Uma creche a ser inaugurada em Vila Velha foi construída com fios elétricos de alumínio cobreado — material proibido que poderia colocar a vida de diversas crianças em risco. O problema foi detectado durante a quarta fase da Operação Elétron, deflagrada na semana passada, e divulgado nesta terça-feira (16) em coletiva de imprensa realizada na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), em Vitória.
Segundo o delegado Eduardo Passamani, da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor (Decon), o produto foi usado indevidamente em algumas partes da Unidade Municipal de Educação Infantil (Umei) Pedacinho do Céu, que fica no bairro Alecrim, e vendido junto a cabos irregulares.
O delegado explicou que, para tentar enganar o consumidor, o fabricante cobria o fio de alumínio com uma camada de cobre. "Mas, ao fazer a raspagem, foi possível identificar o problema", disse. Segundo Passamani, o material também teria sido a causa de um incêndio em uma residência de Aracruz.
Além dos fios elétricos proibidos, a creche de Vila Velha usou uma fiação irregular, feita com uma menor quantidade de cobre que a exigida. Ambos seriam fabricados pela empresa Luzzano, cujo proprietário — que não teve o nome divulgado pela polícia — foi preso em agosto deste ano, também no âmbito da Operação Elétron.
Ainda de acordo com o delegado, uma investigação autônoma será instaurada para averiguar este novo problema. "Vamos investigar onde este material está sendo produzido, se existem sócios, se existe uma organização criminosa por trás e averiguar a responsabilidade das empreiteiras", explicou Eduardo Passamani.
À frente da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, o deputado Vandinho Leite (PSDB) tratou o caso como "gravíssimo". "O alumínio é um condutor menos eficiente e mais barato. Um objetivo claro de inferir lucro em cima de riscos à população", afirmou.
Segundo informações passadas na coletiva, a Prefeitura de Vila Velha já está ciente dos problemas encontrados na Umei Pedacinho do Céu desde a última quinta-feira (11) e foi orientada a interditar o local.
Em nota, a administração municipal informou que a obra está em andamento, mas que "toda a fiação da marca investigada vem sendo substituída desde o final de outubro de forma preventiva". "As medidas cabíveis continuam sendo tomadas durante a construção da Umei", garantiu o município.
A Operação Elétron é consequência de uma investigação feita diante de uma "avalanche" de denúncias de superaquecimento de fios e aumento injustificado do consumo de energia elétrica. A primeira fase foi deflagrada no dia 10 de agosto deste ano, em duas cidades da Grande Vitória.
Na ocasião, um empresário de Vitória foi preso. Ele é o dono de uma fábrica de fios e condutores elétricos que apresentavam irregularidades capazes de causar curto-circuitos e incêndios. Em 2019, o suspeito já havia sido preso por produção irregular, mas pagou a fiança de R$ 100 mil e acabou solto.
A Fábrica Luzzano que ele possuía também foi interditada. Ela fica localizada no bairro Boa Vista II, na Serra. O produto irregular chegou a ser vendido para hospitais, escolas e centenas de lojas e revendedoras. Além de ter sido comercializado em dez estados, incluindo o Espírito Santo.
Nove dias depois, cerca de 40 mil metros de fios elétricos irregulares foram apreendidos em lojas de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica, durante a segunda fase da Operação Elétron. A princípio, não havia indícios de que tais estabelecimentos estariam cientes do problema.
Após o recolhimento da mercadoria, ficou constatado que as embalagens possuíam, de forma indevida, o selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) — que deveria assegurar a qualidade, mas que, nesse caso, se referia a outros produtos feitos pela empresa.
Deflagrada no dia 26 de outubro, a etapa cumpriu mandados de busca e apreensão no escritório da fábrica investigada e na residência do proprietário. Documentos e um celular foram apreendidos. Nesta fase, a Justiça também autorizou o bloqueio dos bens do dono, avaliados em R$ 10 milhões.
A terceira fase da Operação Elétron ainda trouxe à tona que os fios irregulares foram usados em duas creches de Vila Velha e em 17 unidades de saúde de Cariacica. Além de cinco escolas e 30 condomínios no Estado. O prejuízo gerado ao mercado foi estimado em R$ 75 milhões.
Em setembro deste ano, a Luzzano afirmou, em nota enviada à TV Gazeta, que as acusações são graves, que precisam de comprovação e que não condizem com os padrões da empresa. A fábrica também informou que usa um cobre de excelente qualidade na fabricação de cabos elétricos e que estava tomando as providências para comprovar a eficácia do produto.
A reportagem de A Gazeta demandou a empresa nesta terça-feira com relação às informações passadas durante a coletiva e, assim que houver retorno, este texto será atualizado.
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