Um homem vestido como entregador de comida por aplicativo foi preso após assaltar duas mulheres e efetuar disparos contra a polícia durante a fuga no bairro Nova Palestina, em Vitória, na noite desta terça-feira (1). No momento da detenção, policiais disseram que moradores ficaram revoltados e apedrejaram a equipe, que disparou tiros de borracha para controlar a situação.
O fato aconteceu por volta das 22h na Rodovia Serafim Derenzi, no bairro São Pedro. Segundo informações da Polícia Militar, policiais viram duas mulheres conversando com um motociclista, que estava com uma mochila de entrega de comida por aplicativo. De repente, segundo a PM, uma das mulheres correu até a viatura gritando e dizendo que estava sendo assaltada pelo motociclista e que ele estava armado.
Ainda de acordo com a Polícia Militar, neste momento o motociclista teria fugido em alta velocidade e teve início a perseguição por parte dos policiais. O homem, segundo a PM, saiu da rodovia e entrou pelas ruas do bairro Nova Palestina. Segundo a polícia, o homem atirou nos agentes, que revidaram. Ele levou um tiro na perna. Na altura da Rua Padre Gabriel, o suspeito perdeu o controle da moto e caiu.
Os policiais contaram que, mesmo ferido pelo tiro na perna, o homem tentou subir de volta na moto para fugir, mas foi contido pelos militares. O boletim ao qual a reportagem da TV Gazeta teve acesso diz que, durante o momento em que o homem era algemado, vários moradores se revoltaram, xingaram e jogaram pedras nos policiais. Os militares contaram que a confusão só acabou quando eles dispararam tiros de borracha.
O homem de 26 anos foi levado para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência, onde ficou sob escolta da polícia. Já nesta quarta-feira (2), a Polícia Civil informou que o homem, identificado como Isaque Resende Araújo, foi autuado em flagrante pelo crime de tentativa de homicídio contra os policiais militares e foi encaminhado para o Centro de Triagem de Viana.
Com o homem preso foi encontrado, além da mochila de entregador, uma máquina de cartão de crédito. Mas a polícia não confirmou se o homem era um motoboy ou se estava se passando por um entregador para fazer roubos.
Atualização: A Justiça concedeu, nesta quinta-feira (3), liberdade ao entregador de lanches Isaque Rezende Araújo. O motoboy passou por uma audiência de custódia e ganhou liberdade provisória. A família e os amigos estão revoltados com a versão dada pela polícia para a prisão do entregador.
Revoltada, a esposa do motoboy, Rayna Silva, que está grávida de seis meses e administra com Isaque uma lanchonete, disse à TV Gazeta em entrevista concedida nesta quinta-feira que a versão contada pelos policiais não se sustenta. No Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), o antigo São Lucas, na Capital, ela conversou com o companheiro antes dele ser detido e ouviu a versão dele para o caso.
"Recuso tudo (versão da polícia) e quero que eles provem a arma. Se tinha quatro PMs na viatura, por que eles não deram conta da arma? Não tinha como quatro policiais perderem a arma. A filmagem mostra ele passando em uma rua estreita. Ele (o motoboy) iria jogar a arma onde? Ele parou a moto em um local movimentado, pois vai saber o que poderiam fazer com meu marido", contou a jovem.
Além de Rayna, familiares e amigos do motoboy também postaram nas redes sociais pedidos por justiça. Eles também querem que os fatos sejam esclarecidos.
A mulher contou que o marido havia saído do estabelecimento deles para fazer quatro entregas. Após cerca de uma hora, ela estranhou o fato de Isaque não ter retornado. Pouco depois, ela foi até uma unidade de saúde do bairro e no local soube que o esposo havia sido baleado e preso. Isaque contou a esposa que houve um mal-entendido, que acabou gerando a perseguição.
Rayna disse que o marido não assaltou as mulheres, como na versão dada pela polícia. "Ele me falou que parou para pedir uma informação e as moças pensaram que ele estava assaltando elas. Depois ele ligou a moto e saiu, mas logo em seguida passou uma viatura, foi quando começaram a ir atrás dele. Não deram ordem de parada, não ligaram a sirene e começaram a atirar. Foi aí que ele parou a moto, começou a apanhar dos policiais e os moradores se revoltaram", contou Rayna.
A moto usada por Isaque no trabalho já foi devolvida à família. Na versão da PM, Isaque teria caído com a motocicleta, mas segundo a esposa do entregador, a Honda Biz não apresenta marcas de quedas, como arranhões. O que há, segundo ela, são marcas de tiro, na carenagem dianteira, além de sangue do próprio motoboy.
O advogado Siderson Vitor, que representa Isaque Rezende Araújo, pediu relaxamento da prisão do motoboy e representou na Corregedoria contra os policiais militares que participaram da ocorrência.
"A polícia alega que houve troca de tiros. Não é verdade porque não existe uma arma do crime. Não é verdade porque não foi pedido, na Polícia Civil, um exame de pólvora na mão do meu cliente. Segundo, se houve um assalto, não estão presentes as vítimas nem as coisas que teriam sido roubadas. Então não houve assalto seguido de perseguição, o que ocorreu foi a polícia atirando para cima de um trabalhador. Atiraram primeiro e perguntaram depois", conta o advogado.
Precisando tocar sozinha o negócio que mantém com o marido, Rayna espera que tudo seja esclarecido. Ela ainda contou que Isaque nunca teve passagem pela polícia.
"Eu poderia ter perdido meu marido e estar agora velando o corpo dele por uma imprudência da polícia por falta de comunicação na abordagem. Eles poderiam ter parado e revistado meu marido. Não teve roubo, não teve nada. Só quero justiça", enfatizou.
Nesta quinta-feira, após ser procurada, a Polícia Militar informou à TV Gazeta que abrirá um procedimento apuratório para investigar a denúncia e também a conduta dos policiais envolvidos na ocorrência envolvendo o entregador.
Moradores de Nova Palestina reclamam que ladrões estão usando motos para roubar as pessoas na rua. Principalmente mulheres. Para a reportagem, uma comerciante, que não quis se identificar, contou que uma amiga foi agredida por bandidos durante um assalto.
Pegaram ela, bateram nela, e ela estava sem nada. Ontem a mesma coisa, estão fazendo arrastão nos pontos de ônibus, nas ruas, disse.
Com informações de Daniela Carla, da TV Gazeta
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