> >
"Maníaco da Ilha do Boi" é preso por manter idosa em cárcere privado no ES

"Maníaco da Ilha do Boi" é preso por manter idosa em cárcere privado no ES

Condenado a 106 anos de prisão, Antúlio Gomes Pinto estava em liberdade desde 2015. Ele mantinha presa em seu apartamento uma idosa que o ajudava com tarefas domésticas

Publicado em 30 de agosto de 2021 às 18:05

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura
Antúlio Gomes Pinto foi preso em Colatina
Antúlio Gomes Pinto foi preso em Colatina por manter uma idosa em cárcere privado, segundo a polícia. (Heriklis Douglas )

Seis anos após ser solto, Antúlio Gomes Pinto — que ficou conhecido como “maníaco da Ilha do Boi” — foi preso nesta segunda-feira (30) em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo. Segundo a Polícia Civil, ele foi autuado por manter em cárcere privado uma idosa que o ajudava com atividades domésticas. O homem possui um histórico de crimes envolvendo tortura e cárcere privado de mulheres, além de tentativas de assassinato de delegado e juiz, de acordo com condenações na Justiça e relatos do delegado Danilo Bahiense.

Maníaco da Ilha do Boi é preso por manter idosa em cárcere privado no ES

Antúlio e a mulher de 65 anos viviam em um apartamento na cidade. A polícia recebeu denúncias de que a vítima era mantida em cárcere privado e em péssimas condições de moradia. Em entrevista à TV Gazeta Noroeste, a titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança, ao Adolescente e ao Idoso (DPCAI) de Colatina, Jaciely Favoretti, informou que a idosa não recebia nenhum pagamento e não tinha acesso a celular para se comunicar com os familiares.

Os dois viviam no sexto andar do prédio, no Centro de Colatina. O apartamento era dos pais dele, já falecidos. No depoimento, ele negou todas as acusações. Antúlio é dono de uma distribuidora de alimentos na cidade. De acordo com a polícia, em 2019, ele foi indiciado por constrangimento ilegal porque tentou impedir uma mulher de voltar para casa. Mas na época, foi liberado.

Prédio ficava no Centro da cidade
Prédio onde Antúliomorava com a idosa fica no Centro da cidade . (Heriklis Douglas )

Segundo a delegada, quando a polícia chegou à residência encontrou o local em péssimas condições de higiene e de conservação. “Tinha muito lixo, entulhos, fezes de animais e não haviam alimentos adequados”, relatou Jaciely.

A titular da DPCAI explicou que Antúlio Gomes Pinto foi autuado por cárcere privado, violência psicológica e maus-tratos e encaminhado para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Colatina, transportado em uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) por ser cadeirante.

O QUE DIZ A DEFESA

Por telefone, o advogado Felipe Prata Pravato Rangel, que defende Antúlio Gomes Pinto, afirmou para a reportagem que está a caminho de Colatina para tomar conhecimento sobre as denúncias. Ele destacou ainda que a defesa nega as acusações de cárcere privado.

HISTÓRICO DE CRIMES

Antúlio Gomes Pinto ficou conhecido como "maníaco da Ilha do Boi" após torturar — com ferro quente, socos e pancadas — e manter em cárcere privado a esposa e três filhos em um apartamento no bairro de Vitória. No mesmo período, ele fez o mesmo com mais cinco mulheres, sendo que apenas duas conseguiram fugir. Os corpos de outras três nunca foram encontrados.

Os crimes dele vieram à tona  em 2005, quando a esposa dele conseguiu fugir do apartamento onde era mantida em cárcere privado. A jovem, que na época estava com 29 anos, conseguiu escapar por uma janela de um apartamento da Ilha do Boi, onde o casal morava com os três filhos. A vítima revelou à polícia a macabra história vivida por ela na última década e por outras cinco jovens — sendo que duas conseguiram e uma delas foi morar no Japão.

Após as investigações, Antúlio foi acusado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e condenado a mais de 101 anos de prisão pelos crimes de tortura, cárcere privado, maus-tratos, estelionato, lesão corporal e rufianismo — que é viver de aliciamento de mulheres.

Antúlio Gomes Pinto foi condenado por tortura, cárcere privado, maus-tratos, estelionato e lesão corporal
Antúlio Gomes Pinto foi condenado por tortura, cárcere privado, maus-tratos, estelionato e lesão corporal. (Arquivo )

Em janeiro de 2010, ele conseguiu um habeas corpus que o permitiu ir para a prisão domiciliar na casa de parentes, em Colatina. O argumento foi o de que um acidente vascular cerebral (AVC) o havia deixado em uma cadeira de rodas, com parte do corpo paralisado.

Mesmo nessa condição, Antúlio fugiu para Minas Gerais, onde acabou preso em flagrante, em 2013, acusado de manter outra mulher, de 30 anos, com quem teve um filho, à época com 1 ano e meio, em cárcere privado. No local, também foram encontradas três adolescentes trabalhando para ele em condições inadequadas.

Pelos crimes cometidos em Minas Gerais, ele também foi condenado e a pena total, somada à capixaba, totalizou quase 106 anos. No início de 2015, a Justiça lhe concedeu indulto humanitário, com o argumento de que sua saúde estaria precária. Segundo o advogado de Antúlio na ocasião, Lécio Silva Machado, “ele não mexia o corpo do pescoço para baixo”.

Em 2015, matéria especial de A Gazeta mostrou que o homem estava solto novamente
Em 2015, matéria especial de A Gazeta mostrou que o homem estava solto novamente . (Jornal A Gazeta )

PLANEJOU MATAR DELEGADO E JUIZ

Por duas vezes, Antúlio Gomes Pinto tentou matar o delegado Danilo Bahiense, que investigou os crimes por ele cometidos, e o juiz que o condenou. A informação foi revelada pelo próprio Bahiense, ainda em 2015. Atualmente, o delegado ocupa o cargo de deputado estadual.

Segundo relatos da época, as tentativas para matar Danilo Bahiense e o juiz Paulino José Lourenço ocorreram em 2006, logo após o então comerciante de pedras preciosas ser sentenciado pela Justiça, e em 2008. “A última vez, ele já estava na prisão e em uma cadeira de rodas”, contou o delegado.

As informações sobre a primeira tentativa de assassiná-lo, de acordo com Bahiense, foram descobertas pela área de inteligência da polícia. Antúlio teria contratado, por R$ 300 mil, dois pistoleiros paulistas para fazer o serviço.

Os dois contratados chegaram a vir ao Estado e se hospedaram na casa de um traficante em Jacaraípe, na Serra. “Desistiram por não terem recebido e porque matar um delegado e um juiz chamaria a atenção”, contou.

Antúlio Gomes Pinto já foi preso em outras ocasições
Antúlio Gomes Pinto já foi preso em outras ocasições . (Fábio Vincentini/ Arquivo A Gazeta)

Na ocasião, Bahiense acrescentou  que a ex-modelo, mãe dos três filhos de Antúlio, já estava no Programa de Proteção a Testemunhas (Provita). “Ele não a encontrou”.

A segunda tentativa de assassinato ocorreu em 2008, quando Antúlio estava preso e já havia sofrido o AVC que o deixou na cadeira de rodas. Segundo o delegado, nesta ocasião ele contratou um preso que era ex-policial civil e ex-policial militar de outro Estado e estava para deixar a prisão no Espírito Santo.

“Um outro preso nos informou. Colhi depoimentos de todos”, disse Bahiense, informando que toda a documentação foi enviada para o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES). “Havia risco de morte de um juiz e eles precisavam tomar providências”.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

Tags:

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais