Um frentista de 23 anos denunciou um policial militar de 36 que o teria agredido com coronhadas no bairro Jardim Camburi, na Capital, na manhã desta quarta-feira (1º). Na Delegacia Regional de Vitória, ele disse que a agressão aconteceu no início da manhã no posto de combustíveis onde trabalha, na Avenida Norte-Sul. Já o PM, que não estava trabalhando no momento do ocorrido, informou que fez a abordagem ao jovem por achar que ele estaria traficando e apresentou ao delegado de plantão uma pequena quantidade de maconha, que o militar afirma ter apreendido com o trabalhador.
O frentista relatou que havia acabado de chegar para trabalhar quando teria sido agredido pelo militar, sem nenhuma explicação. Disse ainda que foi revistado pelo policial e se sentiu humilhado porque estava em seu local de trabalho.
"Ele chegou sem falar nada. Já me deu uma coronhada na cara, me jogou no chão e disse que eu era traficante e vagabundo e que ele era policial. Ele disse: 'Você vai ver, você vai ver'. Eu todo uniformizado, ele jogou meu colete na água, me fez tirar a botina, me humilhou no serviço. Eu vim trabalhar para levar o pão de cada dia para os meus meninos e o cara faz isso comigo?", lamentou.
Na Delegacia Regional de Vitória, o policial militar apresentou uma pequena quantidade de maconha que teria sido apreendida com o jovem de 23 anos. Por isso, o trabalhador acabou autuado por posse de drogas, mas foi liberado após assinar um termo circunstanciado (TC). Já o PM deixou a unidade da Polícia Civil pela porta da frente no final da tarde e foi levado por policiais em uma viatura para a Corregedoria da Polícia Militar.
Um vídeo obtido pela reportagem mostra parte da abordagem do policial militar ao frentista no posto de combustíveis localizado na Avenida Norte-Sul, em Jardim Camburi. Nas imagens, o frentista já aparece com o ferimento na testa. Veja o vídeo:
Segundo apuração da TV Gazeta, funcionários do posto relataram que o PM teria bebido no local com um amigo por volta das 5h, mas eles teriam se desentendido e o amigo do militar foi embora.
Eles também disseram que foi neste momento que o policial saiu e começou a agredir o frentista. O veículo que seria do policial foi deixado no posto de gasolina e, dentro do carro, havia várias latas de cerveja.
Demandada pela reportagem, a Polícia Civil informou, por nota, que um policial militar de 36 anos e um homem de 23 foram encaminhados à Delegacia Regional de Vitória e, no local, o jovem assinou um termo circunstanciado por posse de drogas para consumo próprio e foi liberado após assumir o compromisso de comparecer em juízo.
"Já contra o policial militar, diante da possibilidade de um crime militar, em razão da função, a Autoridade Policial entregou cópia dos autos à Corregedoria de Polícia Militar para que tomassem as medidas que entendessem cabíveis, tendo o mesmo sido entregue à Corregedoria da Polícia Militar", finalizou a PC.
Representando a defesa do frentista de 23 anos, o advogado Vítor de Oliveira reforça que o rapaz afirma que não estava traficando e nem usando ou portando nenhum tipo de entorpecente. "Pelo policial ter fé pública, até então, o delegado de plantão não pode desconstituir a versão do policial, mesmo com a possibilidade dele estar embriagado no local. Meu cliente foi autuado pelo artigo 28, como usuário de drogas, mas será objeto de análise pela Justiça e Corregedoria", disse.
Responsável pela defesa do militar de 36 anos, o advogado Maxson Luiz disse que seu cliente estava de folga e abordou o frentista porque suspeitou que ele estivesse traficando.
"Ao verificar a atitude suspeita de um dos frentistas, ele decidiu por abordar ele e outro indivíduo. Após abordagem, foi encontrada substância semelhante à maconha com o frentista. O policial solicitou aos populares que acionassem o 190 e solicitassem uma viatura para que o frentista pudesse ser encaminhado a delegacia", detalhou o advogado.
