Para alguns, a pastora Juliana Salles é uma mãe que não pode ser responsabilizada pelos crimes que o marido cometeu. Para outros, ela é uma mulher omissa, que sabia o risco os filhos - Kauã e Joaquim - corriam ao ficarem sozinhos com o pastor George Alves, de 36 anos. E a principal divergência sobre o papel (ou não) da Juliana no caso parte da Polícia Civil e o Ministério Público.
O crime aconteceu no dia 21 de abril de 2018. Juliana estava em Minas Gerais, onde participava de um congresso de dança profética da igreja. Ela fez a viagem com o filho mais novo do casal e deixou os filhos mais velhos com o marido. O pastor era pai de Joaquim e padrasto de Kauã.
Segundo a Polícia Civil, os irmãos foram estuprados, agredidos e queimados vivos pelo marido de Juliana. Ele é pai de Joaquim e padrasto de Kauã, e está preso desde 28 de abril do ano passado no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Viana II.
Acusada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) de conduta omissiva nas mortes de seus filhos, Juliana foi presa duas vezes, mas hoje responde pelos crimes em liberdade.
POLÍCIA CIVIL
No dia 23 de maio de 2018, a Polícia Civil concluiu o inquérito sobre a morte dos irmãos e divulgou que o envolvimento de Juliana Salles na morte dos filhos estava descartado. Na ocasião, a informação foi passada pelo delegado André Jaretta Ardison, que era titular da 16ª Delegacia Regional de Linhares.
Ele explicou que, pela investigação feita até o momento da conclusão do inquérito, não havia "qualquer indício de envolvimento, participação ou conivência da mãe dos meninos com o crime. Por esse motivo, foi descartado, inclusive, que a pastora voltaria a ser ouvida pela polícia. A pastora esteve na delegacia em três ocasiões. Em duas delas, os depoimentos duraram quatro horas.
Quem concordou com a conclusão da Polícia Civil foi o coronel Nylton Rodrigues, que na época era secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp). Não tem nenhum tipo de envolvimento. Isso está descartado, garantiu.
No dia 28 de abril, a Justiça determinou a quebra de sigilo telefônico de Juliana e do marido dela. O conteúdo das mensagens trocadas pelo casal, entretanto, não teve relação com o crime que vitimou os dois meninos. A análise das conversas não trouxe nenhum elemento de destaque com relação ao crime do dia 21, afirmou Jaretta, na época.
Durante o enterro dos filhos, no dia 10 de maio de 2018, a pastora se desesperou. Tá doendo, pai. É verdade isso? Ai, meu Deus do céu!, foram as palavras gritadas por ela ao ver os caixões dos meninos no Cemitério São José, em Linhares. Juliana foi amparada pelo pai, familiares e membros da Igreja Batista Vida e Paz.
MINISTÉRIO PÚBLICO
Mas a promotora Rachel Tannenbaum, que na época respondia pela 2ª Promotoria Criminal de Linhares, denunciou que Juliana tinha conhecimento do risco que as crianças sofriam por estarem sozinhas com George. Ela foi presa pela primeira vez na cidade de Teófilo Otoni, em Minas Gerais, no dia 19 de junho de 2018.
O mandado de prisão de Juliana foi expedido pelo juiz André Bijos Dadalto, da 1ª Vara Criminal de Linhares no dia 18 de junho de 2018, mesmo dia em que a Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público Estadual contra Juliana e Georgeval.
Na denúncia, a promotora Rachel Tannenbaum acusou Juliana de ter conhecimento do risco que as crianças sofriam por estarem sozinhas com George, o que caracteriza omissão por parte dela.
Em entrevista exclusiva ao Gazeta Online na época, a promotora informou que George responde na Justiça por: dois homicídios qualificados; dois estupros de vulneráveis; dois crimes de tortura; e fraude processual por ter alterado a cena do crime. Já Juliana, apesar de não estar em casa no dia do crime, responde também por dois homicídios; dois estupros de vulnerável; e também por fraude processual.
SILÊNCIO
Após o Ministério Público denunciar Juliana, por omissão nas mortes dos filhos, a Polícia Civil ficou em silêncio sobre o assunto. Na época, a reportagem procurou a instituição e fez às seguintes perguntas:
1. A Polícia Civil irá se manifestar sobre a denúncia do Ministério Público, aceita pelo juiz?
2. Baseado em quais elementos a polícia descartou o envolvimento de Juliana?
3. Na análise das conversas entre os acusados, a Polícia Civil não encontrou nada que indicasse conivência da pastora? A corregedoria da Polícia Civil vai investigar suposta falha por parte das apurações do caso?
Para todas as perguntas, a Polícia Civil e a Sesp resumiram-se a responder O trabalho foi concluído, no último dia 29 de maio, com o relatório final e envio dos autos ao Ministério Público.
Na última semana, a reportagem voltou a procurar o Ministério Público e a Polícia Civil. No entanto, nem os delegados que o conduziram o caso nem a Promotoria Criminal de Linhares quiserem se manifestar publicamente sobre o indiciamento de Juliana Salles.
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