Os dias de angústia vividos pela artista plástica Julyana Ghisolfi, vítima de uma mulher suspeita de estelionato, presa na Ilha do Boi, em Vitória, terminaram na última quinta-feira (7). Após cerca de um mês sem receber o pagamento pelo trabalho, ela compareceu à 3º Delegacia da Praia do Canto, também na capital capixaba, e conseguiu recuperar as onze obras – avaliadas em mais de R$ 30 mil – que havia vendido para a suposta cliente.
Segundo a Polícia Civil, até o momento constatou-se que a investigada Jhose Campos Alves, de 45 anos, causou um prejuízo de R$ 600 mil para cerca de 30 vítimas. No imóvel onde ocorreu a prisão, foram apreendidos os quadros da artista plástica, dezenas de móveis e diversos itens de decoração, além de outros objetos, todos provenientes de estelionato.
A suspeita fez o primeiro contato com Julyana pelas redes sociais. Em conversa com A Gazeta, a vítima explicou como a mulher agiu para não realizar o pagamento pelas obras, em um comportamento que incluiu "desculpas mirabolantes".
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Segundo ela, a suposta estelionatária apresentava-se como assessora jurídica e amiga de pessoas influentes do Espírito Santo, o que a tranquilizou na hora de fazer a venda. Pouco tempo depois da primeira negociação, duas obras foram entregues pela própria artista na residência da Ilha do Boi.
Julyana só não esperava que, no momento de efetuar o pagamento, a suposta estelionatária alegaria que havia atingido o limite de transferências via Pix daquele dia. Compreensiva, a artista concordou em receber o valor pelas obras no dia seguinte, o que não aconteceu.
"Nesse meio tempo, ela fez um novo pedido, dizendo que a casa era grande e que queria colocar mais obras em outros cômodos. Mas, na hora de fazer o acerto novamente, ela disse que teve a conta bancária bloqueada. Depois, começou a me tratar como amiga, chamou para tomar café, a falar de Deus... Essa é a tática: ela te prende. Tentei ser compreensiva, porque imprevistos acontecem", contou Julyana.
Uma semana depois, a artista ainda não tinha nem sinal do pagamento. Quando questionava a 'cliente', era surpreendida por várias justificativas; desde que estava no hospital com o pai, acamado, até que criminosos teriam tentado invadir a mansão onde morava.
''Comecei a desconfiar mesmo por causa das desculpas mirabolantes. Como uma mulher que mora na Ilha do Boi não poderia me passar parte desse valor? Com tanta influência como ela dizia ter? Enfim, a situação foi se estendendo", disse.
Após ser alertada por algumas pessoas que também teriam sido vítimas da mesma mulher, Julyana confrontou a investigada. Nesse momento, a suposta estelionatária propôs devolver algumas das obras para amenizar o prejuízo da artista. Julyana aceitou o acordo, e percebeu que a mulher ficou surpresa.
"Acho que ela não esperou que eu fosse aceitar essa proposta, porque ficou exaltada. Não me atendia de jeito nenhum, e depois deu a desculpa de que estava com o celular desligado. [...] Umas 23 horas, me mandou uma foto de uma viatura, dizendo que tentaram assaltar a casa dela. Pensei: 'pronto, hoje já não consigo ir lá buscar'. No outro dia, amanheci com a ligação do delegado, falando sobre o mandado de busca e apreensão contra ela", relembrou.
Assim que foi à delegacia para reaver os bens, Julyana afirma que ficou frente a frente com a suspeita. Ela chegou a pedir para que a artista não "a prejudicasse". No local, segundo contou para A Gazeta, estavam mais de 20 pessoas, todas vítimas da mulher.
"Eu falei assim: jamais prejudicaria você ou qualquer pessoa. Vou dizer apenas a verdade. E assim eu fiz", conta.
A artista plástica ressaltou também que muitas pessoas, inclusive de outros Estados, começaram a entrar em contato com ela, para dizer que também caíram no golpe da suposta estelionatária.
"Fiquei o tempo todo pensando: 'meu Deus, por que passei por essa situação agora? Na minha principal época de vendas, acontece isso. Por quê?' Mas hoje eu entendi. As pessoas estão me ligando, chorando, pedindo ajuda para denunciá-la. Muito triste", ressaltou.
Uma mulher, de 45 anos, suspeita de estelionato, foi presa na tarde de quinta-feira (7), em uma mansão localizada na Ilha do Boi, em Vitória. De acordo com as investigações, ela é reconhecida como uma das principais praticantes desse crime nos bairros sob jurisdição do 3º Distrito Policial de Vitória, mantendo um estilo de vida luxuoso proveniente das atividades criminosas.
Na mansão também foram cumpridos mandados de busca e apreensão para encontrar os objetos vendidos a ela, mas que não foram pagos pela mulher. A conduzida, que responderá por estelionato, foi encaminhada ao sistema prisional, onde permanecerá à disposição da Justiça.
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