Em relação à agressão, Maxson admitiu que existem relatos de uma suposta coronhada, o que, segundo ele, não foi confirmado. "Pode ser que, devido à abordagem que ocorreu próxima à parede, o individuo pode ter se chocado contra a parede", reiterou.
A Polícia Militar informou, por nota, que uma equipe foi acionada para atender uma ocorrência de lesão corporal no bairro Jardim Camburi, em Vitória, na manhã desta quarta-feira, entre um membro da corporação e o frentista de um posto de gasolina. "No local, o frentista relatou que tinha acabado de chegar para trabalhar quando foi abordado e agredido pelo policial usando uma arma que lesionou seu rosto. Já o militar disse que deu voz de prisão ao frentista, pois havia a suspeita de que ele estivesse comercializando entorpecentes no local. O militar entregou uma bucha de maconha e dez reais, que seriam de propriedade do frentista, aos militares que estavam atendendo a ocorrência. Ambos foram encaminhados para a 1ª Delegacia Regional de Vitória".
Ainda na nota, a PM disse que está acompanhado o caso através da Corregedoria da instituição, que abrirá um Inquérito Policial Militar para apurar o ocorrido. "Cabe ressaltar que o PM segue exercendo suas atividades normalmente até a devida apuração dos fatos, que possui mais de uma versão".
Após a publicação desta reportagem, a Polícia Civil, a Polícia Militar e os advogados que fazem a defesa do frentista de 23 anos e do policial militar de 36 se manifestaram. O texto foi atualizado com as informações.
Em 23 de janeiro de 2020, o frentista Joelcio Rodrigues dos Santos chegou de manhã para trabalhar em um posto de combustível localizado da Praia de Itaparica, em Vila Velha, e foi surpreendido pela presença do policial Clemilson Silva de Freitas – que o esperava e teria voltado ao estabelecimento para tirar satisfações por causa de um atendimento "ruim" prestado na noite anterior.
Segundo a vítima, os xingamentos e as ameaças do sargento começaram depois do pedido para que ele e a mulher descessem da moto para que o abastecimento fosse feito. Ato que é de praxe do local, por motivos de segurança. “No outro dia, assim que bati o ponto, ele veio atrás, perguntou se eu lembrava dele e começou a me bater”, contou Joelcio, na época.
Na mesma semana, o sargento recebeu a primeira de cinco licenças médicas consecutivas. Ao todo, foram praticamente 12 meses de afastamento do trabalho, período no qual recebeu o salário de R$ 6.400 normalmente, conforme previsto em lei. As informações estão disponíveis no Portal da Transparência do Governo do Estado.
Do outro lado da história, o frentista Joelcio Rodrigues da Silva – que é a vítima – precisou mudar de emprego e de casa por medo, em busca de mais segurança. Devido à transferência de posto de trabalho, ele também passou a receber um salário menor. Ele é casado e mora com a mulher e duas filhas pequenas.
Clemilson foi condenado a um ano e cinco meses de prisão. A sentença é do juiz Getulio Marcos Pereira Neves, da vara de auditoria militar de Vitória. O acusado foi condenado por três crimes: lesão corporal leve (Artigo 209), injúria real (Artigo 217) e ameaça (Artigo 223), todos do Código Penal Militar. Foram seis meses de prisão para cada um dos dois primeiros, e mais cinco pelo último.
Para chegar à decisão, o magistrado destacou o laudo do exame de lesão corporal, que constatou ferimentos arroxeados e avermelhados na face da vítima. Além do depoimento de outro funcionário do posto, que presenciou as agressões e ameaças praticadas pelo policial militar.
Apesar da sentença, o juiz Getulio Marcos Pereira Neves concedeu um "benefício de suspensão". Na prática, o policial não precisará ir para um presídio se cumprir as três medidas previstas, que incluem, por exemplo, a proibição de frequentar bares. Desta forma, o militar continua trabalhando normalmente.
Além da Justiça, o PM também foi condenado pela Corregedoria da Polícia Militar do Espírito Santo e recebeu uma sanção disciplinar interna.
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