O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), se pronunciou na tarde desta segunda-feira (4) sobre a morte de um jovem de 24 anos por um policial na noite de sábado (2), no bairro São José, na Grande São Pedro, em Vitória. Imagens obtidas pela reportagem mostram Weliton da Silva Dias com os braços levantados antes de ser atingido pelos disparos.
Em seu perfil no Twitter, Casagrande disse que “todo tipo de violência deve ser repudiado” e determinou ao comando da Polícia Militar a “investigação sumária do fato ocorrido na Grande São Pedro”. O governador ainda ressaltou sua confiança nas forças policiais e afirmou que “qualquer tipo de excesso não ficará impune.”
Weliton da Silva Dias, de 24 anos, foi morto na Rua Quatro de Janeiro, conhecido como Beco da Sorte, no bairro São José, região da Grande São Pedro, em Vitória. Consta no boletim de ocorrência que os policias envolvidos na ação foram identificados como cabo Sandro Frigini, que teria atirado em Weliton, e o soldado Victor Fagundes de Oliveira.
Após os disparos, o jovem chegou a ser socorrido para o Pronto Atendimento (PA) de São Pedro. Familiares relataram à reportagem terem sido impedidos de entrar no local e ameaçados por policiais, quando tentavam obter alguma informação sobre o estado de saúde de Weliton.
Ainda conforme os parentes, o rapaz trabalhava como ajudante de pedreiro e levou dois tiros: um no peito e outro no abdômen. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu e foi levado para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória.
Segundo a família, o jovem não tinha envolvimento com o tráfico de drogas, mas chegou a ficar preso em 2019. "Ficou nove meses injustamente atrás das grades. Os policiais nunca apareciam nas audiências e o processo acabou arquivado", garantiu a companheira.
A Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) informou que ele tem oito passagens pela polícia, entre os anos de 2012 e 2019. Entre os crimes estão: porte ilegal de arma de fogo, ameaça, desacato ou resistência à ação policial e tráfico de entorpecentes.
O secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, coronel Márcio Celante, afirmou que os policiais envolvidos na ocorrência foram preventivamente afastados das operações nas ruas e as armas usadas por eles, recolhidas. Um inquérito policial militar também foi instaurado e tem prazo de 60 dias para ser concluído.
Em entrevista à TV Gazeta na manhã desta segunda-feira (4), o secretário também adiantou que o cabo Sandro Frigini e o soldado Victor Fagundes de Oliveira seriam ouvidos durante a tarde, com o objetivo de obter mais detalhes sobre o que aconteceu e esclarecer dúvidas iniciais.
Pouco depois que Weliton foi baleado, um barbeiro de 23 anos também acabou ferido com um tiro no pé, que teria sido dado por um policial militar. Com a ajuda de pessoas que estavam no local, ele conseguiu ir até o PA de São Pedro. Apesar do susto, ele já recebeu alta e está bem.
Em entrevista à TV Gazeta, ele contou que tentou se aproximar do local em que Weliton foi ferido e que o policial tentou dar uma coronhada nele. "Eu tirei a mão dele, perguntei se ele estava doido e ele me deu um tiro. Ele mirou, foi na minha frente", afirmou.
Conforme descrito no boletim de ocorrência, a guarnição da Polícia Militar estava em um patrulhamento na Rua Apóstolo São Paulo, um "local de intenso tráfico de entorpecentes e crimes contra a vida", quando um indivíduo foi avistado portando "armamento em bandoleira" — espécie de correia que serve para transportar a arma no ombro ou a tiracolo.
Naquele momento, o suspeito teria ido em direção a um beco. No acompanhamento, um dos policiais, identificado como Sandro Frigini, "visualizou o indivíduo fazendo movimento que levava a crer que atiraria contra o militar" e visando a se proteger, efetuou dois disparos.
No vídeo, o Weliton não parece oferecer qualquer tipo de resistência e está com as mãos levantadas, atrás da cabeça, quando recebe os dois tiros, ambos na região do peitoral. "Como o indivíduo caiu no chão, foi possível se aproximar do agressor de modo a recolher o armamento que estava em posse dele." Nessa hora, o boletim de ocorrência diz que o policial "percebeu que a arma estava em bandoleira, sendo necessário cortá-la para retirar a arma do infrator".
O registro traz dois momentos em que o militar teria percebido que o suspeito estava armado e usando uma bandoleira: uma no início da abordagem e outra após dos disparos. O socorro ao Weliton Dias da Silva também teria sido prestado por um "grupo de pessoas", levando-o ao Pronto Atendimento de São Pedro.
Sobre o barbeiro, consta no boletim que, depois do disparo nele, o grupo de criminosos teria se dispersado. "Na região, é comum que grupos de pessoas ligadas ao tráfico de entorpecentes interfiram na ação policial, exatamente o que aconteceu na data de hoje (sábado), o que impossibilitou o socorro dos infratores por parte da Polícia Militar."
Em nota, a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACSPMBMES) afirmou que dará todo o suporte necessário aos dois policiais envolvidos na abordagem do último sábado (2), em Vitória, e ressaltou que os disparos foram dados para "assegurar a vida do próprio policial".
A entidade também reforçou que Weliton – "vulgo Leste" – estava com uma metralhadora em uma região conhecida pelo tráfico de drogas e homicídios e que "o policial teve milésimos de segundos para a tomada de decisão e precisou considerar todas essas questões, além de estar sob a pressão da atividade".
A Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo enviou nota sobre o caso. O texto foi atualizado.
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