Mais duas mulheres procuraram delegacias especializadas em Vitória para denunciar que também foram vítimas de violência sexual praticada em um estúdio de tatuagem, na Capital. Elas relataram à polícia que os fatos ocorreram no mesmo estúdio e com o mesmo profissional que já havia sido denunciado no último dia 24 de janeiro por uma jovem de 20 anos, conforme A Gazeta mostrou na última terça-feira (8).
Uma delas é uma profissional da área da saúde, que decidiu fazer a ocorrência policial após ter tido contato com a jovem de 20 anos. Conta que decidiu fazer a cobertura de uma outra tatuagem na parte superior do braço no segundo semestre do ano passado. No estúdio, segundo o relato, o tatuador utilizou o braço dele que estava livre para se apoiar em cima da genitália dela, aproveitando a situação para alisar o local.
A profissional de saúde não conseguiu nem mesmo voltar ao estúdio para fazer os retoques na nova tatuagem. Também não teve coragem de ir a uma delegacia para não ter que relatar o que tinha vivido. “Mas agora, diante do que aconteceu com a outra jovem, decidi fazer a ocorrência e ajudar nas investigações”, conta. Ela fez a ocorrência policial na última quarta-feira (9).
‘ELE ME FEZ TOCAR NELE”, RELATA VÍTIMA
Outra jovem, de 29 anos, que fez a denúncia na última quinta (10), conta que só agora, após ver que outras mulheres também denunciaram, teve coragem de ir a uma delegacia. Ela relata que foi a estúdio fazer uma tatuagem na parte inferior do braço em março do ano passado, sozinha.
“Ele me pediu que fizesse a tatuagem deitada, o que a princípio estranhei por ser no braço. Com o passar do tempo ele começou a pegar a minha mão que estava sendo tatuada e apoiar nas partes íntimas dele, na perna dele. Uma situação incômoda que me deixou paralisada”, relata.
O tatuador também questionou a jovem se ela tinha outras tatuagens nas partes íntimas e pediu para ver, o que ela negou. Constrangida, ela pediu para ir ao banheiro. “Ele pediu para ir ao banheiro comigo, o que recusei”, contou. Quando retornou do banheiro, pensou que ele iria parar.
Ela deixou o local apavorada e constrangida. “Fiquei com medo de denunciar e contar para as outras pessoas. quem acreditaria em mim? Eu estava sozinha no estúdio. Chorei muito e fiquei mal durante muito tempo. Vi comentários nas redes sociais de pessoas criticando a primeira vítima a denunciar, mas sei que ela fala a verdade porque aconteceu o mesmo comigo”, desabafa.
Assim como as outras vítimas, ela desistiu de retornar ao estúdio para fazer a sessão de retoques na tatuagem. “Fiquei com medo de acontecer de novo. Perdi o encanto pela tatuagem que foi desenhada para mim. Hoje olho e fico com vontade de retirar”, relata.
Uma outra mulher, de 37 anos, também procurou a reportagem para contar a sua história. A violência com ela ocorreu há cerca de 3 anos, mas ela não conseguiu fazer a denúncia.
“Lembro de sair do estúdio desesperada, chorando. Minha preocupação era de que ele não tinha deixado marcas, era a minha palavra contra a dele, e a culpa sempre recai sobre a mulher. Só tive coragem de contar para minha mãe e para uma amiga”, diz.
Na primeira vez que foi ao estúdio fazer a tatuagem no ombro, ela estava acompanhada. Mas na sessão para fazer os retoques, estava sozinha. “Quando acabou, ele contou que tinha feito uma tattoo de uma flor nas costas de uma outra mulher e pediu para fazer o desenho nas minhas costas, para eu avaliar”, contou.
Para a realização do desenho, ela precisou levantar a blusa na parte das costas. A imagem percorria as costas, indo até onde estava o cós de sua calça. “Em um determinado momento ele pediu para eu abaixar um pouco o cós da calça para terminar o desenho. Foi rápido. Quando percebi ele tinha enfiado a mão dentro da minha calcinha, me tocando”, relata.
