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Guerra de facções: o que está por trás de tiroteios na Grande Vitória

Guerra de facções: o que está por trás de tiroteios na Grande Vitória

Conflitos armados que preocupam moradores são fruto da disputa de territórios entre o Primeiro Comando de Vitória e a Família Capixaba. Comandante-geral da PM fala sobre as facções

Publicado em 11 de agosto de 2022 às 08:29

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Ataques a bairros rivais são motivados por expansão de facções criminosas na Grande Vitória
Ataques a bairros rivais são motivados por expansão de facções criminosas na Grande Vitória. (Reprodução/Geraldo Neto)

Moradores de vários bairros da Grande Vitória vêm convivendo com cenários similares aos de uma guerra. Tiroteios, ataques armados motivados pela disputa entre facções criminosas rivais e assassinatos marcam o dia a dia dos habitantes de VitóriaVila VelhaCariacica Serra. O clima de tensão instaurado na Região Metropolitana é fruto de um embate entre duas das principais organizações criminosas que atuam no Espírito Santo: o Primeiro Comando de Vitória e a Família Capixaba.

As disputas armadas entre criminosos têm se intensificado nas últimas semanas. Em Vitória, moradores de bairros da região Central viveram uma verdadeira noite de terror, com tiroteios que chegaram a durar mais de três horas, durante a noite do dia 18 e a madrugada do dia 19 de junho.

Os confrontos armados foram registrados em quatro comunidades da região central da Capital: Piedade, Alagoano, Moscoso e Cabral, deixando aterrorizados também quem mora em bairros no entorno. Os relatos de tiros na região ocorrem desde o dia 17 de junho, de acordo com moradores e poderia estar relacionado com dois assassinatos registrados em Vitória.

Um deles aconteceu na Ilha do Príncipe, onde um ataque a tiros matou  Raí Vitor Rosa dos Santos, de 18 anos, e deixou ferido um adolescente de 17 anos.

Outro bairro de Vitória que é alvo constante de ataques é o Morro do Cruzamento. No mais recente deles, um carro foi alvejado por criminosos na madrugada do último dia 1º. Pâmela Santos Deolindo morreu na hora, enquanto o namorado dela, Gabriel Batista de Oliveira Furtado, que dirigia o veículo, ficou sete dias internado no Hospital Estadual de Urgência e Emergência antes de ter a morte confirmada.

Moradores do bairro Cruzamento relataram, no dia do ataque, que os tiros começaram por volta de meia-noite e terminaram às 2h da madrugada. Durante a ação dos criminosos, o casal foi baleado. Gabriel levou três tiros, sendo dois nas costas e um no braço.

Mulher morre e jovem é ferido após ataque a tiros em carro no Romão. (Reprodução)

Segundo o comandante-geral da Polícia Militar do Espírito Santo, coronel Douglas Caus, o aumento no número de ataques armados e tiroteios registrado recentemente na região Central da Capital se dá por conta da tentativa de expansão territorial do Primeiro Comando de Vitória e da Família Capixaba, facções criminosas rivais.

"Eles estão disputando não só essa região, mas outras regiões importantes. O Morro do Cabral está rivalizando com o Alagoano e com a Piedade, guerra entre a Família Capixaba e o Primeiro Comando de Vitória. São áreas onde a disputa territorial pelo tráfico de drogas se dá entre duas facções aqui da Grande Vitória", disse Caus, em entrevista à jornalista Fernanda Queiroz, apresentadora da CBN Vitória.

O comandante-geral da PM explicou que a Família Capixaba é uma organização criminosa relativamente nova e que está passando por um processo de expansão. Outras áreas de Vitória estão no centro de conflitos armados entre as facções e Caus garantiu que há patrulhamento da Polícia Militar.

O coronel Douglas Caus acrescentou que o principal foco da polícia é prender criminosos considerados líderes das organizações criminosas que, como apontou o comandante-geral da PM, são os responsáveis por orquestrar os ataques aos rivais.

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Nós estamos atentos, sabemos quem são esses indivíduos. Nosso foco é prender os grandes traficantes dessas regiões que, invariavelmente, são aqueles que coordenam e determinam esse tipo de ataque

Douglas Caus
Comandate-geral da PM no ES
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"A Família Capixaba tem três ou quatro anos, vem ganhando território. O Primeiro Comando de Vitória é uma facção mais antiga que busca ganhar territórios e não deixar que a Família Capixaba cresça. A Polícia Militar tem feito patrulhamento na Piedade, no Alagoano, no Cabral, no Macaco, no Forte São João, na Piedade, no Bairro da Penha, em São Benedito", contou o comandante.

