Imagine estar dentro de sua empresa e receber uma ligação de alguém descrevendo cada um de seus passos, mostrando que está te observando? Criminosos usaram essa estratégia para impor terror a despachantes de veículos em Vila Velha e na Serra, nesta sexta-feira (24). Com ameaças, eles ordenavam que as vítimas realizarem transferências de altos valores via Pix, dizendo que, caso contrário, iriam entrar no local atirando.
Pelo menos cinco empresários sofreram as ameaças do mesmo grupo nesta sexta, que ligava de um número com DDD de Santa Catarina. Um deles, com escritório em Itaparica, Vila Velha, chegou a quebrar o celular a mando dos bandidos.
O telefone do escritório do despachante de veículos, de 26 anos, tocou às 10h40. "Eles ligaram para o fixo da empresa. A funcionária atendeu e ele perguntou qual forma de pagamento a gente aceitava. Foi então que ele falou o meu nome, dizendo que ia fazer um Pix direto para mim. Ela me passou o telefone e ele já me mandou ficar calmo", contou o empresário. Ele, assim como os outros entrevistados nesta matéria, preferiram não se identificar.
Foi aí que as ameaças começaram. "Ele disse que estava com mais quatro caras armados e, se eu me movesse, eles iam entrar e matar todo mundo. Falou o nome do meu banco e me mandou transferir R$ 30 mil do cheque especial. Ele sabia até quanto tinha de limite no meu banco", relatou o empresário.
Nesse momento, um funcionário foi até o lado de fora do escritório, e o criminoso mostrou que estava vendo. "Ele perguntou por que eu tinha mandado meu funcionário sair, então realmente estava vigiando."
O empresário fingiu que fez o Pix e disse que o dinheiro iria demorar a cair na conta dos criminosos, por conta do valor alto. "Eles foram fazendo pressão, disseram que sabiam que a funcionária ao meu lado era minha irmã. Depois, mandaram eu quebrar o aparelho que eu tinha feito a transação. Eu fingi que quebrei, batendo na mesa, e ele disse que tinha visto que eu não tinha quebrado", lembrou.
Pressionado, o despachante acabou quebrando o aparelho e colocando em uma sacola, do lado de fora do escritório, a mando dos criminosos. Essa movimentação chamou a atenção de outros lojistas, que foram até o local para descobrir o que estava acontecendo. Eles chamaram a polícia e suspeitam que os criminosos estavam em uma caminhonete branca, que foi vista acelerando antes de os militares chegarem.
Os policiais que atenderam a ocorrência disseram para o despachante que uma situação semelhante aconteceu na região, dois dias antes, com uma farmácia. Os suspeitos também teriam fugido em uma caminhonete branca.
Depois do susto, o empresário contou a situação em um grupo de despachantes, e aí veio a surpresa: pelo menos outros quatro colegas tinham passado pela mesma situação, durante a manhã.
Uma delas foi uma despachante, de 55 anos, com escritório em Alvorada, Vila Velha. "Eles ligaram pedindo orçamento e depois começaram a falar as características do meu escritório, as cores, porta. Disseram que havia dois motoqueiros armados perto de mim e que era para eu abrir o aplicativo do meu banco. Na hora que ele falou isso eu desliguei o telefone", disse a empresária.
De acordo com ela, o número era o mesmo que havia ligado para o despachante de Itaparica.
Ainda em Vila Velha, dessa vez no bairro Cobilândia, outro susto. "Eles ligaram para o fixo, um funcionário disse que eu não estava. Eles mandaram fazer um Pix de R$ 15 mil senão iriam entrar lá atirando e matando todo mundo. Eles ligaram para outros três escritórios perto do meu", revelou uma despachante, de 54 anos.
Em Jardim Limoeiro, na Serra, os bandidos ligaram às 11h30. "O rapaz gritava muito, se identificou como sargento. O proprietário estava em reunião e ele insistiu muito para falar com ele. Perguntou se eu tinha acesso à conta, falou o nome do nosso banco. Começou a me xingar, disse que iria passar na frente do escritório e me matar. Quando eu passei para o dono, ele desligou", contou a funcionária, de 35 anos.
Agora, os despachantes e funcionários estão assustados. "A gente está morrendo de medo! Pelo que vi os outros despachantes falando, eles ameaçaram todo mundo. É uma situação que deixou todo mundo atento", desabafou a empresária de Alvorada.
A Polícia Militar informou que "o Ciodes recebeu a informação de que um despachante estaria sofrendo ameaças por telefone. De acordo com o chamado, o suspeito estaria em um veículo e durante a ligação com a vítima, disse que estava vendo o despachante na porta da loja, em Vila Velha. O indivíduo estaria pedindo que a vítima fizesse um Pix. Militares foram ao local e o solicitante confirmou que recebeu uma ligação, em que uma pessoa pedia uma quantia em dinheiro. Ele foi orientado a registrar o fato na delegacia".
A Polícia Civil disse que "orienta que as vítimas registrem a ocorrência podendo comparecer pessoalmente a uma delegacia ou realizar o registro por meio da Delegacia Online, delegaciaonline.sesp.es.gov.br, para que a Polícia Civil tome ciência do caso e inicie as investigações. A população pode denunciar através do Disque-denúncia (181) qualquer tipo de irregularidade, ilegalidade ou repassar informações que ajudem as polícias na elucidação de delitos ou infrações".
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