Após semanas marcadas por confrontos armados, tiros e medo, moradores das comunidades do Território do Bem, em Vitória, fizeram um panelaço, na manhã deste domingo (22), contra a violência na região. O ato durou cerca de cinco minutos e contou com faixas nas janelas pedindo paz.
A área compreende os bairros da Penha, Bonfim, São Benedito, Consolação, Gurigica, Itararé e as comunidades do Jaburu, Engenharia e Floresta. A nomenclatura foi criada entre 2006 e 2007 por lideranças comunitárias dessas localidades marcadas pela violência.
Em conversa com a reportagem da TV Gazeta, o padre Kelder Brandão afirmou que o ato decorre da intensificação da violência no território. Na avaliação dele, os últimos conflitos mostram a falência da política pública usada pelo governo do Estado para vencer a criminalidade na localidade.
"Nós estamos aqui sendo devorados pela violência e a gente precisa se manifestar, afugentar do nosso meio esse monstro que está devorando vidas aqui no nosso território e em todas as periferias aqui do Estado. Paz, respeito, fruto de uma construção coletiva onde todas as vozes sejam ouvidas e todos os direitos respeitados é o que queremos para nosso território e outras periferias aqui da Grande Vitória", declarou.
Ainda durante a conversa com a TV Gazeta, o padre criticou a compra de armas israelenses feitas pelo governo do Estado, noticiada pelo colunista Leonel Ximenes, de A Gazeta, e reforçou o pedido para que os militares tenham câmeras instaladas nas fardas, visando a monitorar como ocorrem as ações policiais na localidade.
"Pontuamos a necessidade de termos uma política de segurança mais inclusiva, participativa, e não só focada nesse discurso de guerras e de investimentos em arma de fogo. Inclusive, a gente gostaria muito que o governo do Estado, ao invés de comprar rifles israelenses, comprasse câmeras para colocar nos uniformes dos nossos policiais", afirmou.
"Pedimos que cessem toda e qualquer forma de manifestação de violência aqui no nosso território, porque queremos usufruir do nosso direito de viver e dormir em paz", finalizou Brandão.
A reportagem de A Gazeta questionou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) sobre as demandas feitas pela comunidade, e a pasta se manifestou com um vídeo do próprio secretário Alexandre Ramalho. Ele comentou as ações que são desenvolvidas no Território do Bem para mitigar a violência do tráfico de drogas.
"Colocamos um DPM [Destacamento da Polícia Militar] no topo do São Benedito, a última edificação que fica no morro. Nós colocamos um DPM embaixo no Bairro da Penha. Agora, nós estamos construindo um novo DPM, porque aquele ali [Bairro da Penha] já estava insalubre. Estamos reformando o de São Benedito. Dedicamos efetivo diariamente a esses locais e, durante muito tempo, fomos confrontados por esses mesmos marginais que hoje trazem transtornos a essas comunidades, que é composta por pessoas honestas, dignas e trabalhadoras. Sabemos que momento está difícil", avaliou.
O coronel também indicou a necessidade de medidas que afastem os adolescentes do mundo do crime, com o apoio de políticas públicas. Avaliou, ainda, os índices das saidinhas dos presos em São Paulo, onde está neste final de semana para um evento.
Em nota enviada neste domingo (22), a Sesp destacou ainda a implementação de câmeras nas fardas policiais do Estado. Neste momento, segundo a pasta, o processo se encontra em fase de elaboração de termo de referência, para início da licitação. "A Sesp ainda ressalta que a Polícia Militar do Espírito Santo criou, em junho desse ano, uma Comissão de Implementação das Câmeras Corporais, no sentido de estudar todos os pontos relativos ao uso da tecnologia, como definição do melhor modelo, dos custos de utilização, definição de quais unidades irão usar, entre outros fatores".
Moradores do Morro do Macaco, na região de Tabuazeiro, em Vitória, presenciaram uma noite de tiros na quarta-feira (18), devido a mais um confronto entre grupos rivais do tráfico. Um homem foi baleado. Um dos tiros chegou a quebrar o vidro da janela de uma casa da comunidade. Mais tarde, durante a madrugada, mais disparos: dessa vez entre o bairro da Penha e Itararé.
Segundo o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Douglas Caus, os tiros em Tabuazeiro teriam sido um confronto armado entre facções rivais: o Primeiro Comando de Vitória (PCV) e o Terceiro Comando Puro (TCP).
"Especificamente em Itararé temos uma região de conflito permanente entre PCV e TCP. É uma área que estamos fazendo policiamento na parte baixa e também incursões com forças táticas. Inclusive ontem nós tivemos troca de tiros com nossa força tática com indivíduos armados do PCV que iam dar um ataque na área dominada pelo TCP", declarou Caus.
Só nas últimas duas semanas, em Itararé, um adolescente foi assassinado em frente a uma escola e um homem de 30 anos foi baleado enquanto estava em um churrasquinho no Morro do Macaco.
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