O pequeno Jorge Teixeira da Silva, de dois anos, foi espancado, torturado e estuprado, segundo aponta laudo feito por médicos legistas que examinaram o corpo do menino no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória. Os pais da criança foram presos nesta terça-feira (5) suspeitos de praticarem os crimes.
"Os achados no exame físico, as lesões por queimadura, indicam que houve tortura; as lesões encontradas no abdômen, tanto internas quanto externamente, indicam que houve espancamento. A lesão no reto indica que houve introdução de um objeto no ânus da criança", afirmou o médico legista Josias Rodrigues Westphal, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (6).
O menino foi levado pela mãe, Jeorgia Karolina Teixeira da Silva, de 31 anos, para o Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernadino Alves (Himaba), em Vila Velha, na madrugada de segunda-feira (4). A princípio, a mulher chegou dizendo que ele estava com sintomas de pneumonia. Quando os médicos viram o estado da criança, suspeitaram que ele havia passado por torturas e abusos.
Segundo a Polícia Civil, Jorge chegou ao hospital com a barriga inchada, cheia de líquido. O garoto passou por uma cirurgia de emergência, mas não resistiu: ele estava com uma infecção causada por perfuração intestinal.
"Logo que tomamos conhecimento do falecimento da criança, nós nos dirigimos até o Himaba para fazer a primeira coleta de informações. Em conversa com os colaboradores, eles já demonstraram uma grande estranheza com aquela ocorrência", disse o delegado Alan Moreno de Andrade, adjunto da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha.
O corpo do menino foi levado ao DML e logo nos primeiros exames já foi possível identificar as violências. "Já nos exames físicos externos, a gente encontrou muitas lesões bem sugestivas de maus tratos. Lesões por queimadura, algumas equimoses (hematomas) devido a traumas por pancada. No decorrer do exame, abrindo as cavidades e olhando dentro do abdômen, a gente encontrou outras lesões que corroboravam essa hipótese, além do ânus da criança completamente dilacerado", detalhou o médico Josias. Segundo a polícia, tudo indica que as queimaduras teriam sido provocadas por cigarro.
De acordo com o legista, não dá para saber como a criança apanhou. "Só dá para falar que ele foi agredido. Já a laceração foi no ânus, no reto e no canal anal. A laceração foi devido à introdução de um objeto dentro do ânus. Pode ter sido o pênis do agressor, um objeto qualquer ou pode ter sido as duas coisas", explicou.
Após constatar as agressões, a polícia coletou material do menino e encaminhou para análise. Os resultados devem sair em até 15 dias. "Caso dê positivo em um desses exames, confirmará a presença de sêmen no canal anal, que confirma a introdução do pênis", disse Josias.
Se a presença de sêmen for confirmada, o material vai passar por exame de DNA, para identificar quem teria violentado a criança.
"A causa mortis foi devido o choque séptico por uma infecção no abdômen. A gente chama de peritonite. O que teria causado a infecção foi a presença de fezes na cavidade abdominal", ressaltou o médico. Ou seja: o intestino da criança foi perfurado pelo objeto introduzido, e as fezes vazaram para a região do abdômen.
O médico explicou que, analisando as marcas de agressões, é possível dizer que elas tenham acontecido no prazo de 24 a 36 horas antes da morte do menino, o que bate com as investigações iniciais da polícia, que dizem apontam que as torturas teriam acontecido entre a noite de domingo (3) e a madrugada de segunda-feira (4).
Outro fato que chamou a atenção da polícia foi a frieza demonstrada pelos pais após receberem a notícia da morte de Jorge. "Geralmente, quando falamos de um falecimento de uma criança, os pais estão em prantos, acabados emocionalmente. Segundo nos relataram, não foi essa a questão", disse o delegado.
Maycon e Jeorgia Karolina foram autuados pelos crimes de estupro de vulnerável com resultado em morte e tortura. Os dois já deram entrada no sistema prisional e, na tarde desta quarta-feira, a Justiça decidiu pela transformação do flagrante em prisão preventiva.
Jeorgia Karolina e o marido, Maycon Milagre da Cruz, de 35 anos, negaram todas as acusações. Em depoimento, eles disseram que não sabiam como as lesões do filho haviam acontecido.
"Eles negam veementemente que tenham praticado as lesões. Afirmam que no domingo à noite a criança dormiu com um pequeno machucado na virilha, e no outro dia acordou da forma que acordou. As investigações vão continuar. Não podemos descartar participação de outras pessoas. Quem vai dizer para nós o que aconteceu naquele quarto, de domingo para segunda-feira, são os dois pais presos. Só que eles não falam. Porque só eles estavam na residência", ressaltou o delegado.
Um dia após a prisão dos pais de Jorge Teixeira da Silva, principais suspeitos do crime, a defesa de Jeorgia Teixeira da Silva se pronunciou sobre o caso, afirmando que ela "não tem nenhum envolvimento com a morte do filho".
Em nota enviada nesta quinta-feira (7), a defesa considerou que houve "erro na conclusão das investigações, que foram conduzidas de forma açodada e irresponsável".
Em contato com a reportagem de A Gazeta, os advogados Carlos Bermudes e Lucas Kaiser informaram que estão defendendo apenas a mãe da criança, sem envolvimento com a defesa de Maycon Milagre da Cruz.
Segundo a nota, a mãe está interessada em saber o que aconteceu com a criança. "A Jeorgia não pode ser julgada e muito menos condenada, antes que todo o processo seja concluído. Os equívocos encontrados serão esclarecidos e temos plena convicção de que iremos provar a inocência dela quanto a morte da criança."
A reportagem de A Gazeta não localizou o responsável pela defesa de Maycon, mas reforça que este espaço está aberto, caso a parte queira se manifestar sobre o assunto.
Após a publicação desta matéria, a defesa de Jeorgia enviou uma nota sobre o caso, afirmando que a mãe da criança é inocente. O texto foi atualizado.
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