de pasta de cocaína e milhares de pinos vazios.
Conforme a Polícia Civil, a residência não pertencia a um traficante, mas a um fornecedor de drogas conhecido no estado sem ligação com facções, cujo nome é preservado para não atrapalhar as investigações.
A presença do fentanil no Espírito Santo fez com o que DEA deslocasse dois agentes para averiguar o caso com as autoridades locais. Segundo o delegado do Denarc-ES (Departamento Especializado de Narcotráfico do ES), Tarcísio Otoni, foi em razão de um curso ministrado pelo órgão norte-americano em El Salvador, em 2022, que os agentes capixabas souberam identificar a substância.
Uma das preocupações dos agentes norte-americanos é o fato de o Espírito Santo ser um estado portuário, potencial porta de entrada ou de saída de narcóticos para o exterior.
A Polícia Civil identificou que as ampolas apreendidas em Cariacica tinham como origem uma indústria farmacêutica de Minas Gerais. A investigação ainda não sabe afirmar se houve descaminho ou se a substância foi revendida ilegalmente por alguém de dentro de uma instituição de saúde.
Após a apreensão, a Sociedade de Anestesiologia do Espírito Santo informou que estuda formas de reforçar o controle sobre a substância, com o monitoramento via satélite dos lotes do anestésico e a devolução obrigatória das ampolas após o uso por profissionais de saúde.
Desde o final da década passada, o fentanil passou a ser a droga que mais preocupa as autoridades americanas. Conforme a CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), agência que compila dados de saúde pública nos Estados Unidos, desde 2019 ela se tornou a principal causa de morte entre pessoas de 18 a 45 anos no país, superando Covid, câncer, suicídios e acidentes de carro.
Conforme dados do CDC divulgados pelo DEA, em 2022 foram registradas 107.375 mortes por overdose nos Estados Unidos - destas, 67% envolveram o fentanil, geralmente misturado a outras drogas ilícitas, o que dificulta que os usuários saibam o perigo do que estão consumindo. Ainda segundo o DEA, apenas dois miligramas de fentanil podem se tornar uma dose letal.
A droga pode também ser encontrada em pó. O DEA divulgou ter apreendido 4.500 quilos de fentanil em pó ao longo de 2022, além de 50,6 milhões de comprimidos falsos, que ocultavam a versão em pó da substância em sua receita. Trata-se de uma quantidade de droga suficiente para matar toda a população do país de overdose.
Mais de 50 vezes mais potente do que a heroína e mais de cem vezes mais potente do que a morfina, o fentanil, além de efeitos alucinógenos e de euforia, é potencialmente letal por afetar a consciência e poder causar paralisia nos pulmões. Para compensar a falta de oxigenação, o coração aumenta o ritmo cardíaco correndo o risco de uma parada cardíaca.
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