O inquérito que apurava a morte do jovem Weliton Silva Dias, de 24 anos, no dia 2 de abril de 2022, na Grande São Pedro, após disparos efetuados por um policial militar, foi concluído. O relatório apontou indícios de crime de natureza militar e transgressão da disciplina. A informação foi confirmada em primeira mão na manhã desta terça-feira (7) por A Gazeta.
Conforme consta no boletim de ocorrência, os policiais envolvidos nessa ação foram identificados como cabo Sandro Frigini — que teria atirado no Weliton — e o soldado Victor Fagundes de Oliveira. Eles estão afastados das ruas e de funções administrativas na corporação. A reportagem de A Gazeta entrou em contato com a defesa dos citados e aguarda um retorno.
A corporação ressaltou que o inquérito “foi concluído dentro do prazo previsto em Lei e o relatório apontou indícios de crime de natureza militar e transgressão da disciplina por parte dos policiais militares que atuaram na ocorrência”.
No dia seguinte ao crime, o secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, coronel Márcio Celante Weolffel, falou sobre o ocorrido no bairro São José. Celante destacou que as investigações seriam concluídas em 60 dias e os militares afastados cautelarmente.
“Nós determinamos ao comandante-geral da Polícia Militar a instauração do inquérito policial militar para averiguação e investigação de todas as circunstâncias do fato ocorrido na data de ontem, também o recolhimento das armas dos policiais militares para que faça parte das apurações e o afastamento preventivo cautelar dos policiais militares das atividades operacionais, para que no prazo de 60 dias nós tenhamos a conclusão dessas investigações”, afirmou à época.
Agora, o inquérito será encaminhado à Justiça e a Polícia Militar irá instaurar Procedimento Administrativo, para julgar a conduta disciplinar dos policiais militares, que seguem afastados das atividades policiais.
Presidente da Associação dos Cabos e Soldados (ACS), o cabo Eugênio afirmou que os militares continuam sendo assistidos e ressaltou que eles possuem "excelente prestação de serviços à sociedade". "Nós acreditamos na absolvição dos policiais e iremos representá-los até as últimas instâncias", disse.
"Temos ciência de que as imagens são fortes, porém mostram que o militar agiu abarcado por excludentes legislativas, uma vez que o indivíduo (jovem morto) tentou pegar a metralhadora que estava na bandoleira", argumentou, reforçando o posicionamento já defendido pela associação anteriormente.
Weliton da Silva Dias, de 24 anos, foi morto na Rua Quatro de Janeiro, conhecida como Beco da Sorte, na Grande São Pedro, em Vitória, no dia 2 de abril de 2022.
Companheira de Weliton há nove anos, uma manicure que preferiu não ser identificada, contou à reportagem que existe um ponto comercial que vende bebidas no Beco da Sorte e que ele estaria no local, aguardando a saída dela do trabalho, para irem jantar e ficar juntos do filho de 6 anos.
Já o irmão da vítima, que também pediu para não ser identificado, disse que "quando ele [Weliton] entrou no beco, o policial foi atrás” e, ao levantar a camisa e as mãos, o policial, atirou. O boletim de ocorrência descreve que o patrulhamento estava na Rua Apóstolo São Paulo, um "local de intenso tráfico de entorpecentes e crimes contra a vida", quando um indivíduo foi avistado portando "armamento em bandoleira".
Naquele momento, o suspeito teria ido em direção a um beco. No acompanhamento, um dos policiais, identificado como Sandro Frigini, "visualizou o indivíduo fazendo movimento que levava a crer que atiraria contra o militar" e, para se proteger, efetuou dois disparos. "Como o indivíduo caiu no chão, foi possível se aproximar do agressor de modo a recolher o armamento que estava em posse dele".
Nessa hora, o boletim diz que o policial "percebeu que a arma estava em bandoleira, sendo necessário cortá-la para retirar a arma do infrator". O registro traz dois momentos em que o militar teria percebido que o suspeito estava armado e usando uma bandoleira: uma no início da abordagem e outra depois dos disparos.
O socorro ao Weliton Dias da Silva também teria sido prestado por um "grupo de pessoas", levando-o ao Pronto Atendimento de São Pedro. De acordo com a família, Weliton não tinha envolvimento com o tráfico de drogas, mas chegou a ficar preso em 2019. "Ficou nove meses injustamente atrás das grades. Os policiais nunca apareciam nas audiências e o processo acabou arquivado", garantiu a companheira.
A Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), por sua vez, informou, à época, que ele tem oito passagens pela polícia, entre os anos de 2012 e 2019. Entre os crimes estão: porte ilegal de arma de fogo, ameaça, desacato ou resistência à ação policial e tráfico de entorpecentes.
Presidente da Associação de Cabos e Soldados (ACS), o cabo Eugênio defendeu a inocência dos policiais e afirmou que a ACS irá prestar auxílio jurídico a eles até as últimas instâncias. O texto foi atualizado.
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