O líder do Primeiro Comando de Vitória (PVC), uma das facções criminosas mais perigosas do Espírito Santo, tem mais que o dobro de advogados que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Carlos Alberto Furtado, o Beto, foi atendido por 55 advogados em 14 meses na Penitenciária de Segurança Máxima 2, em Viana. Já Lula, que está preso na Polícia Federal, conta com 24 advogados para sua defesa.
Levantamento realizado pela reportagem, a partir de informações das visitas feitas por advogados ao presídio de Viana, revela que no ano de 2018 e nos dois primeiros meses deste ano o detento Beto, recebeu 310 visitas no período. Só no ano passado foram 265. Isso significa que, por mês, ele recebeu pelo menos 22 vistas de um dos seus 55 advogados.
Se for considerar as visitas diárias, há advogados que chegaram a visitá-lo 25 vezes em um mês, e em muitas vezes acompanhados de outros profissionais, com inscrições tanto na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Estado quanto na do Rio de Janeiro. Um terço de todas as visitas realizadas no período foram feitas por apenas um profissional. Houve a chamada assistência jurídica até em dias especiais, como na véspera do Natal, 24 de dezembro, e na do Ano Novo, 31 de dezembro, período em que o Judiciário está de recesso e os atendimentos judiciais são feitos em plantões.
OUTROS CASOS
Além do Beto, outros dois presos, que fazem parte de lideranças de facções no Estado, também contam com mais advogados para defesa do que Lula. Todos eles já constaram na lista estadual de bandidos mais perigosos, ligadas ao tráfico de drogas.
Um deles é Giovani Otacílio de Souza, o Paraíba, preso em 2017 com uma arma de ouro. Era um dos chefes do tráfico de drogas do Bairro da Penha, em Vitória. Na época, tinha nove mandados de prisão em aberto contra ele. No período entre 2017 a 2019 ele foi atendido por 28 advogados, em 178 visitas.
Outro detento é Weverson da Rocha Bento. Preso em 2014, também constava na lista dos 10 mais procurados. Conhecido como Versinho e Playboy, é outra liderança do tráfico de drogas na região do Aglomerado da Penha, em Vitória. Entre os anos de 2014 e 2019, um total de 33 advogados o atenderam.
DENÚNCIA
Detido desde 2013, Beto lidera a organização criminosa que domina o Complexo da Penha, o Primeiro Comando de Vitória (PCV), e o seu braço armado, o Trem Bala, ambas ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), cujas principais lideranças estão reclusas, mas ainda continuam dando ordens e comandando suas empresas de dentro do presídio, tentando ampliar seu território. A informação faz parte de uma denúncia do Ministério Público Estadual apresentada à Justiça no final do ano passado.
Na ação, Beto é descrito como uma pessoa articulada, inteligente, com estratégias claras de alianças com outros detentos. Dentro do sistema prisional é tido como alguém com muito dinheiro, supostamente em nome de outras pessoas. Lança mão de catuques bilhetes trocados entre presos e de cartas, de contatos com familiares que o visitam e até dos celulares que a ele chegam, mesmo dentro da prisão, para controlar com mão de ferro as lideranças a ele ligadas.
Uma verdadeira empresa ou sociedade, como é descrita no processo, comandada por diretores, gerentes, responsáveis pela segurança dos pontos de preparação e venda de drogas, as conhecidas bocas de fumo, e, por fim, dos encarregados pela comercialização das drogas.
Tudo funcionando a pleno vapor, comandado por Beto, com propósito de explorar o tráfico de drogas, contando até com diversos fornecedores de materiais ilícitos fora do Estado. O curioso é que boa parte das principais lideranças (83) está presa, e é dos presídios que saem as decisões que afetam as comunidades da Grande Vitória. Uma das cartas que constam em processo, por exemplo, determinava a execução de um outro preso que havia acabado de deixar o sistema.
Dentre os profissionais que visitaram Beto no período está a advogada Luezes Makerlle da Silva Rocha, que a ele prestou assistência em três dias do ano passado, nos meses de janeiro e maio. A profissional foi presa na manhã desta terça-feira (20) na Operação Ponto Cego, realizada pelo Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas (Nuroc). Ela e a profissional Gabriella Ramos Acker, que também foi presa, são suspeitas de coletar e transmitir bilhetes de lideranças criminosas detidas no sistema prisional capixaba para comparsas do lado de fora executarem as ordens.
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