A aposentada Daléte Campello, 37, ainda era adolescente quando conheceu o urologista Paulo de Oliveira Cesar, e foi ele quem descobriu que ela era portadora de uma doença renal crônica. Passados 22 anos, a relação já não era apenas de médico e paciente, mas de amizade. "Ele era muito atencioso!", disse, numa referência a Paulo, assassinado com a mulher Raquel Heringer Cesar pelo filho do casal, Guilherme Heringer Cesar, na madrugada desta quarta-feira (4), em Itapuã, Vila Velha. Em seguida, o jovem se matou.
Daléte conta que a necessidade de um acompanhamento permanente com o médico os aproximou, havia um cuidado mútuo, e sempre comentavam sobre a família. Paulo, que também era pastor, falava do casal de filhos com muito amor e, segundo a aposentada, tinha orgulho de ambos. "Da boca dele, nunca ouvi nada que pudesse mostrar que isso fosse acontecer. Ainda não dá para acreditar, a ficha não caiu. Num lar cristão, conhecendo a Palavra de Deus, como pode?"
Devido a sua condição de saúde, Daléte foi orientada a não engravidar quando se casou, mas o urologista era um grande incentivador da adoção para que ela pudesse exercitar o amor de mãe e filho. A aposentada acabou resistindo à ideia porque o problema renal a leva muitas vezes para o hospital, exigindo internações, e ela não queria submeter um filho a essa rotina.
Mas Daléte sabia que era só mais uma forma de Paulo demonstrar o cuidado que tinha por ela, assim como fazia com outros pacientes. A aposentada relembra que o pai de uma inquilina, que havia se deslocado do interior da Bahia e não tinha recursos financeiros, foi tratado pelo urologista sem pagar nada a ele.
A Rede Meridional, para a qual Paulo prestava serviços, manifestou-se em nota valorizando o perfil do profissional. "Com muito pesar, a Rede Meridional recebeu a notícia do falecimento do urologista Paulo de Oliveira Cesar, médico que contribuiu por muitos anos em duas unidades do grupo. Respeitado por todos os colegas, foi um grande profissional e ser humano. Manifestamos nossas condolências a todos os familiares e amigos."
Paulo, de 68 anos, foi encontrado com a esposa Raquel, 61, no apartamento da família em Itapuã, em Vila Velha, na manhã desta quarta-feira. Eles foram mortos a facadas pelo filho Guilherme que, após o crime, ligou para um familiar, contou o que havia acontecido e disse que tiraria a própria vida. Médica residente no Canadá, a irmã do jovem está a caminho do Brasil após ser informada sobre a tragédia.
Relatos dos policiais que realizaram a perícia indicaram que antes do crime houve uma espécie de ritual no apartamento. Em diversos cômodos do imóvel havia o número 666 pintado em vermelho, em alusão à besta do apocalipse. Além disso, cruzes invertidas estavam em paredes e espelhos. Na sala, uma mensagem dizendo que o "diabo desceu até vós e pouco tempo lhe resta".
Nas redes sociais, amigos de Guilherme, que era estudante de Medicina, mostravam-se surpresos com o crime e pediam respeito à memória do jovem e de sua família. Vizinhos do apartamento onde a tragédia ocorreu contaram que a família era tranquila e não demonstrava nenhum comportamento anormal, inclusive o universitário.
Uma pessoa próxima, que pediu para não ser identificada, disse que Guilherme estava passando por sérios distúrbios mentais nesta pandemia e fazia tratamento com profissionais qualificados.
Precisa de ajuda? Está angustiado? Precisando conversar? Acione o Centro de Valorização da Vida (CVV) no número 188. O atendimento é gratuito e você não precisa se identificar.
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