A principal motivação para os ataques, como apontou Caus, é a conquista de novos pontos de venda de drogas. Novos territórios anexados significam mais locais para a comercialização e, consequentemente, o enriquecimento da facção.

"A tomada de um território significa pontos de venda de drogas. Se você toma aquele território, você também ganha esses pontos de vendas daquele bairro tomado e a facção capitaliza mais", destacou o comandante-geral.

LÍDERES PRESOS NA GRANDE VITÓRIA PARTICIPARAM DE ATAQUES

Duas lideranças do tráfico de drogas coordenavam ataques a grupos rivais foram presos no final do mês de julho. Wende Oliveira de Almeida, chefe da facção Terceiro Comando Puro (TCP), promoveu ao menos 11 ataques na região de Grande Santa Rita, em Vila Velha, e Carlos Eduardo Pires Lima, conhecido como Chicão, gerente do tráfico de drogas do bairro Santa Rosa, em Cariacica, organizava ataques na região do Morro do Quiabo. 

Wende foi preso em um condomínio de luxo do bairro Itaparica, em Vila Velha, durante operação da Polícia Civil. Os ataques, conforme o delegado Romualdo Gianordoli, acontecem contra traficantes rivais, normalmente da facção Primeiro Comando de Vitória (PCV).

"Essa organização criminosa é investigada por diversos homicídios na região. Já apareceram, nas investigações, pelo menos 11 incidentes de homicídio. Não digo que são 11 homicídios porque houve triplo homicídio, por exemplo. Fora vários outros que a DHPP investiga. Esperamos que eles parem, porque se não pararem a gente vai continuar até enfraquecer completamente essa organização", disse o chefe do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Carlos Eduardo Pires Lima, de 27 anos, foi preso em Cariacica
Carlos Eduardo Pires Lima, de 27 anos, foi preso em Cariacica. (Rodrigo Gomes)

Já contra Carlos Eduardo havia dois mandados de prisão em aberto, ambos por homicídio. Segundo o soldado Da Silva, da Polícia Militar, Carlos Eduardo foi identificado depois de uma ocorrência atendida pela polícia. Conforme o soldado, o suspeito tem envolvimento nas constantes disputas do tráfico de drogas da região.

"Após a ocorrência na noite de hoje (quarta-feira, dia 27), em que uma menina foi vitimada na localidade, intensificamos o patrulhamento. O avistamos de longe e conseguimos efetuar a prisão dele. Ele é um dos gerentes do tráfico de Santa Rosa, é um indivíduo de extrema periculosidade. Ele sempre está presente nos ataques, nessa guerra entre o pessoal de Santa Rosa e o pessoal do Quiabo", disse.

PRISÃO DE LÍDER E ESCALADA DE VIOLÊNCIA EM VILA VELHA

Luan Resende Buarque foi preso no dia 9 de junho de 2021, no bairro Méier, no Rio de Janeiro. Contra ele, havia um mandado de prisão em aberto pela morte de Luiz Fernando Albino Nascimento, de 12 anos, que aconteceu no dia 18 de fevereiro de 2019, no bairro Glória, em Vila Velha. Luan, considerado um dos criminosos mais procurados do Estado, foi transferido para o Espírito Santo.

Escalada de violência tem levado a prisão de líderes do tráfico de drogas da Grande Vitória
Escalada de violência tem levado a prisão de líderes do tráfico de drogas da Grande Vitória. (Reprodução/Geraldo Neto)

A prisão de Luan desencadeou uma onda de violência em Vila Velha. Isso porque ele permaneceu no presídio até dezembro de 2021, quando foi concedido a ele o alvará de soltura. A partir daí, ele passou a tentar retomar o poder de regiões que ele havia perdido o controle no período atrás das grades.

O então secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Alexandre Ramalho, explicou – em reportagem produzida por A Gazeta em março deste ano – que a soltura de Luan desencadeou uma série de confrontos armados na cidade e disse que Luan possui 22 passagens pela polícia por homicídio e tráfico de drogas, entre outros crimes.

"A partir de janeiro, durante fevereiro e agora, em março, estoura essa guerra que nós estamos vendo. O resultado é o cara tentando retomar seu ponto de venda de entorpecentes que ele havia perdido no período em que fica preso. E aí vem uma guerra, em que esses vagabundos tinham seus alvos definidos. A gente lamenta a morte de todos, agora, o lamento maior é quando um inocente é atingido", disse, na ocasião.

TENSÃO CONTINUA EM VILA VELHA

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Douglas Caus, informou que bairros de Vila Velha ainda estão sofrendo com os conflitos decorrentes da disputa territorial do tráfico de drogas. Áreas de Primeiro de Maio, Santa Rita e Ilha da Conceição são disputadas pelas facções e têm registros de ataques e tiroteios.

