Dois meses após a morte da adolescente Karen Moreira, em Castelândia, na Serra, a Polícia Civil concluiu a investigação e acabou indiciando o motorista do caminhão que atropelou a jovem de 16 anos por homicídio qualificado (quando há intenção ou assume o risco de matar) e embriaguez ao volante. A decisão da autoridade policial responsável pelo caso acaba sendo uma reviravolta, visto que, à época dos fatos, Eduardo Rodrigues havia sido autuado em flagrante por lesão corporal culposa e homicídio culposo (quando não há intenção de matar) — além da embriaguez ao volante, já que foi constatada presença de álcool no sangue dele.
A Polícia Civil explicou que o procedimento realizado pela Central de Teleflagrante no dia 16 de janeiro — data do acidente e da prisão de Eduardo — e o inquérito policial foram remetidos ao Judiciário, que devolveu à Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito (DDT) solicitando diligências complementares.
"O inquérito policial foi concluído no dia 15 de março deste ano, resultando no indiciamento do investigado pelo crime de homicídio qualificado que possa resultar em perigo comum, cometido com recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido e embriaguez ao volante. O procedimento foi encaminhado ao Ministério Público ", informou a PC.
O motorista do caminhão foi preso e levado ao Centro de Triagem de Viana (CTV), mas a Justiça mandou soltá-lo no dia seguinte ao acidente, por meio de audiência de custódia.
Na investigação, a Polícia Civil constatou que no sangue de Eduardo, conforme teste do etilômetro, havia 0,38 mg/l de álcool. Segundo o advogado da família de Karen, Fábio Marçal, o relatório policial reforça ainda que "o indiciado estava com a capacidade psicomotora alterada sob influência de álcool” e “que em sua ação o indiciado Eduardo Rodrigues agiu dolosamente quando cometeu o crime em investigação”.
Ainda segundo Marçal, a investigação destacou que o motorista:
Os depoimentos levantados pela polícia relatam que Eduardo, após o acidente, acendeu um cigarro e não concedeu qualquer tipo de auxílio à vítima, conforme constatou o inquérito. A adolescente teve várias fraturas na bacia e na perna. Karen foi socorrida e levada para o Hospital Estadual Jayme Santos Neves, na Serra, onde passou por cirurgias, mas não resistiu e morreu no dia seguinte, em 17 de janeiro.
A Delegacia Especializada em Delitos de Trânsito também representou pela suspensão da habilitação para dirigir do indiciado, bem como pela prisão preventiva do acusado.
"O indiciado representa sério risco ao sistema viário. A sociedade hoje clama por Justiça, e espera das autoridades competentes uma resposta responsável e coerente para que crimes e comportamentos desta natureza não se tornem uma constante em nosso Estado, dando uma sensação de impunidade e incentivando, inclusive, que outros assim atuem"
[Titular da Delegacia Especializada em Delitos de Trânsito]
O advogado da família e assistente de acusação no caso, Fábio Marçal, celebrou a mudança de entendimento. "A Delegacia Especializada em Delitos de Trânsito fez um trabalho belíssimo e constatou todas as ilegalidades existentes. Fica demonstrado que não pode haver impunidade numa situação tão calamitosa como esta. O que aconteceu foi um crime gravíssimo, no qual o acusado sequer teve a hombridade de prestar socorro. Ele simplesmente saltou do caminhão e foi acender um cigarro. Nem o desespero da mãe e das pessoas em volta serviu para comovê-lo. Teve total desprezo pela vítima e assumiu o risco de cometer um delito a partir do momento em que decidiu dirigir depois de beber", narrou.
A reportagem de A Gazeta tenta localizar a defesa de Eduardo Rodrigues, que anteriormente foi atendido por meio da Defensoria Pública. A instituição também foi demandada. O espaço segue aberto para manifestação.
Com apenas 16 anos e muitos sonhos, Karen caminhava com a mãe em uma ciclofaixa, quando o veículo invadiu o canteiro central e atropelou a adolescente. "Não morreu na hora, ainda estava consciente no local do acidente, disse que amava o pai e a mãe, já sentia que ia morrer. Foi levada ao hospital, onde passou a noite na UTI e morreu na manhã do outro dia”, contou uma tia da vítima. Ela ainda disse que Eduardo não chegou a fugir do local, mas não prestou qualquer socorro à sobrinha dela.
Em entrevista ao repórter Vinicius Colini, da TV Gazeta, a mãe da adolescente, Lucinda Santos Moreira, desabafou sobre a perda da filha. Ela contou que chamou Karen para uma caminhada.
"O tempo todo era eu e ela, aí falei: ‘Minha filha, vamos fazer uma caminhada? Para você sair um pouco'. Saímos às 17h de Feu Rosa, saímos no Terminal de Jacaraípe, atravessamos o sinal, andando na ciclovia para não atrapalhar o fluxo dos ciclistas. Neste momento, a uns 200 metros depois do sinal, ouvi um barulho nas minhas costas, bem forte. Pulei para frente, achei que era minha colega que estava debaixo da carreta. Era a Karen. Gritei, não sabia o que fazer naquela hora".
A mulher disse que ninguém ajudou a socorrer a filha e que quem passava pelo local, apenas filmava. Somente um homem se dispôs a ligar para o socorro. "Ele (motorista) não chegou perto de mim nenhum segundo para prestar socorro. A morte da Karen não pode ser mais uma. Ele estava embriagado. Eu vi, ele abriu a porta da carreta, desceu, acendeu o cigarro e ficou assistindo meu desespero".
De acordo com Lucinda, a filha chegou a pedir a mãe para conversar com o motorista para dar o seu perdão e questionou por que aquilo estava acontecendo com ela. "Karen é amada demais, todo mundo ama a Karen, todo lugar que Karen passou ela deixou um rastro de carinho. Karen tinha o sonho de ir para o Canadá, de voar alto, uma menina exemplar, essa era a minha filha, minha amiga, que não volta nunca mais", lamentou.
A família decidiu pela doação dos órgãos da adolescente, que foi sepultada no dia 18 de janeiro.
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