Um jovem de 24 anos foi morto a tiros por um policial militar na noite deste sábado (2), no bairro São José, na região da Grande São Pedro, em Vitória. Em um vídeo recebido por A Gazeta, Weliton da Silva Dias aparece com as mãos levantadas antes de ser atingido pelo agente da Polícia Militar.
O caso aconteceu por volta das 19h30, na Rua Quatro de Janeiro, popularmente conhecida como Beco da Sorte. Em forma de protesto, moradores da região chegaram a atear fogo em um ônibus do Sistema Transcol. Neste domingo (3), a família ainda estava muito abalada e revoltada.
Conforme consta no boletim de ocorrência, os policiais envolvidos nessa ação foram identificados como cabo Sandro Frigini – que teria atirado no Weliton – e o soldado Victor Fagundes de Oliveira.
Depois de ser atingido pelos disparos, Weliton chegou a ser socorrido para o Pronto-Atendimento (PA) de São Pedro. Os familiares dele reclamaram de ter sido impedidos de entrar no local e ameaçados pelos policias, quando tentavam obter alguma informação sobre o estado de saúde do jovem.
Ainda de acordo com os parentes, o rapaz trabalhava como ajudante de pedreiro e levou dois tiros: um no peito e outro no abdômen. Weliton não resistiu aos ferimentos e morreu e foi levado para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória. O corpo do jovem estava sendo liberado na manhã deste domingo (3).
Companheira de Weliton há nove anos, uma manicure que preferiu não ser identificada contou que existe um ponto comercial que vende bebidas no Beco da Sorte e que ele estaria no local, aguardando a saída dela do trabalho, para irem jantar e ficar juntos do filho de seis anos de idade.
"Eu fiquei sabendo porque uma amiga minha me ligou, mas achei que não tivesse sido tão grave, que ele iria sobreviver. Estou simplesmente acabada, não tem como não ficar em uma situação dessa. Meu filho ainda não sabe. Os dois eram muito apegados, nem sei o que fazer", disse, chorando.
De acordo com a família, Weliton da Silva Dias não tinha envolvimento com o tráfico de drogas, mas chegou a ser preso no início de 2019. "Ficou nove meses injustamente atrás das grades. Os policiais nunca apareciam na audiência e o processo acabou arquivado", garantiu a companheira.
Demandada pela reportagem da TV Gazeta, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) informou que ele tem oito passagens pela polícia, entre os anos de 2012 e 2019. Entre os crimes mencionados estão porte ilegal de arma de fogo, ameaça, desacato ou resistência à ação policial e tráfico de entorpecentes.
Pouco depois que Weliton foi baleado, um barbeiro de 23 anos também acabou ferido com um tiro no pé, que teria sido dado por um policial militar. Com a ajuda de pessoas que estavam no local, ele conseguiu ir até o PA de São Pedro. Apesar do susto, ele já recebeu alta e está bem.
Em entrevista à repórter Gabriela Martins, da TV Gazeta, o barbeiro – que pediu para não ser identificado – disse que o policial teria tentado dar uma coronhada, da qual ele escapou ao bater na mão do militar. Logo em seguida, ele levou o tiro. "Ele ainda mirou mais uma vez contra mim, mas as pessoas foram para cima dele e eu saí", contou.
O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, coronel Márcio Celante Weolffel, falou sobre o ocorrido na noite deste sábado (2), em São José. O coronel confirma que duas pessoas foram vítimas de arma de fogo durante o atendimento de uma ocorrência pela Polícia Militar e que as duas foram socorridas ao hospital, sendo que uma das vítimas não resistiu aos ferimentos e a outra foi atendida e liberada. Ele também explica o que será feito a partir de agora para esclarecer os fatos.
Confira o vídeo com a declaração na íntegra:
A reportagem de A Gazeta questionou Polícia Militar sobre a conduta dos policiais e o que teria acontecido no bairro São José na noite deste sábado (3). Assim que houver retorno, este texto será atualizado.
Em nota, a Polícia Civil informou que o caso seguirá sob investigação do Serviço de Investigações Especiais (SIE) do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e detalhes da investigação não serão divulgados, por enquanto. Informou também que o corpo do jovem morto na noite de sábado foi encaminhado para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, para ser necropsiado e, posteriormente, liberado para os familiares.
Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBus) informou que a empresa responsável está apurando o caso. "Segundo informações preliminares, o ônibus tinha acabado de sair da garagem, por volta das 20h, quando foi abordado pelos suspeitos. Dentro dele, havia apenas o motorista. Os suspeitos ordenaram que ele descesse e atearam fogo".
O GVBus também afirmou que 18 ônibus foram incendiados por iniciativa criminosa entre os anos de 2020 e 2022. "Os prejuízos giram em torno de R$ 400 mil por veículo incendiado, em média, e recaem sobre o sistema, sendo arcados pela empresa proprietária", detalhou o sindicato, reforçando o transtorno causado por esse tipo de crime na Região Metropolitana.
Em nota, a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACSPMBMES) afirmou que dará todo o suporte necessário aos dois policiais envolvidos na abordagem do último sábado (2), em Vitória, e ressaltou que os disparos foram dados para "assegurar a vida do próprio policial".
A entidade também reforçou que Weliton – "vulgo Leste" – estava com uma metralhadora em uma região conhecida pelo tráfico de drogas e homicídios e que "o policial teve milésimos de segundos para a tomada de decisão e precisou considerar todas essas questões, além de estar sob a pressão da atividade".
Após a publicação, a reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência e aos nomes dos policiais. O GVBus também enviou nota. O texto foi atualizado.
O GVBus enviou nota sobre o ônibus incendiado em Vitória no último sábado (2). O texto foi atualizado.
A Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo enviou nota sobre o caso. O texto foi atualizado.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta