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Morto em ação da PM em Colatina era vistoriador de veículos

Morto em ação da PM em Colatina era vistoriador de veículos

Pai questiona abordagem policial na qual foram disparados mais de 40 tiros contra o carro do filho

Publicado em 2 de fevereiro de 2025 às 11:34

Ícone - Tempo de Leitura 6min de leitura
Reviravolta: jovem foi morto a tiros durante abordagem da PM em Colatina
Local onde tiros foram disparados. Em destaque, Danilo, que morreu baleado. (Montagem A Gazeta )

Atualização

A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou que os policiais foram afastados e que a Corregedoria da PM vai investigar o caso, com acompanhamento do Ministério Público. Veja aqui mais detalhes

O jovem morto a tiros na noite de sexta-feira (31) durante ação policial no bairro Aeroporto, em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, foi identificado como Danilo Lipaus Matos, de 20 anos. No sábado (1º), a corporação informou que a morte ocorreu após um confronto. Josenildo Monteiro Matos acredita que o filho possa ter desobedecido à ordem de parada dada pelos policiais por medo de perder a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e questiona a quantidade de tiros efetuados — 44 disparos, segundo boletim da PM.

“Meu filho era maravilhoso. Um menino trabalhador, muito bem-educado, que estava para iniciar a faculdade dele de radiologia na segunda-feira. Estava alegre, feliz, só sabia trabalhar e ir para casa. Meu filho saiu para se divertir com os amigos, e eu fiquei sabendo no outro dia (sábado de manhã) que haviam matado meu filho. Não tiveram nem a coragem de me avisar”, disse o pai do jovem, chorando.

Reviravolta: jovem foi morto a tiros durante abordagem da PM em Colatina
Danilo Lipaus Matos, de 20 anos. (Arquivo da família)

“Eu acredito que ele ficou com medo na hora em que mandaram ele parar, talvez por medo de perder a habilitação, não sei. Cercaram o meu filho e efetuaram mais de 40 tiros. Não tinha nada no carro dele, não encontraram nada com ele. Acabaram com a minha vida e com a vida da minha filha. A gente fica revoltado, e eu quero que a lei de Deus e a lei da Justiça aqui da terra prevaleçam. Por que não atiraram nos pneus do carro? Como você atira essa quantidade de tiros em um menino com o carro parado?”, desabafou o pai. 

Versão da Polícia Militar 

O boletim com a versão dos PMs relata que o carro Fiat Strada, dirigido por Danilo, estava em fuga após ignorar uma ordem de parada dada pelos policiais. No documento, os militares afirmam que foram informados via rádio por uma sargento da corporação de que os ocupantes "poderiam ser indivíduos que estavam em fuga em uma caminhonete roubada, desceram por um matagal e possivelmente teriam roubado a Fiat Strada". Um soldado teria comunicado que uma pessoa que estava no banco do passageiro do veículo estaria portando uma arma.

Reviravolta: jovem foi morto a tiros durante abordagem da PM em Colatina
Local onde carro foi atingido por tiros. (Leitor A Gazeta )

A ocorrência feita pelos policiais diz que 'um homem de estatura forte havia feito muitos disparos na Rua Castelo Branco próximo ao Sanear, tiros ouvidos pelos militares'. E segue descrevendo que "diante de todo o contexto remetendo a confronto armado e fuga por várias ruas" os policiais avistaram o carro Fiat Strada na Rua Ângelo Morozoni, no bairro São Braz, em Colatina. Os PMs dizem no boletim que emitiram "sinais sonoros e luminosos" para que o motorista parasse, mas as ordens não teriam sido acolhidas, dando sequência à perseguição já iniciada por outras viaturas.

O boletim informa que "em virtude de todo o cenário criado" durante a perseguição, com base nas comunicações via rádio, o sargento Renan Pessimílio e o soldado Eduardo Nardi Ferrari desceram da viatura e atiraram contra o carro Fiat Strada, pois, segundo eles, o motorista do veículo "avançou com o carro na direção dos militares".

Segundo o boletim de ocorrência, ao todo, 44 tiros foram efetuados contra o veículo: 15 disparos pelo sargento Renan Pessimílio, 15 pelo soldado Eduardo Nardi Ferrari, 12 pelo cabo Rodrigo de Jesus Oliveira e dois pelo soldado Ramon Lucas Rodrigues Souza.

Reviravolta: jovem foi morto a tiros durante abordagem da PM em Colatina
Veículo de Danilo no local dos tiros. (Leitor A Gazeta )

Os PMs informaram na ocorrência que, após a sequência de tiros, Danilo, que dirigia a Fiat Strada, abriu a porta do carro e caiu na calçada da rua, "não sendo mais movimentado". Alegam ainda que, com o jovem já morto, realizaram uma "busca ligeira no banco do carona e na parte de baixo, necessitando retirar os objetos que ali estavam" e que "o restante do local foi todo preservado, apenas com atuação da equipe do Samu/192", que confirmou a morte de Danilo no local. A Carteira Nacional de Habilitação (CNH) do jovem foi encontrada na capa do telefone dele, menciona a ocorrência.  Um outro celular teria sido encontrado debaixo do tapete do veículo no lado do carona. Armas não foram encontradas. E o veículo pertencia a Danilo. Não era roubado. 

“O carro era dele. Eu dei o carro para ele. Estava no nome dele. Não tinha nenhuma restrição. Em 2013, eu comprei ele, usava na empresa em que trabalhava e depois comprei da empresa. Esse carro sempre esteve com a gente. Eu quero justiça porque sei que meu filho não vai voltar mais, mas buscando justiça, vou ajudar a evitar que outros pais sintam a dor que estou sentindo agora”, relatou o pai.

"Muitos tiros", diz moradora

Uma moradora da rua onde ocorreu o crime conversou com A Gazeta e relatou: "Foi aqui na minha rua. Eles (os policiais) não deixaram a gente nem chegar perto da calçada porque tinha muita polícia. Quem tentava sair para ver, eles mandavam todo mundo voltar para dentro de casa. Então, a gente não podia nem tirar foto, não podia fazer nada. Mas foram muitos tiros, muitos mesmo", disse.

Reviravolta: jovem foi morto a tiros durante abordagem da PM em Colatina
Danilo Lipaus Matos, de 20 anos. (Acervo pessoal )

"Executaram meu filho"

“Um colega me ligou e perguntou o que tinha acontecido com ele. Eu saí imediatamente, sem saber para que lado ir, sem rumo. E aí me informaram que ele tinha levado um monte de tiros. Eles executaram o meu filho como se fosse um animal acuado no canto. Nenhuma autoridade de Colatina me procurou para dizer: ‘Você é o pai do Danilo? Aconteceu isso com ele’. Ninguém me procurou. Meu filho era um doce de pessoa, e não é por que sou pai, mas ele não era problemático. Meu menino morreu de graça. E eu quero justiça”, disse o pai.

“É inexplicável o que fizeram com o meu filho. Não tem explicação. Após o carro parar, deram um monte de tiros no meu filho. Tiraram a vida de um menino inocente. Talvez ele só quisesse fugir de uma bronca minha, porque sempre fui correto com ele. Acho que o medo dele era que eu descobrisse que ele tinha sido pego pela polícia e tivesse que ir lá buscar ele, entende? Ele não queria me entristecer. Infelizmente, essas pessoas que tiraram a vida do meu filho não sabem o quanto dói”, desabafou.

“Fui à funerária comprar algo que eu nunca quis e que nenhum pai deveria ter que fazer: escolher um caixão para seu filho. A pior coisa do mundo não é escolher uma bermuda ou um tênis para ele. Fui lá escolher o caixão do meu filho", finalizou aos prantos.

O corpo de Danilo Lipaus Matos foi velado na comunidade Nossa Senhora de Guadalupe, no bairro 15 de Outubro, em Colatina, e foi sepultado neste domingo. Em nota, a Igreja Católica Nossa Senhora de Guadalupe lamentou o caso e afirmou que a comunidade, como uma família, perdeu um “filho”.

A Polícia Civil confirmou que a ocorrência foi entregue na Delegacia Regional de Colatina, que vai investigar o crime. A Secretaria de Estado da Segurança Pública informou que os policiais foram afastados e que a Corregedoria da PM vai investigar. 

"Foi determinada a instauração de inquérito policial militar pela Corregedoria da Polícia Militar e o afastamento das atividades operacionais de todos os policiais envolvidos na ação, além da investigação rigorosa pelas Polícias Civil e Científica, com acompanhamento direto do Ministério Público em todas as apurações. O Governo do Estado destaca que preza pela atuação técnica das polícias e uso seletivo e progressivo da força e, caso fique constatada irregularidade na ocorrência, as medidas cabíveis serão tomadas em todas as esferas", destacou a secretaria.

O Ministério Público do Estado do Espírito Santo informou que lamenta o ocorrido e manifesta solidariedade à família da vítima. "O MPES acompanha o caso de perto e aguarda o recebimento da documentação necessária para análise detalhada, a fim de adotar as medidas cabíveis perante a Justiça".

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