A sede por "fazer justiça com as próprias mãos" foi o que levou ao assassinato do aposentado Antônio Batista da Fonseca, de 74 anos, espancado brutalmente até a morte no dia 31 de maio, em Central Carapina, na Serra. Chefiada pelo delegado Rodrigo Sandi Mori, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa do município, a investigação concluiu que o idoso foi morto sem ter cometido crime algum. A conclusão do inquérito não encontrou nenhum indício de que o idoso tenha abusado sexualmente de duas crianças e ainda desmentiu a versão contada pela mãe das meninas.
Segundo Sandi Mori, motivada por vingança, uma jovem de 25 anos inventou que Antônio teria abusado das filhas dela e espalhou o caso pelo bairro. Os boatos inverídicos rapidamente se espalharam até que no dia 31 de maio a vítima foi abordada no meio da rua e, sem ter a possibilidade de se explicar, foi brutalmente agredida, inclusive com um pedaço de madeira repleto de pregos. Os golpes foram concentrados na cabeça e na face do idoso.
Durante a investigação, 16 dias após o crime, a Polícia Civil prendeu André Luiz Alves Ferreira de Souza, de 29 anos, Patrick Joe Alvarenga, de 33 anos, Márcia dos Santos, de 31 anos, e Jocimar Lima Ferreira, de 35 anos — este último se entregou à polícia. Todos confessaram participação no assassinato de Antônio.
Embora negasse em depoimento, a mãe das meninas e Antônio mantinham um caso amoroso. O idoso, inclusive, costumava agradar a mulher e também as filhas dela ao ponto de presentear a então namorada com um celular. Após um desentendimento, ele pegou o aparelho que havia dado de presente à parceira. Para se vingar, a mulher resolveu inventar que ele havia abusado sexualmente das filhas dela. Antônio e a mulher mantiveram um relacionamento por cerca de 20 dias e, além do celular, a vítima fazia compras de alimentos para ela e as filhas.
"Ficou comprovado que não houve estupro. No primeiro depoimento prestado pela mãe das crianças na delegacia, ela mentiu do começo ao fim. Inclusive negou até o óbvio, que era o relacionamento dela com o Antônio. A partir daí produzimos provas que desqualificaram por completo a versão apresentada por ela. Foi juntado os laudos de conjunção carnal, cujo resultado foi negativo. Foi realizado atendimento psicossocial na DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) das duas crianças e foi oficiado à delegacia solicitando se havia sido instaurado inquérito para apurar o crime de estupro de vulnerável por parte do Antônio e se o mesmo havia sido indiciado por este crime naquela delegacia, tendo como 'não' a resposta para ambas as perguntas", afirmou Sandi Mori.
Ao perceber que as investigações iam ao contrário do que ela havia dito, a mulher mudou a versão quando prestou um segundo depoimento. Na delegacia, ela confessou que mandou a filha de 3 anos dizer ao pai que Antônio teria machucado as partes íntimas dela. Para a filha de 9 anos, ela pediu que contasse ao pai que o Antônio teria lhe acariciado os seios e também a genitália. Além disso, segundo o delegado, ela aproveitou o fato de uma das filhas apresentar assaduras para inventar a história de que a criança teria sido abusada sexualmente.
Na noite do crime, já cientes do boato sobre o suposto abuso, Jocimar e Márcia estavam em um bar quando avistaram Antônio passando pela mesma rua. O homem o segurou, o fotografou e mandou para o André, pai das duas meninas, que confirmou que aquele era o indivíduo que teria abusado das filhas. André pediu que Jocimar e Márcia o segurassem no local até a chegada dele. Enquanto ele não chegava, os dois encurralaram o idoso contra um muro e começaram as agressões com chutes e socos.
Enquanto o agredia, Márcia passou a incitar a população local dizendo que Antônio era estuprador e tinha que morrer. Passados alguns minutos, a sobrinha da vítima chegou ao local, retirou o tio da multidão e quando ambos caminhavam até a residência do idoso, foram surpreendidos por André, que desferiu dois golpes com um pedaço de pau com pregos na cabeça do Antônio, fazendo com que ele caísse no chão.
A partir daí, o pai das crianças de 3 e 9 anos e Patrick, que estava com ele, desferiram várias pancadas na cabeça e no rosto da vítima, que não resistiu às agressões e morreu no local.
"Em nenhum momento eles procuraram saber se as crianças haviam sido abusadas pelo Antônio. Eles só foram perguntar para o André e o pediram os laudos após a consumação do crime. O André e a mãe nem sequer procuraram a DPCA para dar andamento na investigação e nem foram saber dos resultados dos exames feitos nas crianças", detalhou o delegado Rodrigo Sandi Mori.
De acordo com Sandi Mori, a mulher que inventou o falso abuso sexual não vai responder pelo homicídio, pois não participou efetivamente do crime. Ela, entretanto, responderá por denunciação caluniosa – dar causa a uma investigação sabendo que a pessoa é inocente. A pena para esse crime é de 2 a 8 anos.
Já os quatro detidos, confessaram em depoimento a participação no crime e foram indiciados por homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima, com o aumento da pena pelo fato da vítima ser maior de 60 anos.
Com a conclusão do inquérito e a prisão dos envolvidos no assassinato do tio, a sobrinha de Antônio, Ivone Ferreira de Souza, de 48 anos, que chegou a tentar intervir no dia do crime para proteger o tio, mostrou-se aliviada e confortada com a ação da polícia.
"A prisão deles passa um pouco de conforto para nós. Sempre tivemos certeza que meu tio era inocente. Ele era uma pessoa boa, que trabalhou muito na vida antes de aposentar, nunca teve nenhum envolvimento com a polícia e perdeu a vida desse jeito doloroso. Agora, meu tio está embaixo da terra sem ter feito nada e por fazerem as coisas sem procurar a polícia, como é o certo", disse.
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