A mulher conta que gritou com o tatuador. “Chamei ele de doente, de louco e fui embora do estúdio. Mas não tive coragem de denunciar por achar que não teria como provar. Quando ouvi os relatos nas redes sociais, vi que outras mulheres vivenciaram o mesmo. Nunca mais tive coragem de entrar em um estúdio de tatuagem”, desabafa.
A primeira denúncia contra o tatuador foi feita no dia 24 de janeiro, por uma jovem de 20 anos que registrou um boletim de ocorrência em que relata que foi vítima de violência sexual no mesmo estúdio de tatuagem, em Vitória. Logo após contar o que ocorreu também em uma rede social, outras mulheres decidiram contar que foram vítimas do mesmo profissional e de outros no Espírito Santo.
A jovem fez a tatuagem na parte superior do braço, no dia 21 de janeiro, uma sexta-feira. No dia ela estava acompanhada de sua mãe, que não pode estar presente na nova data que foi agendada para que fossem feitos retoques, no dia 24. Desta vez, ela foi sozinha.
Conta que dentro do estúdio, ela estava deitada em uma maca e o tatuador se posicionou atrás de sua cabeça. Com a mão direita ele segurava o equipamento para fazer os retoques. Já o braço esquerdo ele colocou sobre o corpo da jovem e pediu que ela colocasse a mão do braço que estava sendo tatuado, em cima da mão dele.
Naquela tarde ela deixou o estúdio desnorteada. “Quando minha mãe chegou em casa, do trabalho, eu contei o que tinha acontecido, chorei muito. Também contei ao meu namorado. E ainda naquela noite decidimos procurar uma delegacia para fazer o registro da ocorrência”, conta.
A jovem relata que se sente destruída. “Psicologicamente você fica destruída. Fiquei bem abalada. A vida da gente muda, a gente fica diferente. A impressão que tenho é de que estou sempre em alerta".
Na postagem, algumas mulheres relataram que tinham vivido a mesma situação, no mesmo estúdio, mas com outro tatuador. “Ele passava a mão no meu corpo. Na época eu era muito burra, Eu guardei para mim…”
Outra relata que a técnica utilizada pelo profissional é de quem vai apoiar o braço e com isto pratica o abuso. “Quando fiz a minha primeira tatuagem na virilha fui abusada com este papo de apoio…”, conta outra.
Conta que outros profissionais em Vitória também utilizam a mesma técnica de abuso. “Eu devia ter uns 19 anos na época e fiz uma tattoo no seio. Ele incentivava a tirar o outro lado e pegava uma coisa gelada e passava no meu mamilo para ele ficar duro”, conta.
E há até os que filmam escondido. “Eu passei por isto, por ser numa parte íntima, ele tava com a câmera em cima”, relata.
O advogado do tatuador e do estúdio, Rodolpho Nascimento Malhame, informou que "o caso segue sob sigilo".
Os nomes das mulheres que fizeram as denúncias estão sendo preservados por serem vítimas de violência. Algumas delas estão sendo representadas pelo advogado Filipe Carlos Maciel Ferreira. Ele informou que está acompanhando com atenção as investigações. "São informações graves e esperamos a conclusão do inquérito em breve", destacou.
O nome do tatuador e do estúdio não estão sendo informados, nesta etapa, em decorrência da fase inicial das investigações da Polícia Civil
Por nota, a Polícia Civil informou que está investigando o caso, sem dar mais detalhes. Não há informações se o tatuador já prestou seu depoimento. Veja a íntegra da nota:
“A Polícia Civil informa que o caso está sob investigação da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Vitória e diligências estão sendo realizadas. Detalhes da investigação não serão divulgados, por enquanto. A Polícia Civil destaca que a população tem um papel importante nas investigações e pode contribuir com informações de forma anônima através do Disque-Denúncia 181, que também possui um site onde é possível anexar imagens e vídeos de ações criminosas, o disquedenuncia181.es.gov.br. O anonimato é garantido e todas as informações fornecidas são investigadas.”
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