O chefe da organização criminosa com base no Espírito Santo e que aplicava o golpe da Capemi - uma espécie de previdência privada para militares da reserva - foi acusado de estupro coletivo nos Estados Unidos em 2005 e deportado de volta ao Brasil. Ele, que não teve o nome revelado, foi um dos presos pela Polícia Civil na Operação Imitatore, deflagrada nesta quarta-feira (10). Ao todo, foram sete prisões nos municípios de Serra e Vila Velha, dentre as quais está a de uma advogada.
De acordo com o delegado Brenno Andrade, titular do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic), o estupro teria acontecido no Estado americano de Massachusets, após o golpista ter entrado ilegalmente no país da América do Norte. As normas de lá, porém, condicionam que os criminosos estrangeiros sejam deportados e respondam pelos crimes no país de origem.
"Fui informado que ele entrou ilegalmente nos EUA, no sistema de ‘cai-cai’, que ele entra, se entrega às autoridades, logo depois é emitida uma ordem de deportação, mas ele fica ilegalmente nos Estados Unidos porque ele é solto, não é preso. Foi informado que ele teria sido preso por estupro coletivo, mas, no Estado no qual ele foi preso, que é o de Massachusets, a pessoa não cumpre a pena no Estado, é presa e deportada. Se ele não respondeu à pena nos Estados Unidos, ele tem que responder no Brasil", argumentou o delegado.
Já no Brasil, o criminoso foi preso três dias após o casamento dele. O delegado José Carlos Andre dos Santos, coordenador da Divisão Especial de Combate à Corrupção da Polícia Civil de Alagoas (Deccor/PCAL), contou que havia uma preocupação quanto à possibilidade de o chefe da organização viajar após a festa, o que não aconteceu. Ainda conforme José Carlos, um dos integrantes da organização criminosa, que é de Minas Gerias, estava no casamento como padrinho e também foi preso.
"O chefe da organização resolveu casar há três semanas, resolveu casar na segunda-feira (8). Nós ficamos extremamente preocupados, acreditando que eles poderiam viajar no dia seguinte, como a operação estava prevista para esta quarta-feira (10) estávamos com medo de não conseguir sucesso. Felizmente, ele não viajou e o alvo de Minas Gerais, que estava tudo certo com a polícia para ser cumprido (o mandado de prisão) lá, foi padrinho do casamento, estava aqui e a equipe do delegado Brenno não deixou ele retornar", contou.
As investigações, que são conduzidas pela Polícia Civil do Espírito Santo em parceira com a polícia do Estado de Alagoas, apontam que a organização criminosa causou um prejuízo de R$ 10 milhões a vítimas em todo o país. O delegado José Carlos André dos Santos explicou que os criminosos possuíam uma lista com mais de 33 mil nomes de militares da reserva que tinham dinheiro aplicado na Capemi. Ele contou que a empresa faliu há alguns anos e que, por isso, muitas pessoas possuem valores por receber. O grupo se aproveitava disso para aplicar os golpes.
"Eles abordavam essas pessoas alegando que era uma associação de pecúlio, obviamente muito estruturados, com escritórios, usavam números 0800, advogados, uma linguagem bem técnica. Eles entravam em contato com essas pessoas, alegavam que eles tinham direito a receber valores que elas tinham pago outrora. De fato, a Capemi quebrou e muita gente perdeu dinheiro com a Capemi. Os criminosos tinham esse banco de dados, tinham essa informação dessas vítimas e alegavam que elas tinham valores até milionários a receber", detalhou.
José Carlos contou que os criminosos cobravam valores pequenos, que variavam entre R$ 5 mil a R$ 10 mil, que seriam para o custeio de encargos como advogados e taxas de serviço, como pagamentos ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), utilizando contas de laranjas. A partir daí, os valores iam aumentando, o que fez com que o prejuízo causado pelo grupo chegasse a R$ 10 milhões.
"Foram 18 contas de laranjas somente nesse golpe que foi aplicado em Alagoas. A pessoa pagava, mas, depois, surgia uma outra dificuldade e eles se aproveitavam da pouca informação desses idosos e causavam prejuízo. A maioria dos casos é de R$ 100 mil, R$ 150 mil que eles acabam tirando de cada vítima", disse.
O delegado explicou que a organização criminosa possuía base no Espírito Santo e aplicava golpes em todo o país. Eles, porém, evitavam causar vítimas no Estado de origem para dificultar a identificação dos golpistas. Os criminosos chegaram a aplicar o golpe em um idoso do Rio de Janeiro que precisava do dinheiro para uma operação por conta de um câncer.
"Eles estavam aplicando golpe em um senhor de idade no Rio de Janeiro que estava precisando de dinheiro para uma operação de câncer. É um grupo extremamente impiedoso. Tem vítimas do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, de todo o país. Eles evitavam fazer vítimas no Espírito Santo porque o grupo era daqui", disse.
Além das prisões, o delegado Lucimério Barros Campos, titular da Deccor de Alagoas, explicou que a Polícia Civil também apreendeu bens que pertenciam aos criminosos, como joias, dinheiro e imóveis. Ele contou que essas apreensões servirão para ressarcir as vítimas do golpe e, por isso, encorajou que mais pessoas que tenham sido afetadas pelos criminosos procurem a Polícia Civil para denunciá-los.
"Durante as investigações, tivemos buscas patrimoniais que foram cumpridas e arrecadamos joias e valores que ainda estão sendo contabilizados e imóveis pertencentes a esse líder da organização. A casa onde ele estava morando tem um valor considerável. O volume de dinheiro era muito grande. O caminho desse dinheiro sendo encontrado, pode servir de ressarcimento para essas vítimas. É importante que vítimas de outros Estados procurem a Polícia Civil, porque podem ser ressarcidas", acrescentou.
As investigações da Polícia Civil vão continuar para identificar a possibilidade do envolvimento de mais criminosos na organização, uma vez que há vítimas de vários Estados do país. A corporação, por isso, não descarta que o montante levantado pelos criminosos nos golpes seja ainda maior.
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