Caus ressaltou que o problema que atinge essas comunidades é estrutural, com os criminosos se aproveitando da situação vulnerável em que vivem muitas famílias para conseguirem novos membros. Ele acrescentou que isso acontece há mais de 20 anos.

"A Polícia Militar está preparada para o enfrentamento, sim, para ocupar esses bairros. O que está ocorrendo é que, na dinâmica do crime, com o crescimento dessas facções, que se aproveitam da situação de vulnerabilidade social para poder captar novos membros e fazer o armamento e o treinamento. É um problema estrutural. Isso não começou nesses últimos seis meses, o Primeiro Comando de Vitória deve ter quase 20 anos", argumentou.

De acordo com o comandante-geral da Polícia Militar, duas organizações criminosas tinham áreas bem delimitadas e conviviam sem muitos embates. Porém, com a constante expansão territorial e a proximidade entre regiões dominadas por cada facção, os confrontos se intensificaram.

"Eles vinham convivendo de forma pacífica, mas chega uma hora em que eles estão em um bairro e, do outro lado, está outra facção. Então, para poder expandir, eles tentam fazer essa tomada. Antigamente, havia território suficiente, cada uma foi pegando um bairro. Como elas estão mais próximas agora, uma do lado da outra, há essa rivalidade", comentou o coronel.

"ONDE A GENTE CHEGA, A GENTE ENTRA"

Douglas Caus fez uma comparação entre a situação da Grande Vitória com a do Rio de Janeiro. Segundo o comandante-geral, na cidade carioca há um domínio muito maior dos criminosos, por isso, a polícia enfrenta uma maior dificuldade em acessar áreas de conflito.

Já no Espírito Santo, a situação é outra. Ele afirmou que a polícia consegue entrar em áreas dominadas por facções criminosas e ocupar estes locais.

"Esses traficantes não têm, aqui no Espírito Santo, a postura de enfrentar a polícia, de dominar um território e fazer controle de moradores. O Rio de Janeiro é muito diferente, a população capixaba tem que entender isso. Lá têm várias facções diferentes. Para entrar no complexo do Alemão, por exemplo, são 400 policiais. Aqui no Estado, a Polícia Militar não permite que territórios sejam tomados. O que eu quero dizer é que barricada, local onde a polícia não entra, não existe no Espírito Santo. Onde a gente chega, a gente entra, prende, ocupa imediatamente e o criminoso corre, literalmente. No Rio de Janeiro, eles enfrentam a Polícia Militar, ficam posicionados, trocando tiros por várias horas", declarou.

POLÍCIA IMPEDE ATAQUE DE GRUPO A BAIRRO DE CARIACICA

Policiais impediram um ataque de criminosos armados no bairro Santa Rosa, em Cariacica, durante a madrugada desta quinta-feira (4). Conforme a Polícia Militar, eram cerca de 20 homens provenientes do Morro do Quiabo. Munições foram apreendidas, além de dois celulares, mas ninguém foi detido.

Os agentes faziam um patrulhamento a pé quando se depararam com os criminosos que, ao verem os policiais, atiraram. Começou uma troca de tiros, e, conforme o registro da ocorrência feito pela PM, mais de 150 disparos foram efetuados pelos militares.

Os criminosos, então, começaram a recuar para uma área de mata que fica perto de uma carvoaria que divide o Morro do Quiabo e o bairro Santa Rosa. Eles conseguiram fugir e os militares recuperaram dois carregadores de pistola calibre 9 mm, 11 munições calibre 9 mm, duas munições calibre 12 picotadas e dois celulares.

OPERAÇÃO SICÁRIO PRENDE CHEFE DO TRÁFICO EM VITÓRIA

Apontado pela polícia com um dos chefes do tráfico do Morro da Garrafa, em Vitória, Robert da Silva Cunha, de 25 anos, o "Gordinho", foi surpreendido por agentes da Operação Sicário III na manhã desta sexta-feira (5). Na casa dele, uma apreensão chamou atenção: havia dólar, peso colombiano e peso chileno.

De acordo com o delegado Romualdo Gianordoli, chefe do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP), o criminoso não disse o porquê tinha essas notas (que não tiveram o valor total divulgado) em casa. O fato será investigado.

No total, foram nove presos, entre os quais estão dois gerentes do tráfico da região, além de outros envolvidos com a facção. A polícia também apreendeu R$ 15.100 em espécie, 310 pinos de cocaína, 490 gramas da mesma droga, uma arma falsa, celulares e relógio.

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