De frente para o mar, a comunidade de Jesus de Nazareth, em Vitória, é um ponto estratégico para o tráfico de drogas. Pelas águas, chegam armas e entorpecentes. O território fica sob poder do Primeiro Comando de Vitória (PCV), maior facção criminosa do Espírito Santo, e o grupo não deixa o local sem uma chefia. Tanto que, quando um é preso, outro assume o posto de imediato.
É o caso de Alexandre Elias Pereira dos Santos, o Panguera, de 25 anos, capturado nesta quarta-feira (25): ele estava no comando do morro desde que o antecessor foi preso, em outubro do ano passado. Seguindo os passos do "tutor", o suspeito também foi localizado fora de Vitória, em um bairro de Vila Velha aliado ao PCV.
Panguera foi preso em um conjunto de quitinetes de São Torquato. Ele já estava na mira da Polícia Civil desde agosto de 2022, quando uma operação específica do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP), a Sicário IV, estava atrás de traficantes de Jesus de Nazareth. Na época, ele conseguiu escapar. Nesta quarta, não teve a mesma sorte.
"Tivemos êxito em prendê-lo e ainda com uma certa quantidade de droga. Ele tentou até fugir pelos fundos, mas não teve sucesso", detalhou o superintendente de Polícia Especializada (SPE), delegado Romualdo Gianordoli.
O criminoso tinha um mandado de prisão em aberto por tráfico e organização criminosa, e também vai responder em flagrante por tráfico, já que foi encontrado com entorpecentes. Não ficou claro na investigação o motivo do apelido Panguera. Mas, de acordo com o Google, o nome significa "uma pessoa sem noção, quando a pessoa faz uma coisa errada".
Panguera era o homem de confiança de Jeferson da Silva Ramos, o Morango, líder do tráfico de Jesus de Nazareth preso em 21 de outubro de 2022, em Araçás, Vila Velha. Perigoso, Morango era quem dava autorização para ataques e homicídios. Com a captura dele, Panguera assumiu.
Assim como Morango, Panguera não morava em Jesus de Nazareth. "Há uma forte aliança deles com bairros como Cobilândia e São Torquato. É como se fosse o mesmo tráfico. Quando eles ascendem à liderança, eles costumam pernoitar longe do morro, mas diariamente vão para o morro como se fosse uma empresa mesmo, para coordenar os trabalhos. E depois voltam para dormir no local", ressaltou o delegado.
Segundo ele, o motivo é simples: para se esconder. "Como eles têm a base no morro, devem pensar que o morro é o lugar mais óbvio que vamos procurá-los, e se sentem mais seguros em outras localidades até mesmo por causa de ataques de inimigos", ponderou Gianordoli.
Na casa de Panguera, dentro de um armário, foram localizadas 99 porções de maconha, dois aparelhos celulares, uma balança de precisão, um aparelho de rádio comunicação e diversos materiais para preparo e embalo de drogas.
Isso não é comum para um chefe do tráfico: normalmente, os líderes não ficam com o flagrante, e costumam fazer mais o papel de dar ordens. Segundo o delegado, o fato das drogas estarem com Panguera pode indicar que o comando dele não era tão consolidado.
"Com a prisão do Morango houve uma desorganização muito grande. Começa a ter uma confusão de cargos. O Panguera, apesar de ser o chefe, continuava vendendo droga. Isso não é comum. É como se faltassem funcionários ali, e eles começam a fazer uma ou mais coisas."
O chefe do Panguera também entrou no lugar de outra figura forte de Jesus de Nazareth: Pablo Bernardes, o Geleia, condenado a sete anos de reclusão, além de prisões provisórias decretadas em ações penais.
Em junho de 2020 ele foi preso em um apartamento de frente para o mar, em Bento Ferreira, Vitória, e estava custodiado em regime fechado na Penitenciária de Segurança Máxima II (PSMA II), em Viana.
Mesmo atrás das grades, ele continuava sendo a maior liderança de Jesus de Nazareth. Morango, que assumiu o posto de chefe, mandava informações direto para Geleia na cadeia.
As coisas mudaram em julho de 2021, já que Geleia foi um dos presos transferidos para um presídio federal, no Norte do país. No entanto, com a distância, a comunicação com o grupo criminoso ficou prejudicada. Foi aí que Morango passou a assumir mais responsabilidades.
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