Um total de 5.394 unidades de munições legais foram roubadas, furtadas ou extraviadas para o mercado ilegal no Espírito Santo no período entre 2018 e 2022. As residências foram os locais onde a maioria dos desvios ocorreu. Os dados foram divulgados a partir de um levantamento inédito do governo do estado, em parceria com o Instituto Sou da Paz, e divulgados na primeira edição do Anuário Estadual da Segurança Pública, lançado este mês.
Segundo os dados, 45% das ocorrências foram registradas dentro de casas. Isso representa uma média de 43 unidades de munição levadas por ocorrência. Em seguida, estão as vias públicas, com 30% dos extravios.
As repartições públicas aparecem em apenas 2% das ocorrências, mas tiveram a maior média de quantidade de munição levada, com 101 unidades por ocorrência.
Já em relação aos municípios em que essa situação de extravio mais aconteceu, Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica se destacam, somando 53% das ocorrências totais.
Natália Pollachi, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, aponta que o controle da circulação legal de munições e o combate ao seu tráfico são elementos fundamentais na prevenção e no combate à violência armada e ao crime organizado. Mas esse tipo de estudo e o combate ativo ainda são pouco praticados no país.
"Só existem duas pesquisas no Brasil com esse tipo de análise, uma feita no Rio de Janeiro há alguns anos, e essa feita agora no Espírito Santo. As duas conduzidas pelo Instituto Sou da Paz", falou.
Ela explica que é muito importante quantificar esses dados para entender os caminhos que se deve tomar em futuras investigações, saber entender os padrões e a dinâmica das operações criminosas.
O g1 conversou com Pablo Lira, especialista em segurança pública e diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, parceiro na divulgação dos dados. Ele aponta que o Estado do Espírito Santo foi pioneiro ao adotar o Modelo Integrado de Controle de Armas, e é um dos poucos do país a implementar uma Delegacia Especializada de Armas e Munições (Desarme), que tem realizado operações importantes para retirar armas do crime.
A análise do Instituto Sou da Paz e do governo do estado também se debruçou sobre o perfil das apreensões de munições nesse mesmo período, de janeiro de 2018 a junho de 2022. Foram identificadas 14 mil ocorrências envolvendo 269 mil unidades de munição, uma média de 16 ocorrências por dia. Calibres de pistolas, revólveres e carabinas somam 3 de cada 4 apreensões.
A média de munições apreendidas por ocorrência foi de 19 unidades, havendo 26 ocorrências com mais de 500 unidades e 10 ocorrências com mais de mil unidades.
Assim como nos casos de desvio, vemos uma tendência de aumento das ocorrências de apreensão. No entanto, na comparação entre tipos de locais onde a munição foi encontrada e o ritmo de crescimento de casos são diferentes. A via pública soma 62% das ocorrências, já as residências somam 25% do total.
Das 26 maiores ocorrências de apreensão, em apenas uma houve troca de tiros em confronto, o que pode indicar que operações mais planejadas, as que atingem maiores quantidades, tendem a ser mais eficazes e com menos violência.
A mudança no perfil das marcas de munições apreendidas, o aumento de casos envolvendo residências e a presença de grandes apreensões envolvendo pessoas com registro legal ou clube de tiro também sinalizam para a possibilidade de maior proximidade com o mercado legal, que teve normas de controle flexibilizadas entre 2019 e 2022.
"As pessoas conseguiram comprar calibres que antes não eram acessíveis. Já temos também a maioria de munições sendo de marca nacional, que reflete o crescimento do mercado doméstico. Os policiais apontaram nas conversas para o levantamento que antigamente apreendiam armas e poucas munições, agora, além da quantidade ter aumentado, elas estão mais novas e nas embalagens originais", encerrou Natália Pollachi.
*Com informações do g1ES
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